Evento neste fim de semana reúne povos Tupinikim e Guarani em Aracruz
A aldeia de Caieiras Velha, em Aracruz, norte do Estado, recebe entre esta sexta-feira (19) e domingo (21), mais uma edição dos Jogos Tradicionais Indígenas, evento que reúne modalidades esportivas ancestrais, apresentações culturais, debates e atividades comunitárias protagonizadas pelos povos Tupinikim e Guarani.
Em um contexto marcado por ameaças aos direitos indígenas e impactos socioambientais dos grandes empreendimentos instalados dentro ou no entorno do território, o secretário da Associação Indígena Tupinikim e Guarani (AITG), Jocelino Ka’arondara, conhecido como Jocelino Tupinikim, observa que o encontro, consolidado no calendário cultural do município, tem se estabelecido como instrumento de valorização cultural, fortalecimento da juventude indígena e consciência coletiva, e mobilização política.
Com o lema “Um grito por justiça climática que ecoa da resistência dos povos da Mata Atlântica aos manguezais”, a quarta edição dos Jogos ocorre em um momento de resistência das comunidades, dialogando diretamente com temas a retomada da tese do Marco Temporal e a luta por reparação pelos danos causados pelo crime da Samarco/Vale-BHP, ocorrido há dez anos, cujos efeitos ainda atingem comunidades indígenas do Espírito Santo.
São sete modalidades esportivas tradicionais: zarabatana ao alvo, arco e flecha, arremesso de lança, seta ao alvo, cabo de força, corrida com tora e luta corporal, além de atividades recreativas, como o bodoque ao alvo. As competições acontecem ao longo do sábado e do domingo, com etapas eliminatórias e finais, reunindo participantes de diferentes aldeias.

No dia de abertura do evento, a programação inclui desfile das delegações indígenas, apresentações demonstrativas das modalidades esportivas, atrações musicais, Feira da Biodiversidade e Artesanato Indígena, espaço de valorização da produção cultural e econômica das comunidades, e o II Fórum dos Jogos Tradicionais Indígenas, que debate a importância dos Jogos na manutenção da cultura ancestral dos povos originários do Espírito Santo.
No sábado (20), após o café da manhã coletivo, ocorrem as competições e atividades culturais ao longo do dia, com destaque para o Desfile de Moda Ancestral e debates temáticos sobre justiça climática. O encerramento, no domingo (21), conta com as finais das modalidades esportivas e a apresentação teatral Corpo Território: como demarcar histórias; que aborda memória, identidade e luta territorial.
Jocelino Tupinikim explica que os Jogos são resultado de um processo contínuo de mobilização comunitária que se estende ao longo de todo o ano, com forte participação da juventude indígena, que tem atuado nas aldeias por meio do coletivo Taba Oiepengatu, promovendo treinamentos, mobilizações nas escolas e articulação com lideranças.
“Esse trabalho acontece dentro das comunidades, com chamamento da juventude, diálogo com estudantes e coordenação com os grupos tradicionais. É um processo coletivo, que fortalece os vínculos entre as aldeias e garante que os Jogos sejam construídos por quem vive o território”, reforça.
A história dos Jogos remonta a 2012, quando as modalidades eram apresentadas de forma demonstrativa durante festas comunitárias, como estratégia de entretenimento e valorização cultural. O evento começou a ser realizado no formato atual a partir de 2018, quando um projeto elaborado por lideranças indígenas, em parceria com o Instituto Cocar, foi aprovado em edital da Secretaria de Cultura do Estado (Secult), viabilizando a realização de uma edição estruturada dos Jogos.
“Naquele momento, o recurso era limitado, mas conseguimos realizar os Jogos e ampliar a circulação cultural no território, com participação de parentes de outros povos, como os Pataxó, além de atividades formativas e históricas”, relembra Jocelino.
Ele aponta que a atividade se fortaleceu com a Lei 11461/2021, de autoria da deputada estadual Iriny Lopes (PT), que reconhece os Jogos Tradicionais dos Povos Indígenas Tupinikim e Guarani do Estado, prevendo sua realização a cada dois anos, e jogos locais em cada aldeia nos anos em que a competição geral não acontece.
Desde então, a meta tem sido aproximar um público maior a cada edição, incentivar uma cultura de respeito e aproximação entre o povos indígenas e não indígenas, fortalecer os laços comunitários entre as aldeias e valorizar e afirmar a identidade dos povos indígenas. É um espaço de encontro, empoderamento e luta”, resume.

“Hoje, os Jogos têm respaldo legal, mas nosso objetivo é avançar para que isso se transforme em uma política pública permanente, com orçamento garantido e continuidade”, defende o representante da associação, que pretende alternar edições municipais e estaduais, ampliando o alcance e a participação das comunidades.
Outro ponto central é a inserção dos Jogos no ambiente escolar. A Associação Indígena Tupinikim e Guarani defende que as modalidades tradicionais sejam incorporadas a programas educacionais, como os Jogos na Rede, no Estado, e o Joema, no município. “As modalidades dialogam com esportes olímpicos, como o arco e flecha, que é olímpico, o arremesso de lança, semelhante ao dardo, e a luta corporal, que tem relação com o judô. Isso abre caminhos para formação esportiva e também para o alto rendimento”, destaca Jocelino.
Programação
Sexta-feira (19/12)
15h – Abertura da Feira da Biodiversidade e Artesanato Indígena e realização do II Fórum dos Jogos Tradicionais Indígenas: “A importância dos Jogos Tradicionais Indígenas na manutenção da cultura ancestral do povos originários do Espírito Santo”
18h – Abertura da Noite Cultural
19h – Exibição de vídeos dos jogos anteriores
19h30 – Desfile das delegações indígenas e desfile dos grupos tradicionais indígenas
20h30 – Fala das autoridades
21h – Apresentações demonstrativas de modalidades
21h30 – Apresentações e cantos tradicionais e declaração de abertura oficial dos Jogos Tradicionais Indígenas de Aracruz
22h – Show musical
0h30 – Show musical
2h30 – Encerramento
Sábado (20/12)
9h – Café da manhã coletivo
9h30 – Apresentações culturais
10h20 – Abertura das competições:
- Zarabatana ao alvo
- Seta ao alvo
12h – Intervalo
13h30 – Competições:
- Arremesso de lança
- Arco e flecha
15h30 – Apresentações culturais
16h10 – Competições:
- Cabo de força
- Corrida com tora
- Luta corporal
18h – Abordagem temática: “Um grito por justiça climática que ecoa da resistência dos povos da Mata Atlântica aos manguezais”
19h – Desfile de Moda Ancestral
21h – Show musical
23h30 – Show musical
1h30 – Show musical
3h30 – Encerramento
Domingo (13/12)
10h – Atividade recreativa com bodoque ao alvo
11h30 – Almoço coletivo e bingo
13h30 – Finais das competições:
- Zarabatana ao alvo
- Seta ao alvo
- Arremesso de lança
- Arco e flecha
- Cabo de força
- Corrida com tora
- Luta corporal
18h – Apresentação teatral: Corpo território: como demarcar histórias
19h – Encerramento do evento

