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João Bananeira leva resistência socioambiental capixaba à Amazônia

Personagem da cultura de Cariacica participa de ação na Cúpula dos Povos

Instituto Social Capixaba

Um personagem icônico da cultura capixaba atravessa o país para levar à Amazônia uma história de resistência cultural e socioambiental. João Bananeira, também chamado Zé Bananeira pelos mestres mais velhos do Congo, participará do lançamento do documentário Pedal contra o Porto Central durante a Cúpula dos Povos, evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que começa nesta segunda-feira (10) e prossegue até o próximo dia 21, em Belém, no Pará.

O personagem surgiu há mais de 150 anos, como resposta ao racismo, à escravização e à exclusão social, como lembra o técnico ambiental e coordenador do Instituto Social Capixaba, Paulo Henrique de Oliveira, que assina a produção do documentário dirigido por Brenon Lírio. A tradição oral conta que Bananeira era discriminado, impedido de participar de festas e eventos promovidos pela sociedade branca, e teve que se travestir para brincar no Carnaval de Máscaras, aponta o ativista, que afirma a função contemporânea assumida por essa representação, ao denunciar ameaças à cultura, ao meio ambiente e às comunidades tradicionais.

“Ele não é apenas um bobo alegre de corte, é um brincante que carrega a identidade cultural do município de Cariacica e o simbolismo da luta negra, indígena e quilombola”, destaca. Paulo Henrique aponta que João, ou Zé Bananeira, é patrimônio do Carnaval de Congo em Roda D’Água, território remanescente de quilombo no município de Cariacica, e se mantém vivo para perpetuar a cultura do Congo, da capoeira, do artesanato e da produção de banana. “Mas ele também alerta sobre os impactos de grandes empreendimentos ligados à mineração, ao petróleo e à celulose, que ameaçam tanto a cultura quanto o ecossistema”, completa.

Para o ambientalista, João Bananeira, que permanece em Belém até o dia 16, atuará em defesa do território e dos povos tradicionais marginalizados frente a projetos de grande escala no espaço autônomo da Cúpula dos Povos, construído por movimentos sociais, redes e organizações da sociedade civil, com objetivo de fortalecer a unidade das agendas socioambiental, antirracista, antipatriarcal e anticolonialista, em busca de um “futuro de bem-viver”, como diz a carta política do movimento.

A crítica evidencia a intersecção entre espiritualidade, cultura e luta socioambiental, também representada na edição deste ano do filme Pedal contra o Porto Central, que aborda os impactos do empreendimento e complexos industriais associados, que provocam a degradação da Mata Atlântica, a contaminação de nascentes e rios, e riscos a comunidades quilombolas, indígenas e periféricas.

Entre as empresas criticadas pelo grupo que participa da ação política documentada no filme estão a que provocam danos há décadas no Estado, como a Vale, ArcelorMittal, Suzano, Petrobras e o Porto Central S.A., e ainda a Shell, BP (British Petroleum), Petrocity, Bunker One e Terminal Industrial de Líquidos (TIL) e Port of Rotterdam.

A produção registra a mobilização do grupo, que percorreu mais de 180 quilômetros de bicicleta, saindo de Cariacica e culminando em um protesto que reuniu entidades e movimentos sociais em Presidente Kennedy, no extremo sul do Estado, durante a Festa de Nossa Senhora das Neves, uma das mais antigas manifestações religiosas capixabas, no santuário ameaçado pela instalação do porto.

Instituto Social Capixaba

O projeto prevê a construção de um complexo industrial às margens do oceano, em uma área que abriga tradições culturais e territórios ecologicamente sensíveis, formados por restingas, manguezais e Mata Atlântica. O local da igreja de Nossa Senhora das Neves está sob ameaça de transformar em ilha em meio ao estacionamento de caminhões que será construído e das estruturas para estocagem de tonéis de até 20 metros de altura. A estrada de acesso ao santuário será substituída por um canal portuário.

O ato marcou a sétima edição do Pedal pela Vida, iniciado em 2008 e impulsionado pela urgência de denunciar os impactos causados pela exploração de petróleo, gás natural e monoculturas de eucalipto no litoral norte do Estado. Na primeira edição, um grupo percorreu de Cariacica até Riacho Doce, na divisa entre Conceição da Barra, no norte do Estado, e a Bahia, estabelecendo contato com comunidades tradicionais, pescadores, aldeias indígenas e quilombolas.

Paulo Henrique descreve como as atividades de mineração, a indústria de celulose, a produção de automóveis e o petróleo concentram riqueza nas mãos de poucos enquanto seus impactos se propagam em cadeia, provocando a crise climática que afeta a sociobiodiversidade, economias locais e a qualidade de vida de comunidades inteiras.

“A presença de João Bananeira se soma às vozes dos indígenas, quilombolas, mulheres, jovens, comunidades tradicionais, ambientalistas, trabalhadores e artistas para debater soluções urgentes diante da crise climática, conectando a luta cultural local às discussões globais sobre justiça climática e direitos humanos, e denunciando as falsas soluções e práticas predatórias de corporações transnacionais”, enfatiza.

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