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Os clichês, conscientes, do romance policial

 

Há quem considere os romances policiais um gênero menor ou subliteratura. Apesar disso, Gustavo Machado se arrisca em seu primeiro livro a se enveredar por esse universo de crimes, detetives e mortes. Sob o Céu de Agosto é uma história policial com todos os clichês e padrões do estilo. A grande diferença é que seus personagens sabem disso.
 
O protagonista e narrador é o pintor fracassado Otto. Ainda com os hematomas do dia anterior, ele começa o livro em uma delegacia contando para um policial a sua versão de um possível assassinato. Tudo é narrado de forma extremamente detalhada e sentimental, o que acaba irritando o delegado. “É uma técnica literária. Essas subjetividades são importantes”, defende-se Otto.
 
Seu interlocutor, entretanto, desmerece os recursos literários do suspeito de duplo homicídio. “Até agora, essa sua história é a coisa mais previsível do mundo. Muito fraca, sinceramente. Ganha da novela das oito”, é uma de suas falas. O livro é um enorme flashback interrompido por diálogos como esse entre o pintor e o policial.
 
Otto segue com sua história partindo bem do começo. No dia em que percebe que está ficando sem dinheiro e liga para um amigo de infância que trabalha no governo pedindo um emprego. Mesmo odiando o fato de ter que encara uma rotina, ele aceita trabalhar como professor de um centro cultural, onde conhece Sophia, responsável pela reviravolta em sua vida.
 
Como esperado nesse tipo de ficção, as mulheres são a grande perdição do protagonista. Antes de Sophia, Otto tenta resistir às investidas de sua vizinha Berta. Inteligente e amante de jazz, ela sonha em ser romancista ou cineasta ou as duas coisas. Seu único problema é ter apenas 15 anos. Já Sophia, não se fala muito de sua personalidade, apenas de sua beleza, que atraia Otto instantaneamente.
 
Depois de passarem a noite juntos, a moça revela que é casada com um homem muito rico e perigoso que bate nela. Sophia pretende fugir e implora ajuda ao professor de artes. Confuso, Otto acaba aceitando sem saber dos riscos que poderá e sem ter certeza se é o certo a fazer.
 
Mesmo com o ritmo acelerado de narrar, Gustavo Machado consegue criar imagens encantadoras como esta: “Havia um cinza azulado envolvendo a cidade. (…) Cinza azulado com umas manchas brancas que fatiavam em camadas espessas os muitos blocos de nuvens que se acavalavam como um caleidoscópio”. 
 
Os cenários sempre frios e urbanos intensificam o tom noir da trama, que se assemelha a um filme em preto e branco, mas rodado nos dias de hoje em uma cidade fictícia. 
 
Serviço
Sob o Céu de Agosto
Gustavo Machado
Dublinense
162 págs
R$ 35 em média

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