Na literatura de Paulo Mendes Campos, a prosa encontra a poesia em sua busca frenética pelo instante precioso, pela frase iluminadora e pela cena que define o seu supremo amor pela vida – e seu ódio ao tédio.
O mineiro de Belo Horizonte radicado no Rio de Janeiro não economiza em seu louvor à beleza e em seu ataque à chatice, ao lugar-comum, ao conservadorismo paralisante. Como diz em Anatomia do Tédio:
“Este talvez seja em nossos dias a poluição do espírito, a poluição global. Nessa cultura estercada é que a torpeza espiritual do homem produz a flor plástica do tédio, embora seja imperativo de verdade reconhecer que suas florações mais visíveis e típicas não ocorram nas favelas e vilas operárias; nos balcões mais altos da sociedade é que vamos encontrar o que um rico poeta americano chamou o enfado celestial dos apartamentos”.

Mas nem tudo, ou melhor, quase nada é rancor nesta escrita ligeira, clara e sem nada de solene. Contraditoriamente ao título, em O Amor Acaba Paulo Mendes Campos demonstra como o lirismo pode começar em qualquer lugar – basta ter olhos para ver a beleza em um bar, em um decote, em um andar, na forma como se desperta em um domingo.
Serviço
O Amor Acaba
Paulo Mendes Campos
Companhia das Letras
288 págs
R$ 39 em média