Sexta, 03 Mai 2024

Ticumbi: uma apresentação carregada de emoção

Ticumbi: uma apresentação carregada de emoção
 
Como era esperado, a apresentação do Ticumbi neste primeiro de janeiro, mesmo com todo o festejo dos 60 anos de regência do mestre Terto, não contou com a presença de nenhuma autoridade da área cultural do Estado, muito menos da prefeitura de Conceição da Barra, de onde o grupo é originário.
 
Mas, como vem ocorrendo há mais um século, lá esteve a sociedade negra da região juntando-se à louvação ao seu santo padroeiro, objeto da existência do Ticumbi. Só que dessa vez houve um motivo especial que foi a comemoração dos 60 anos do mestre Terto à frente do grupo. Mais uma vez, ele ouviu, para o seu orgulho, uma espécie de grito de desafio, que ocorre sempre ao encerramento de sua apresentação: “Viva a Nossa Bela Sociedade,” pronunciada, como de tradição, pelo o seu rei de Congo.
 
 
Um pouco antes dessa apresentação, mestres de outros grupos folclóricos e líderes de comunidades quilombolas manifestaram seus aplausos à trajetória do mestre Terto no comando do Ticumbi. Eles aproveitaram para fazer severas críticas ao tratamento que recebem de órgãos governamentais incumbidos da preservação cultural do Estado. Numa clara alusão à destinação da quase totalidade dos recursos às elites culturais.
 
Desabafos à parte, porque o que vale nessa hora é registrar a atmosfera de emoção que cercou essa última apresentação do Ticumbi com Terto à frente do grupo. Senhoras negras, em seus impecáveis vestidos, homens negros, nas suas melhores roupas, como de tradição, estiveram, dessa vez, de olhos grudados no santo padroeiro e também no mestre Terto. Como se fosse um pleito, como mais tarde veio a dizer um deles ao repórter, em rever o mestre Terto nos futuros primeiro de janeiro para louvarem juntos São Benedito.
 
Acostumado a acompanhar o Ticumbi há mais de 50 anos, o repórter tinha exata noção desse clima de emoção. A esposa do mestre, Bárbara Balbino, que sempre comparece com descrição, geralmente na companhia de outras mulheres, sentou-se, com indisfarçável emoção, num banco que a deixou bem próximo do marido e ao lado do estandarte de São Benedito.
 
 
Dona Barbara não é simplesmente mulher de mestre Terto e mãe do rei de Congo, foi também irmã de outro expressivo integrante, já falecido, que durante, um bom tempo ocupou a posição de rei de Bamba. Bárbara faz parte de uma sociedade negra voltada para a preservação do maior símbolo de sua raça, que é esse Ticumbi.
 
Assim como à família de Bárbara, outras também deram sua contribuição à existências dele. Entre elas, encontram-se também a do falecido secretário do rei de Congo, Acendino, que entrou jovem e dele saiu velho. Dos seus atuais integrantes(17), sete pertencem a família dele: Dois filhos (secretario do rei de Congo e rei de Bamba), um neto (secretário do rei de Bamba), três netos integrantes das alas dos pandeiros, e dois bisnetos, com oito e cinco anos, que encerraram as fileiras dos pandeiros.
 
Sobre essas duas crianças que figuraram nas alas dos pandeiros, houve a intenção clara dos sucessores de Acendino em demonstrar o compromisso com o preparo de futuros quadros, como tradição nas demais famílias. A sucessão familiar é uma rotina e uma garantia de sua existência. Pois quando se olha os atuais integrantes, com exceção de três deles, todos os demais descendem de famílias que estão no Ticumbi há mais de um século.
 
Além dos sete descendentes do secretário do rei de Congo, Acendino e da família do próprio mestre Terto, há a do secretário do rei de Bamba, que atendia pelo apelido de Coxi. Está presente no grupo o seu filho Berto Florentino. Mas também passaram por ele outros três irmãos do Coxi. Este ano também retornou um membro da família do companheiro do mestre Terto na fila dos pandeiros. Ele era o Julinho. Durante um bom tempo participaram mais dois de seus irmãos. A família voltou a ser representado com a entrada na ala dos pandeiros de um filho do finado Julinho, que foi outro ícone do Ticumbi.

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