Sábado, 04 Mai 2024

Lords of Chaos: a sangrenta história do metal satânico underground - parte XIII

mayhem_facebook Redes Socais
Redes Socais

Segundo Varg Vikernes, em relação à queima de igrejas, Euronymous (Oysten) era apenas um falador. Tirava onda de que "nós" queimamos outra igreja etc., e na verdade "seu único crime que eu sei que ele já cometeu foi um roubo, um arrombamento de uma igreja". E o que o Conde Grishnackh (Varg) falava, segundo o próprio, Oystein (Euronymous) repetia para a repercussão geral na cena black metal da Noruega. Portanto, para Varg Vikernes, "Ele era falador, e a gente zoava sobre ele ser a 'boca de Grishnackh'.

Quando perguntado sobre os outros da cena, se eles antipatizavam com Oystein, Varg diz: "O Darkthrone percebeu o babaca que ele era. Eles não queriam nenhuma relação com ele. O Fenriz gostava do Oystein, mas os outros caras odiavam ele. Com toda a certeza. Eles amaldiçoavam ele em rituais - eles eram satanistas". A razão deste ódio, segundo Varg, era a de que Oystein passava uma imagem falsa de si mesmo, que mentia e que era um parasita. E Varg conclui: "E também, ele era meio lapão, um sámi, então isso era um bônus. Bastardo!".

Além disso, Varg alega a desonestidade de Oystein, que se aproveitava das pessoas, e no caso de Varg: "Eu recebi encomendas de pré-venda pro miniálbum Aske, e como eu estava na prisão na época eu só repassei as encomendas pra ele, pra ele poder cuidar delas. Ele só pegou todo o dinheiro e não enviou sequer um único álbum".

Varg admite que estava de saco cheio de Oystein, que ele ligava querendo ir para Bergen, se podia ficar na casa de Varg, e ele recusava. Mas o motivo da morte de Oystein, e que Varg irá repetir sempre é que ele matou Oystein (Euronymous) porque este tentou matá-lo. E que antes do acontecimento Oystein já tinha falado disso com Samoth (Emperor) e pra algumas pessoas, sendo que uma dessas pessoas ligou para Varg o avisando de que Oystein planejava matá-lo.

O que aconteceu depois é que Varg foi até a casa de Oystein às três da manhã e, segundo Varg, Oystein entrou em pânico e o atacou. Deu um chute no seu peito, e Varg o empurrou no chão. Então Oystein correu pra pegar uma faca na cozinha. Aí Varg sacou a sua própria faca. Antes que Oystein conseguisse pegar uma faca, levou uma facada de Varg. Aí Oystein tentou ir a seu quarto para pegar uma espingarda, a arma que o Dead tinha usado para se suicidar. De repente, Oystein correu para fora e começou a gritar por socorro e tocar as campainhas dos vizinhos. Aí Varg foi e o matou.

Varg também alegou que ficou sabendo de um plano de Oystein de que este planejava atirar em Varg, usar sua arma de choque nele, amarrá-lo e torturá-lo até a morte. Varg então disse que ao invés de fugir, decidiu ir até a casa de Oystein. Por outro lado, Varg afirma que não planejou a morte de Oystein, que tudo aconteceu naquele momento.

Na entrevista em Lords Of Chaos, contudo, o entrevistador é categórico quanto ao que rolava: "A história 'oficial' é que você planejou o assassinato - criando um álibi ao alugar um filme que você supostamente tinha assistido naquela noite em Bergen, pedindo para um amigo fazer um saque em um caixa eletrônico com seu cartão enquanto você estivesse em Oslo, e por aí vai, pra parecer que você nunca tinha saído de Bergen".

Varg nega, de diz que portava luvas militares de tiro no bolso, e que se fosse o caso de premeditar algo, com certeza, teria calçado as luvas. Ele insiste, então, mais uma vez, que ele reagiu a um ataque de Oystein e que, portanto, não teria como ter planejado o assassinato dele. Varg disse que a condenação está errada. E que os vizinhos mentem dizendo que foram dadas vinte e três ou vinte e quatro facadas. Varg, segundo o próprio, correu atrás de Oystein, dando quatro ou cinco facadas. A primeira foi no peito. E como Oystein tentava fugir o tempo todo, também levou facada pelas costas.

Segundo Varg, a seguir: "Ele quebrou uma lâmpada na escadaria durante a perseguição e caiu de costas nos cacos de vidro, o que é claro, causou várias feridas, que eles disseram ter sido cortes de faca. Ele também estava com pedaços de vidro na sola do pé, porque ele caiu e se levantou em seguida. A autópsia foi uma merda. Eles disseram que ele morreu de hemorragia. A verdade é que ele morreu por causa de uma facada na cabeça. Ele morreu instantaneamente. Bam! Ele estava morto. Direto no crânio. Eu inclusive tive que puxar a faca pra fora. Ela ficou presa no crânio e eu tive que forçar ela pra tirar, ele estava preso nela - e aí ele rolou escada abaixo. Eu acertei ele direto no crânio, e os olhos dele fizeram boing! E ele estava morto."

Segundo testemunho, contudo, e que municiou a versão oficial, é a de que Varg teve dois cúmplices e que o assassinato de Aarseth foi premeditado. Os cúmplices, por sua vez, foram Snorre Westvold Ruch, de 21 anos, também conhecido como "Blackthorne", membro da banda de Bard Eithun, Thorns. Este foi até Oslo com Varg. E o outro, um amigo de Bergen, ficou por lá, para que fosse feito o álibi. Na pressa, contudo, Varg entregou o cartão errado, e o tal saque não pode ser realizado. Em Oslo, também, Varg levava um contrato que liberaria o material do Burzum do selo de Aarseth, DSP. A entrega do contrato também significava para Varg que ele nunca mais precisaria manter contato com Oystein.

Varg diz que só foi preso pelo fato de ter sido delatado. Varg diz: "A primeira coisa que aconteceu foi que eu fui preso depois que um cara me caguetou, Snorre. Ele é um zé-ninguém, um perdedor. Um cara doente e frágil. (...) É claro que na hora que um cara morre, aí todo mundo diz que era amigo dele. Ninguém conhecia o Dead, ninguém tinha nem ouvido falar dele, mas depois que ele morreu ele vira legal. Isso é típico.

Aí eles começaram a prender outros, porque uma vadia idiota da Romênia, uma suposta sueca chamada Ilsa, confessou que o Bard tinha matado um cara, exatamente o que ele tinha contado para ela. Ele foi preso. É claro que eles não tinham provas, mas ele admitiu tudo. (...) Aí a coisa chegou no próximo cara, e no próximo cara, até que tudo foi revelado. É típico, esse pessoal sem importância acha que pode se tornar importante assim, caguetando uns aos outros. Então eles fizeram isso. E é claro que eu era o grande vilão".

A versão de Snorre é outra, a tese dele é a seguinte: "Uma coisa é que ele tinha inveja do Bard, porque o Bard havia matado um homem. Varg não tinha feito isso. Varg dizia que o que o Bard tinha feito não era tão legal, mas dentro da cena as ações do Bard impunham respeito. "O Bard só matou um viado idiota, não é nada para se gabar", o Vikernes pensava. Se gabar por ter matado alguém é uma coisa bem extrema de se fazer. O Conde dizia que matar alguém não era nada demais". E se perguntou a Snorre se havia outra razão, no que ele respondeu: "E também era que ele não gostava muito do Oystein. Mas os boatos de ter acontecido por ele ser comunista ou homossexual não tem nada a ver."

No livro Lords of Chaos, a conclusão sobre a entrevista de Snorre, como de sua figura como um todo é bem crítica. Aqui o livro sustenta que o que Snorre contou no tribunal, numa posição ambivalente na participação do crime de Varg são cobertos por comentários questionáveis na entrevista dada. A partir de sua observação do assassinato, pode se constatar essa impressão, pois, em suas palavras: "eu não era nem a favor, nem contra. Eu não me importava com o Oystein, eu não tinha nada a ver com ele".

Mais uma vez aqui Snorre se contradiz, pois ele havia se juntado ao Mayhem como um segundo guitarrista pouco tempo antes do assassinato. Portanto, fica difícil aceitar a tese de que Snorre não deu a mínima para o assassinato do fundador da banda onde ele estava, ficando mais difícil ainda ao se saber a posição do Mayhem no underground. Snorre, segundo o livro, tinha também um histórico de problemas mentais, podendo ser que fosse "obtuso demais para entender exatamente no que ele estava se envolvendo".

Por sua vez, quando se pergunta de Snorre, se ele morava em Bergen, Varg responde: "Ele estava morando no meu apartamento por um tempo. Ele era um amigo em comum nosso; o melhor amigo de Oystein - meu pior amigo! Mas eu não estou culpando os outros, porque eu que sou burro de ter socializado com uns idiotas desses. Eu devia ser muito burro pra não perceber que esses caras eram só uns perdedores. A única burrice que eu fiz e a única coisa que eu me arrependo, é de não ter matado (Snorre) também. Se eu tivesse matado ele também, minha pena não aumentaria caso eu fosse pego e, em segundo lugar, eu não teria sido pego. É disso que eu me arrependo".

Em seguida, tem a entrevista de Hellhammer, e vem a pergunta: "O guitarrista do Mayhem se envolveu diretamente no assassinato de Euronymous? R: O Varg e o Blackthorn estavam morando em Bergen, a umas sete horas de carro de Oslo. O plano era que eles iriam matá-lo. Então ele participou do assassinato, mas ele não esfaqueou ele, só ficou em pé vendo". Segue-se a pergunta: "Você não parece muito abalado com isso. R: Não. Você não era próximo ao Euronymous? R: Bom, eu gostava muito dele, mas o fato de ele ser comunista me ofendia. O Euronymous queria ser a pessoa mais extrema, e ele achava que o comunismo era muito extremo, com as coisas da Rússia soviética, sabe? Mas depois de um tempo, uns anos, ele descobriu que o comunismo era uma merda. Ele percebeu isso e passou a se dizer fascista, mas eu não sei. Ele era um comunista, infelizmente".

Aqui se revela a fácil adesão ideológica de membros do "inner circle", evidenciando o fato de que quando houve tais eventos na Noruega, a cena era dominada por músicos ainda bastante jovens. A suscetibilidade do ego de Varg, o seu empreendimento de reduzir moralmente a figura de Euronymous, após a sua condenação (o que vem a calhar, pois, querendo ou não, Oystein tinha sido importante para toda a cena que surgira na Noruega), tudo pode cair numa caricatura deste tipo de necessidade de pertencer a um grupo, próprio da juventude. E neste caso, tudo culminou numa espécie de competição macabra para ver quem era o mais "malvadão", chegando ao ponto de uma eleição suposta de Bard Eithun, para depois toda a cena norueguesa sucumbir ao escândalo do assassinato de Euronymous, envolvendo outra figura da cena, Varg Vikernes.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Blog : http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

Veja mais notícias sobre Cultura.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sábado, 04 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/