Sexta, 03 Mai 2024

Escritora de Pancas estreia com livro que conta 'causos' de pistolagem

Escritora de Pancas estreia com livro que conta 'causos' de pistolagem
A princípio Bento parece ser o protagonista da história de pistolagem e garimpo do livro Opala Negra (2013), de Marília Carreiro.  Mas o moço de origem humilde, que herda a fazenda do pai distante, é apenas um narrador. Bento é cauteloso, dócil e se deixa levar pelo destino. Ele se limita a narrar, com traços de onisciência, a vida do pistoleiro Justino e de todos aqueles que o cercam. 
 
Já no começo do livro vem um alerta ao leitor: nem tudo é ficção em Opala Negra. O livro é inspirado em causos recorrentes no noroeste do Espírito Santo e parte de Minas Gerais por volta de 1960. A história começa quando Bento herda a fazenda e junto com ela ganha uma família, o caseiro Antônio, sua mulher Dona Ana e seus filhos “adotam” Bento, que por ser órfão logo se afeiçoa a todos. 
 
Bento não entendia nada de terra e aprendeu tudo com Antonio, mas o que realmente lhe interessava era o garimpo. Bento tinha sonhos que eram ‘confirmados’ por boatos de que naquelas terras havia uma grande pedra preciosa, “que causaria discórdia entre muitos e ganância em quem soubesse de seu achamento.”
 
 Com a linguagem próxima à fala das ‘gentes do interior’, a escritora vai contando sua história com malemolência. A narrativa chega a dar pistas de que uma grande tragédia irá acontecer e te deixa ansioso por uma reviravolta, mas a história segue linear até o final. 
 
Para encontrar a incrível pedra valiosa, Bento segue o conselho de seus sonhos e faz uma viagem ao norte, viagem na qual conheceu o pistoleiro Justino no meio do caminho. Justino é o oposto de Bento, impulsivo e firme, mas sempre muito correto, mata apenas os corruptos e os traidores. Apesar de seguir a risca sua lista de mortes encomendadas, seu verdadeiro alvo é o pistoleiro que assassinou seu irmão mais novo. Enquanto Bento vê em Justino o irmão protetor que nunca teve, Justino vê em Bento seu frágil irmão que morreu, e assim a amizade e a cumplicidade entre eles é instantânea. 
 
Justino leva Bento a uma cerimônia espírita, nela o fazendeiro revê o espírito da mulher de seus sonhos que reforça a profecia de que há pedras preciosas naquelas terras. A sorte anda sempre ao lado de Bento, por acaso ele acha duas das grandes pedras, a segunda bem maior que a primeira, e assim ansiava pela terceira, a maior de todas. 
 
Mas nem só de fazenda, pistolagem e pedras preciosas vivem esses homens. A diversão deles era o Brasília. A casa dos prazeres merecia um capítulo a parte, dedicado a todas as suas damas avançadíssimas para a época, que prefiriam a liberdade e as festas à vida submissa de uma dona de casa. O nome do lugar é uma homenagem a capital do Brasil, que na época dos acontecimentos estava sendo construída e era sinônimo de progresso. 
 
A segunda parte do livro trata do encontro de Justino com o assassino de seu irmão e revela toda a verdade desse crime, bem mais complicado do que se imaginara. No final, os desentendimentos são esclarecidos e resolvidos.  
 
Mesmo com uma família feliz e uma vida confortável, Bento nunca se satisfaz com as pedras que tem e, como todo bom garimpeiro, seu desejo continua sendo encontrar a pedra que é maior que todas as outras. Mas a opala negra – que na verdade é colorida – talvez não esteja ao alcance dos homens.
 
Marília Carreiro nasceu em Pancas e Opala Negra é primeira obra publicada da escritora, que é uma das idealizadoras da editora Pedregulho, que, apesar de recém-criada, já tem muitos projetos para a valorização da literatura produzida no Espírito Santo. Em 2012, Marília foi premiada com o Edital de literatura da Secult, pelo livro AmorS e outros contos (ainda a ser publicado). Além disso, mantém atualizado o blog RasgoVerbus
 
Serviço
Opala Negra 
Marília Carreiro
Editora Pedregulho
108 páginas
R$ 14 em média

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