Domingo, 28 Abril 2024

Ocupação do Centro pela população periférica

jhonconceito_daniandolphi_FotoDivulgacao Divulgação

Aos pés do morro da Fonte Grande, na rua Graciano Neves, está localizado o mais novo espaço cultural do Centro de Vitória, que se chama Artista Sem (Ser) Cult. Encabeçada pelos produtores culturais Jhon Conceito e Dani Andolphi, a novidade busca a pluralidade, mas com foco maior nos moradores da periferia, que, como destaca Jhon, são artistas. "Sobreviver é arte. Todo mundo que sobrevive na periferia é artista, quem acorda 4h da manhã para pegar o ônibus, trabalhar e voltar para casa, é artista", afirma.

Divulgação

Em relação ao nome do espaço, Jhon explica que é uma referência ao fato de os artistas periféricos não serem considerados cult e serem vistos como pessoas "que fazem uma arte menor", além de não terem "pai nem padrinho". O Artista Sem (Ser) Cult abre de terça a domingo. Nos dias de semana, as atividades iniciam a partir das 18h. Aos finais de semana, às 10h. O local vende livros, quadros e outras expressões artísticas principalmente de artistas periféricos do Espírito Santo e de outros Estados, além de estar disponível para realização de atividades como saraus, rodas de conversa, exposições e apresentações musicais.

Bar

O Artista Sem (Ser) Cult conta, ainda, com um bar, chamado pelos produtores culturais de "bar raiz", ou seja, "que tem aquele tira gosto que nossos avós comiam". O cardápio traz críticas às dificuldades de acesso por parte dos artistas periféricos às políticas culturais, com drinks com nomes como "Suplente de Aldir Blanc" e "Não Habilitado na Lei Rouanet". "As políticas de cultura precisam se desburocratizar. Como exigir MEI [Micro Empreendedor Individual] de um artista de rua, que nem Carteira de Identidade tem?", questiona Dani Andolphi.

Soma

A abertura de um novo espaço cultural só vem a somar nesse contexto de abandono do Centro e de inúmeros ataques às iniciativas que proporcionam lazer e acesso à cultura de maneira gratuita ou mais acessível financeiramente. Vale lembrar que o Artista Sem (Ser) Cult fica próximo ao Bar da Zilda e na mesma rua do Espaço Thelema, dois locais de referência em termos de resistência de grupos como as comunidades negra, periférica e LGBTQIA+.

Patifaria?

Redes sociais

Por falar em ataques às iniciativas que proporcionam lazer e acesso à cultura de maneira gratuita, não se pode deixar de registrar a fala do vereador de Vila Velha, Devanir Ferreira (Republicanos), na sessão da última segunda-feira (29). Sem nem ao menos explicar o porquê, ele chamou de "patifaria" o último Carnaval de rua em Vitória. De fato, houve patifaria sim, mas por parte da gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos), que limitou o horário dos blocos no Centro, não garantiu infraestrutura, mas apoiou blocos de bairros considerados mais elitizados, como Jardim Camburi.

Marcha para Jesus

O vereador chamou o Carnaval de "patifaria" durante a votação do requerimento de urgência simples de um projeto de sua autoria, que torna a Marcha para Jesus patrimônio imaterial, cultural, religioso e turístico de Vila Velha. Ao justificar sua proposta durante a sessão, afirmou querer valorizar a Marcha para Jesus, porque se a pessoa a frequenta, "é óbvio que quer compromisso com Deus". Ele disse isso após criticar não somente o Carnaval, mas também a Marcha da Maconha, "com um monte de maconheiro, senão não estariam na Marcha da Maconha".

Questionável

O compromisso com Deus destacado pelo vereador na Marcha para Jesus foi, inclusive, questionado, e com razão, por lideranças religiosas em julho do ano passado, quando participantes da Marcha fizeram apologia ao armamento e incluíram na programação uma motociata de recepção ao então presidente Jair Bolsonaro (PL). Na ocasião o presbítero Nilton Emmerick Oliveira, da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, criticou o fato de os participantes terem desfilado com uma arma gigante e disse que "a Marcha era para Jesus, mas esqueceram de convidá-lo".

Instrumentalização da Fé

A mesma ideia foi defendida pelo membro da Rede Nacional de Assessores do Centro de Fé e Política Dom Helder Câmara, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Maurício Abdalla. Com base na Doutrina Social da Igreja Católica, ele afirmou que a Marcha para Jesus do ano passado se tratou da "instrumentalização da fé em função de uma candidatura e de uma agenda armamentista".

O Carnaval é a opção

Entre a suposta "patifaria" do Carnaval e o pseudo compromisso com Deus na Marcha, a coluna escolhe a primeira opção. Como bem dizia Dom Helder Câmara, "Carnaval é a alegria popular", "uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida". E venhamos e convenhamos, nos últimos quatro anos, alegria foi o que menos o povo brasileiro sentiu por causa da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ovacionado na Marcha e que atacou minorias, incentivou o negacionismo durante a pandemia, destruiu políticas culturais e ambientais, sucateou a educação pública federal, e etc!

Festival de Cinema I

O Festival de Cinema de Vitória completa três décadas este ano. Para comemorar, será realizada a Mostra Comemorativa 30 Anos Festival de Cinema de Vitória, que acontece de 14 a 18 de junho de 2023, no Sesc Glória, Centro de Vitória. O evento contará com uma programação que apresenta um panorama do cinema brasileiro. Na parte da tarde, serão exibidos 20 curtas-metragens, sempre a partir das 15h. Nas exibições noturnas, que tem início às 19h, serão exibidos dois filmes: um longa-metragem e um curta-metragem capixaba.

Festival de Cinema II

A 30ª edição do Festival de Cinema de Vitória será no segundo semestre, de 19 a 24 de setembro, com a safra atual e inédita do cinema brasileiro, além de debates, mesas redondas e outras atividades. Nesses 30 anos, o público pôde conferir gratuitamente aproximadamente dois mil curtas-metragens selecionados, além de mais de 180 longas-metragens, vindos de todas as regiões do Brasil. Foi a partir desse material, que a comissão de seleção escolheu os filmes que fazem parte da Mostra Comemorativa 30 Anos.

Itaúnas a lápis

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Foi inaugurada nessa sexta-feira (2) e prossegue até 10 de junho, a exposição Poesia em Preto e Branco, do artista Renato Filho. Nela estão reunidas 20 telas em grafite sobre a "Nova Itaúnas", registrando em lápis e papel como a famosa vila litorânea de Conceição da Barra se reconstruiu após a antiga ser coberta pelas dunas de areia. A exposição, cuja visitação é gratuita, está no CEU das Artes, em Guanabara, Anchieta, sul do Estado.

Até a próxima coluna!

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Comentários: 1

Lucas em Terça, 13 Junho 2023 03:16

Devanir Ferreira, esse sujeitinho asqueroso com cara de Theodoro de Alvin e os Esquilos, fazendo seu nefasto trabalho em prol do obscurantismo, do sectarismo e do fascismo evangélicos. Ele acusa o carnaval de Vitória de ser "patifaria", mas não vê a patifaria ocorrendo de verdade nas igrejas evangélicas, nas quais pastores engordam seus cofres com dinheiro extraído de fiéis desesperados com sua vida terrena, aproveitando para amealhar cada vez mais poder político e tornar o Brasil numa teocracia evangélica. O silêncio evangélico aquiescendo com essa insânia me faz odiar ainda mais esse segmento.

Devanir Ferreira, esse sujeitinho asqueroso com cara de Theodoro de Alvin e os Esquilos, fazendo seu nefasto trabalho em prol do obscurantismo, do sectarismo e do fascismo evangélicos. Ele acusa o carnaval de Vitória de ser "patifaria", mas não vê a patifaria ocorrendo de verdade nas igrejas evangélicas, nas quais pastores engordam seus cofres com dinheiro extraído de fiéis desesperados com sua vida terrena, aproveitando para amealhar cada vez mais poder político e tornar o Brasil numa teocracia evangélica. O silêncio evangélico aquiescendo com essa insânia me faz odiar ainda mais esse segmento.
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