Sexta, 29 Março 2024

Grupo Arteé estreia primeira peça online no Espírito Santo

peca_coletivo_artee_divulgacao Divulgação

Uma peça escrita pelo filósofo francês Jean-Paul Sartre é um dos primeiros experimentos webteatro no Espírito Santo, ao menos durante a pandemia. A iniciativa é do Coletivo Arteé, que adaptou para uma linguagem online a peça Huis Clos (Entre Quatro Paredes), que ganhou o nome de Huis Clos Pandémie na nova versão. A obra estreou de forma virtual no dia 18 de julho e realizará apresentações nos próximos dois sábados,1 e 8 de agosto, sempre às 20h.

O texto é de 1944, ainda durante a Segunda Guerra Mundial quando a França estava ocupada pelos nazistas e depois que Sartre saiu de um período na prisão. A ideia de confinamento, hoje tão atual diante da pandemia do novo coronavírus, se faz presente na obra, em que se contracenam três desconhecidos, um jornalista, uma socialite e uma funcionária dos correios, que se encontram numa sala de onde não conseguem sair. Também há um hostess que o recebe nessa sala e um personagem surpresa, mencionado no original e inserido na versão capixaba. Na adaptação, os mesmos personagens encontram-se aprisionados diante de uma tela digital, que nunca desliga. Alguém se identificou?

A peça explora a máxima de Sartre: "O inferno são os outros", lema da filosofia do existencialismo. "A peça fala dos relacionamentos humanos. Até quando sou livre para fazer o que quiser? Até quando encontro o outro que também tem sua liberdade e nossas liberdades podem entrar em conflito", explica Vanessa Frisso, diretora de Huis Clos Pandémie.

Por incrível que pareça, o início da montagem da peça começou antes do início da pandemia, sem que se imaginasse que poderíamos hoje viver essa situação. A partir de um grupo de professores e alunos da Escola de Atores de Vitória, que haviam montado o espetáculo O Biombo e decidiram criar em dezembro de 2019 o Coletivo Artée, dando um salto para uma produção de âmbito profissional.

Visualização das primeira apresentação da peça, que conta com três personagens principais, um hostess e uma personagem surpresa. Foto: Divulgação

O baque do início do período de isolamento social para o grupo durou pouco. Logo decidiram seguir trabalhando os textos e iniciar ensaios online, cada um em sua casa, na expectativa de apresentá-lo quando se pudesse retomar as atividades culturais. Porém, o tempo de isolamento previsto se expandiu. A diretora Vanessa, antes cética sobre a possibilidade de realizar apresentações online, logo se tornou uma entusiasta. O grupo partiu então para uma pesquisa tanto de plataformas como de linguagens dentro da ideia do webteatro ou teleteatro.

"A gente tem uma grande vantagem de que já vinha numa construção de trabalho juntos e de contar com um grupo muito bacana e comprometido. Então a construção se deu de forma de certo ponto tranquila", aponta Vanessa Frisso. A tecnologia foi um desafio resolvido a partir de pesquisas em meio à adaptação do texto para o meio digital. A plataforma usada para a apresentação do espetáculo online será o Zoom, com link disponibilizado pelo site Sympla, onde se realiza a venda dos ingressos.

Vanessa explica que cada ator acaba sendo também técnico de seu próprio cenário, que é a casa de cada um, tendo que ajustar luz e outros detalhes. Ao estar online, a peça também está suscetível a problemas técnicos, como a queda de sinal. Para isso vale o bom e velho jogo de cintura, usando o improviso caso necessário, assim como numa peça presencial quando há um problema técnico.

Com duração de 90 minutos, a peça será sucedida por um bate-papo com atores e equipe de produção. Nas primeiras apresentações, uma novidade foi a possibilidade de expandir para um público de várias localidades. Além do Espírito Santo, o grupo registrou presença de espectadores de estados como São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul e até de outros países como Itália e Austrália. "É curioso porque na Austrália eram 11 horas da manhã de domingo", comenta Vanessa sobre a peça que estava sendo encenada no Brasil na noite de sábado.

Embora, o formato digital tenha sido fruto da conjuntura, Vanessa Frisso acredita que o modelo online veio para ficar e deve implicar na construção de uma nova linguagem teatral.

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