Mostra inaugura nessa sexta-feira na Mosaico Fotogaleria, com seleção de 24 fotografias

A Mosaico Fotogaleria abre suas portas nesta sexta-feira (26), às 19h, para a inauguração da exposição Sombra do Tempo, que reúne 24 fotografias em preto e branco registradas entre as décadas de 1940 e 1960 por Pedro Fonseca, mineiro que se radicou em Vitória na década de 1940 e se tornou referência para a fotografia capixaba e brasileira.
As imagens exploram contrastes de luz e sombra, geometrias arquitetônicas e detalhes que revelam a passagem do tempo. Para Bruno Zorzal, que assina a curadoria junto com Gabriel Lordello, o valor dessa produção está na dupla dimensão de testemunho histórico e criação estética. “É um valor histórico e estético ao mesmo tempo. Fonseca cria uma imagem muito rica, tanto pelos assuntos como pela expressão artística”, ressalta.
Zorzal destaca que Pedro Fonseca soube captar um período de rápidas transformações urbanísticas, sociais, políticas e econômicas e sociais. “Ele fotografava o Espírito Santo em um período de muitas mudanças, de grandes aterros e projetos que transformaram profundamente a cidade. Em fotos dos anos 1940, vemos bairros humildes, partes do Parque Moscoso e da Ilha de Santa Maria. Já em registros posteriores, percebemos que essas comunidades foram removidas, substituídas pelo avanço dos aterros e das obras de modernização”.
A seleção das obras busca mostrar a diversidade de olhares do fotógrafo, que permitem perceber a tensão entre diferentes realidades. “Ele fotografava tanto pessoas da alta sociedade quanto carregadores do porto, meninos que vendiam jornal nas ruas ou pessoas em situação de rua. Ao mesmo tempo em que acompanhava a visita de Getúlio Vargas, registrava o cotidiano popular com a mesma desenvoltura”, analisa.

O trabalho de Pedro Fonseca é também um retrato do desenvolvimento da fotografia no Espírito Santo, em um contexto em que passava a integrar debates estéticos e culturais. “Ele estava antenado com a fotografia moderna brasileira que se desenvolvia desde os anos 1930 e 40, inspirada em fotoclubes como o Bandeirante, de São Paulo. Essa corrente aproximou a fotografia das artes e Pedro Fonseca soube explorar isso com muita habilidade”, afirma.
Cortes ousados, ângulos inusitados e um domínio singular do contraste entre luz e sombra marcam sua produção, detalha o curador. “Ele não hesitava em subir num prédio, colocar a câmera no chão ou aparecer numa janela se julgasse que ali havia um bom ponto de vista. Isso resultava em imagens de grande riqueza artística”.
A luz tropical, intensa e de sombras marcadas, era um desafio que Fonseca transformava em recurso estético. “É algo que impressionava Rogério Medeiros, guardião do acervo de Fonseca, e que também influenciou seu próprio trabalho. Ele dizia que Fonseca era o fotógrafo das sombras e das luzes. Saber lidar com essa luz forte, que não é fácil, era uma marca dele”, ressalta.
Para Zorzal, a riqueza dessa articulação entre estética e história faz de Pedro Fonseca um fotógrafo único em seu tempo, no Espírito Santo. “As imagens nos fazem pensar não apenas no que foi fotografado, mas na fotografia em si, no que ela nos proporciona como forma de conhecimento”, reforça.
Legado
Pedro Fonseca (1911–1971) transitou pelo fotojornalismo e pelos retratos, registros sociais, paisagens e ensaios artísticos. Mineiro de nascimento, consolidou sua trajetória em Vitória, onde participou do movimento fotoclubista e ajudou a fundar, em 1946, o Fotoclube do Espírito Santo. Foi premiado em salões no Brasil e no exterior e integrou o seleto grupo de fotógrafos convidados a registrar a inauguração de Brasília pelo Cerimonial da Presidência da República.
Após sua morte precoce, em 1971, deixou um acervo vasto, cuja preservação se deve em grande parte ao jornalista e fotógrafo Rogério Medeiros, fundador de Século Diário. “Graças ao Rogério, que se tornou o guardião desse material, temos hoje acesso a essas imagens. Foi ele quem herdou e conservou o acervo, garantindo que esse trabalho pudesse chegar às novas gerações”, destaca Zorzal.
A exposição, realizada com recursos do Funcultura e da Política Nacional Aldir Blanc, do Ministério da Cultura, busca justamente dar continuidade a essa memória. “É importante mostrar esse material, porque cada foto abre espaço para novas descobertas. Durante a abertura, esperamos conversar com o público, ouvir memórias de quem conviveu com Pedro Fonseca e provocar reflexões sobre a cidade e a fotografia”, afirma o curador.
A mostra pode ser visitada gratuitamente até o dia 25 de novembro, na Mosaico Fotogaleria, em Mata da Praia, Vitória. As visitas devem ser agendadas pelo WhatsApp (27) 99943-0831 ou pelo e-mail [email protected]
Serviço
Exposição Sombra do Tempo – Pedro Fonseca
Curadoria: Bruno Zorzal e Gabriel Lordello
Abertura: sexta-feira, 26 de setembro, às 19h – entrada franca
Visitação: até 25 de novembro
Local: Mosaico Fotogaleria – Rua Aristóbulo Barbosa Leão, 500, Loja 18, Shopping Victória Mall, Mata da Praia, Vitória, ES
Agendamento: WhatsApp (27) 99943-0831 ou e-mail [email protected]