Sábado, 20 Abril 2024

Devorando o colonialismo

Devorando o colonialismo

“Devorações tem dois significados: o de comer e o de destruir. Por três dias nós comemos verdades e destruímos verdades”, diz a artista Castiel Vitorino sobre a imersão realizada em junho e que se materializa e finaliza nesta sexta-feira (26), 19h, com o lançamento de um livro com 33 co-autores e colaboradores. “Devorações – Descolonizando corpos, desejos e escritas” será apresentado no Museu Capixaba do Negro (Mucane) junto com uma roda de conversa com presença do co-autores da obra que promete trazer reflexões e desnaturalizações sobre gêneros, sexos e raças. Ao todo compõem o livro 33 co-autores e colaboradores, a grande maioria do Espírito Santo.


“O objetivo é sobreviver, continuar sobrevivendo, e dar uma resposta às matanças das pessoas subalternizadas, negras, LGBT, indígenas e outras”, diz Castiel, coordenadora da publicação. Outro objetivo é criar uma coletividade que possa garantir a produção de vida e de diferença e a criação de estratégias de sobrevivência para esses corpos dissidentes, que não se encaixam nos padrões e normas hegemônicos – e opressivos- da sociedade em que vivemos. Textos, fotos, colagens, afronte, deboche, tudo faz parte da obra.


A imersão que gerou o conteúdo do livro contou com presença de “pessoas subalternizadas e desumanizadas na nação brasileira como negros, LGBTs, mulheres e mais pessoas que tivessem a coragem de compor um grupo com a gente”, como explica Castiel.



Durante os dias de atividade foram realizadas diversas oficinas como Escrita Criativa, Cartas ao Feminino, Elaboração Monstruosa de Imagens pela Técnica de Colagem e Psicologia Corporal. Sobre esta última, Castiel explica: “Pensamos modos de descolonizar nossos prazeres e desejos, assim ativamos no corpo outras áreas de prazer para desestabilizar esse corpo que se resume a órgãos genitais, tentando também pensar que nosso corpo não tem que ser só violentado, não só ter a experiência do adoecimento, mas também o deleite, a saúde, o gozo, a felicidade”.



Outra oficina tratou sobre a produção de livros artesanais para instrumentalizar os participantes a poderem produzir o próprio livro sem depender de editoras ou editais.


O resultado são 12 capítulos e 96 páginas com linguagem diversa, bastante ilustrada, e com textos que vão desde uma linguagem acadêmica até escritos de pessoas que não passaram pela universidade. “O nome devorações surge a partir de estudos de caráter antropológico e histórico sobre o processo de colonização do Brasil, no qual alguns grupos de pessoas foram desumanizadas e animalizadas, algo que dura até hoje na sociedade, que ainda discrimina corpos negros, indígenas, LGBTs. Imaginamos pessoas animalizadas devorando tudo aquilo que nos violente de alguma forma”.


A expectativa é que o livro possa desestabilizar e produzir um desconforto em pessoas que veem o processo desde a subjetividade colonial. Mas a preocupação é menos com esse outro e mais com o “nós”, os corpos dissidentes. “Queremos produzir acima de tudo deleite. Que as pessoas dissidentes se reconheçam minimamente no livro e se sintam acolhidas”. A preocupação é menos com os agressores do que com os parceiros de movimentos e luta, que sabem a dor e a delícia de colocar esses corpos diariamente nas ruas.


A ilustração de capa, feita por Kika Carvalho, traz o tom quente avermelhado que remete tanto à violência como ao prazer, duas questões que perpassam a obra. Os corpos subalternizados buscando a liberdade pela descolonização dos afetos e sentires. “No desenho não se sabe se é uma transa, uma matança ou um ritual antropofágico, prazeres e violências se misturas numa experiência pela descolonização”, diz Castiel.


Outra meta, mais burocrática e objetiva, é distribuir o material para bibliotecas e outros espaços educacionais de forma a garantir uma leitura e narrativa ética sobre esses corpos subalternizados nas entidades de ensino e aprendizagem. “Faremos outros lançamentos, incluindo espaços não institucionalizados, como bares e festas, para fazer com que o livro possa circular o máximo possível e contribua para a destruição desse arranjo social e colonial”.


Na ocasião do lançamento, o livro estará à venda. Também será disponibilizado para download na internet.

 


AGENDA CULTURAL


Lançamento do livro “Devorações – Descolonizando corpos, desejos e escritas”


Quando: Sexta-feira, 26 de outubro, 19h


Onde: Museu Capixaba do Negro – Veronia da Pas (Mucane)- Avenida República, 121- Centro de Vitória/ES.

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