Sexta, 03 Mai 2024

Serra tem 467 mil habitantes, mas não tem um teatro

Serra tem 467 mil habitantes, mas não tem um teatro
Dia desses usamos argumento semelhante para falar de Vila Velha. Agora é a Serra. O hoje mais populoso município do Espírito Santo, com 467.318 habitantes (IBGE, 2013) tem apenas nove salas de cinema (em shoppings) e nenhum teatro público. Foi a surreal ausência de um espaço teatral numa cidade com quase meio milhão de habitantes que estimulou a formação do movimento Quero um Teatro na Serra.
 
“Não ter um teatro na Serra é não respeitar o direito à cultura, que é um direito constitucional”, critica o produtor cultural Rogério Morais, integrante do movimento, que nasceu para sensibilizar políticos e empresários acerca da importância do solo serrano conceber um teatro. Informalmente, Rogério diz que hoje o município conta com mais ou menos 15 grupos teatrais. 
 
Morais evoca um paradoxo. A bem-vinda Lei Chico Prego, a lei do incentivo cultural do município, todo ano contempla projetos teatrais. Mas onde os contemplados desenvolvem as ideias, se não há teatro? Aí entra em cena o improviso, com o perdão do trocadilho. Ou vão para a rua, ou se arrumam noutro lugar qualquer. O fato é que pouco adianta ganhar um edital para honrá-lo tropegamente.
 
O movimento surgiu da óbvia insatisfação de um grupo de artistas serranos com tal orfandade. Não apenas pela falta de um espaço conveniente para a concepção, maturação e apresentação de um trabalho. Mas também como uma alternativa de entretenimento para a população serrana, que, aliás, não deve mais suportar ter sua cidade associada à violência.
 
De acordo com o Mapa da Violência 2013, realizado com dados levantados em 2011, entre os municípios brasileiros com mais de 20 mil habitantes, a Serra ocupa a 18° posição na taxa de homicídios por grupo de 100 mil. São 93,3 homicídios. O município apresenta números ainda mais desalentadores para os jovens: com 239,9 homicídios, a Serra aparece em 10° lugar entre os 100 municípios com mais de 10.000 jovens.
 
O movimento também apresenta o argumento econômico. “Não é só acesso ao teatro, mas também a economia da cultura. Quando se investe em cultura, há geração de renda”, defende Morais.
 
Ainda não houve resposta de políticos ou empresários. Mas a mobilização já conquistou a simpatia de outros artistas capixabas, como se vê no Facebook do movimento: inúmeros artistas deram seu apoio à causa (como o jornalista e cronista Jace Theodoro, o desenhista e dramaturgo Milson Henriques, o ator José Luiz Gobbi e sua indefectível Creuzodete).
 
A mobilização online do movimento também gerou posts interessantes na rede social: bastou pegar o (bom) exemplo de municípios de população bem inferior à da Serra, mas que dispõem de teatro (Rio Novo do Sul, 12 mil moradores; Guaçuí, 28 mil; Cachoeiro, 210 mil; Montanha, 18 mil; Afonso Cláudio, 32 mil).
 
Já houve uma tentativa de dar um teatro ao município. Saiu da pena do arquiteto Oscar Niemeyer o Memorial Metropolitano, projeto que conta com mirante, teatro e museu. Mas o valor da obra, orçada em cerca de R$ 70 milhões, desanima, tanto que, em 2012, a prefeitura acenou com o modelo de parceria público privada (PPP) para levá-la adiante.
 
Além da exclusão do que o movimento chama de “corredor cultural”, isto é, o conjunto de cidades que possuem um teatro e que, portanto, recebem produções locais e nacionais, há também um processo de acomodação do desenvolvimento cultural serrano. A falta de espaço adequado compromete a formação de novos artistas. Os artistas teatrais serranos ainda têm Vitória como eixo.
 
Alguns possíveis locais já foram sondados. O bairro de Laranjeiras seria um bom local. “Ali tem muitos terrenos da prefeitura, é de fácil acesso e tem o terminal de ônibus”, aponta Morais.
 
O principal também já foi pensado: o teatro. Vislumbra-se um espaço que integre diversas manifestações. Um espaço para o circo, uma sala para oficinas, uma para reuniões, outra para o audiovisual e uma galeria para as artes visuais. Só falta o poder público e os empresários sacarem qual é da ideia.

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