quinta-feira, junho 26, 2025
22.9 C
Vitória
quinta-feira, junho 26, 2025
quinta-feira, junho 26, 2025

Leia Também:

Projeto preserva memória das paneleiras de Goiabeiras

Lançamento de site e oficinas em escolas propagam o saber tradicional do ofício no Estado

Instituto Marlin Azul

Quem quiser conhecer mais a fundo o ofício das paneleiras de Goiabeiras, poderá contar com um site, que entrou no ar nesta quinta-feira (26). O portal, inicialmente, terá episódios da websérie Griôs de Goiabeiras, que no primeiro episódio trata dessas artesãs, e registros das oficinas que começaram a ser ministradas em escolas e outros espaços públicos nessa quarta-feira (25).

Tanto as oficinas quanto o site fazem parte do projeto “Memórias do Barro – Paneleiras”, realizado pela Instituto Marlin Azul em parceria com a Associação das Paneleiras de Goiabeiras e apoio do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do Insituto Federal do Estado (Ifes) de Vitória.

A coordenadora de projetos do instituto, Beatriz Lindemberg, informa que o site também contará com receitas, história do ofício das paneleiras, contação de história e um catálogo com as paneleiras e seus contatos. Para ela, a iniciativa é importante para levar às pessoas o conhecimento a respeito do ofício. “A sociedade só preserva um bem quando o conhece e passa a dar valor a isso”, ressalta.

Instituto Marlin Azul

As oficinas, no total de 30, serão realizadas durante seis meses em turmas de estudantes de ensino fundamental, médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e a turmas de alunos de organizações não-governamentais, principalmente de unidades de ensino de bairros dos arredores de Goiabeiras, como Maria Ortiz, Jardim da Penha e Jardim Camburi.

As oficinas são ministradas por cerca de 45 paneleiras, sendo três por oficina. A atividade conta com exibição do primeiro episódio da websérie Griôs de Goiabeiras, que se chama É da mão de quem? e foca principalmente nas paneleiras de quintal, ou seja, que fazem as panelas em casa, e são as mais velhas. A partir do filme, os estudantes farão suas perguntas, realizando uma roda de conversa.

Também faz parte da atividade a oficina de experimentação, na qual os participantes confeccionarão suas panelinhas. Haverá, ainda, contação de história. Uma das contadoras será Jamilda Bento, bisneta, neta e filha de paneleira, que elaborou o projeto junto com o Instituto Marlin Azul e é uma ponte entre o instituto e as paneleiras. Jamilda contará História com cheiro de barro e tanino: o aprendizado do ofício de paneleiras de Vitória (ES).

“Defendemos que nossos saberes têm que dialogar com os escolares. Buscamos compartilhar nossos saberes com docentes e discentes, buscando a interculturalidade de saberes entre o científico e o que brota, é construído pelas comunidades tradicionais. Esse diálogo torna a escola mais gostosa, mais plural”, defende Jamilda.

jamilda_leonardo_sa-2.jpg
Leonardo Sá

O ofício das paneleiras foi o primeiro bem registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Imaterial. A produção envolve técnicas tradicionais e matérias-primas naturais. O trabalho é realizado principalmente por mulheres, que repassam seus conhecimentos às filhas, netas, sobrinhas e vizinhas. As panelas são feitas de argila e modeladas à mão. Depois de secas ao sol, são polidas, queimadas ao ar livre e impermeabilizadas com tinta de tanino. A técnica é herança cultural Tupi-Guarani e Una.

Os bens culturais registrados como Patrimônio Cultural passam pelo processo de revalidação a cada dez anos, de acordo com o estabelecido no Decreto nº 3.551/2000. O ofício das paneleiras passou por isso em 2021. O objetivo foi investigar sobre a situação do bem cultural naquele contexto e verificar mudanças nos sentidos e significados atribuídos. A revalidação também busca dar subsídio a ações futuras de proteção e valorização do patrimônio imaterial.

Os processos, segundo o Iphan, não visam destituir o título de Patrimônio Cultural do Brasil de qualquer bem registrado. A retirada do título só ocorre, em hipótese remota, se os próprios detentores assim desejarem. Esses são convocados a participar de todas as etapas do processo de revalidação e contribuem com a elaboração do Parecer de Reavaliação, disponibilizado para manifestação dos detentores e a toda a população.

O Projeto “Memória do Barro – Paneleiras” é realizado por meio Edital de Chamamento Público nº 05/2023, do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, promovido pelo Iphan, do Ministério da Cultura.

Mais Lidas