Terça, 16 Abril 2024

Residência artística reflete sobre cultura, natureza e política na foz do Rio Doce

ariane_pineiro_regencia_implantacao Ariane Piñeiro

Regência Augusta. A simpática vila linharense na foz do Rio Doce, norte do Estado, foi o local escolhido para a residência artística do coletivo Implantação, envolvendo oito artistas com intervenções dispersas pelo território, feitas discretamente para evitar aglomerações diante da situação de pandemia do coronavírus. Para além de transeuntes que possam ter cruzado com as obras, o resultado da residência é divulgado por meio das redes sociais, mais especificamente na página do Implantação no Instagram, que registra não só as obras como registros de suas construções e bastidores, servindo como uma exposição virtual do resultado dos processos criativos.

Além de seus desdobramentos já poderem ser conferidos pelos internautas, a residência ainda será exposta por meio de uma debate ao vivo no dia 21 de abril, às 20h, contando com a presença dos artistas participantes: Ariane Pinheiro, Didico, Renata Apolinário, Victor Monteiro, Rosana Paste e Alexandre Marin. A transmissão será pelo YouTube do Grupo Implantação.

Na exposição virtual no Instagram, estão reunidas as diversas experiências e criações artísticas, baseadas na ideia de "Poética Política Natural", tendo como proposta refletir sobre questões como destruição, regeneração e pertencimento no território. São várias as provocações suscitadas usando a arte como ferramenta.

Ariane Piñeiro
Uma delas deixou marcado em vários lugares da vila imagens de moradores e animais da região. O trabalho foi desenvolvido por Ariane Piñero, que fez registros fotográficos de forma colaborativa por meio de pesquisa com pessoas locais buscando entender aspectos marcantes na memória e identidade de Regência, além de seus moradores notáveis. O resultado fotográfico foi transformado em lambes de tamanho grande, colados por muros. Um dos mais notáveis foi o da senhora Libete, que figura em tamanho quase real junto a imagens de animais locais na parede externa em que está instalada uma biblioteca comunitária.

Outra iniciativa que fica por lá é a Caixa de Experimentação, desenvolvida por Renata Apolinário. Inspirada em projeto anterior desenvolvido na comunidade de Goiabeiras, Vitória, ela buscou os elementos culturais e identitários de Regência para desenvolver uma caixa didática, com usos diversos e materiais simples, que permite ser usada no apoio ao aprendizado das crianças, valorizando os aspectos locais. Além de 100 unidades das caixas distribuídas para estudantes da vila, seu uso e elementos também serão apresentados no blog Navegando na Memória da Vila de Regência, criado pela professora Juliana Novaes.

Já a intervenção artística de Rosana Paste foi feita utilizando elementos sonoros, a paisagem e elementos naturais de Regência, e o próprio corpo para performances que compõem uma websérie de vídeos curtos inspirados nos quatro elementos da natureza: Terra, Fogo, Água e Ar.  

Os elementos naturais também fazem parte do trabalho de Victor Monteiro na residência. Para compor a obra Finca, ele observou os fluxo das águas do mar e do Rio Doce - ou Watu para os povos originários - e o acúmulo de resíduos orgânicos e inorgânicos depositados em seus leitos e margens, desde árvores e galhos até pedras e materiais industrializados descartados. É com eles que compõe esculturas e instalações partindo do fincar os troncos e galhos na terra para iniciar as instalações.

Victor Monteiro
Também aproveitando os resíduos, mas com especial atenção àqueles não biodegradáveis, frutos do descarte incorreto dos humanos, Didico produziu durante a residência em Regência diversas obras. Coletando esses materiais, criou desde esculturas a artefatos como comedouros para passarinhos, além de obras inusitadas como o Peixe Chulé, a partir da "pesca" de sandálias que encontrou ao longo das margens do Rio Doce e do mar. Outro resultado foi Minininho, uma instalação em forma de ninho feita com resíduos de tampas plásticas encontradas.
Divulgação

O sexto elemento da residência é Alexandre Marin, que ficou responsável pela montagem, edição e trilha sonora autoral das obras audiovisuais.

Sobre o Implantação

A ligação do Coletivo Implantação com Regência Augusta vem de uma primeira intervenção realizada em 2010, utilizando o lixo colhido na foz do rio para denunciar a poluição. Não poderia imaginar que em 2015 a situação se tornaria ainda mais dramática com o crime socioambiental da Samarco/Vale-BHP que depositou toneladas de rejeitos de mineração que atingiram todo leito do rio até o mar.

Cinco anos depois do crime e dez depois da primeira intervenção, o grupo voltou ao local tendo que enfrentar também o desafio da pandemia de Covid-19, mantendo o distanciamento e as medidas sanitárias, e tendo todos integrantes que foram a Regência testado negativo para o vírus.

Para produzir suas obras e intervenções, os artistas ficaram entre 10 e 45 dias na vila. Mas a residência não acabou lá. Além do trabalho posterior para gerar o conteúdo da exposição virtual, como vem sendo feito por muitos artistas e grupos durante a pandemia, o Implantação segue se reunindo semanalmente de forma virtual para diálogos, estudos e criações como fruto da residência e seus desdobramentos.

O projeto da residência artística em Regência recebeu apoio da Lei Aldir Blanc após seleção da Secretaria de Estado da Cultura (Secult). 

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