Sexta, 26 Abril 2024

Fantasmas do passado

Fantasmas do passado

 

 
Sozinha após a morte da avó, Carla tem finalmente a oportunidade de desvendar as mentiras e omissões do seu passado e parte em busca de sua história e de seu pai. A jovem se depara com a verdade e descobre um passado ligado à violência e os abusos de um período obscuro do seu país, a ditadura militar. 
 
A peça teatral A Filha da Anistia, que conta a história da personagem Clara, lida com as memórias de uma época que as novas gerações não viveram, mas precisam conhecer. “Existem lacunas enormes na história oficial sobre o golpe de 1964 que precisam ser preenchidas para que o horror não caia no esquecimento e seja repetido”, explica Alexandre Piccini, um dos escritores da peça. 
 
A história desse passado de repressão conseguiu ser escondido durante muitos anos, mas está vindo à tona agora com a criação da Comissão Nacional da Verdade, que visa investigar violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988 e punir aqueles que são acusados de tortura e assassinato. A busca pela verdade também está presente em projetos artísticos como filmes, livros e documentários que revelam cada vez mais relatos daqueles que sofreram durante os anos de chumbo.
 
A Filha da Anistia é um desses projetos, que, além retratar o drama das vítimas da ditadura, também mostra a influência do regime na sociedade contemporânea. “A ditadura foi a causa de uma série de problemas atuais, como a sucateamento da educação e da segurança pública, além da censura e a dívida externa que reverberam até hoje”, comenta Alexandre.
 
A ideia do enredo surgiu quando Carolina Rodriques, que escreveu a peça junto com Alexandre, assistiu ao espetáculo Lembrar é Resistir. Ela trouxe o assunto da ditadura para a Companhia Caros Amigos e começou a pesquisa para a concepção de A Filha da Anistia. “O tema vai ao encontro da filosofia da companhia, que tem como princípio desenvolver histórias que visam compreender melhor o homem contemporâneo”, explica Alexandre.
 
A pesquisa envolveu muita leitura, conhecimento da produção artística da época e entrevistas com pessoas que viveram durante esse período da história. A Cia visitou o Memorial da Resistência em São Paulo, onde entrou em contato com O Núcleo de Preservação da Memória Política, uma entidade que defende os interesses dos ex-prisioneiros políticos e perseguidos durante a ditadura militar. 
 
Apesar da dupla de escritores não ter nenhum parente ligado a esse período, a vontade de fazer a peça veio pela indignação de 20 anos de perseguições, prisões, torturas e desaparecimentos forçados de opositores políticos. O foco do espetáculo é a geração que sofreu indiretamente essa violência e pretende assim despertar a curiosidade do público jovem. “Nós, os autores da peça, somos dessa geração e nos sentimos na obrigação de provocar um olhar mais crítico sobre a história recente do país, sobretudo nas gerações posteriores à Lei de Anistia”, diz Alexandre.
 
“É preciso conhecer o passado para compreender o presente e construir o futuro”, completa. Para o escritor, só é possível almejar mudanças conhecendo o passado para que os mesmos erros não sejam cometidos. A Filha da Anistia está circulando pelo país com o apoio do projeto Marcas da Memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que incentiva diversos projetos culturais para ajudar a colocar esse assunto sempre em pauta.
 
Serviço
A Filha da Anistia será apresentada nesta segunda (20), às 20h, e terça-feira (21), às 10h e às 16h, no Teatro do Sesi. Av. Tupinambás, 240, Jardim da Penha, Vitória. Informações: (27) 3334-7323. A entrada é franca para todas as apresentações.

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