Um paraíso para todos
Lívia Corbellari
O Céu dos Suicidas (2012) é um livro que tem insônia, que desperta em você mesmo quando a leitura acaba. O solitário personagem Ricardo Lísias, batizado com o mesmo nome do autor, narra tudo em primeira pessoa com capítulos curtos e fragmentados em pequenas tramas. Sua prosa é uma enxurrada de sentimentos, devaneios e medos.
“Sou especialista em coleções, mas doei os meus selos há mais de dez anos”, define-se Ricardo no começo do livro. Ele conta alguns episódios esdrúxulos da sua infância até o momento em que se livrou de todas as suas coleções. Tornando-se um adulto repleto de manias e rituais, sua vida começa a desmoronar depois que seu melhor amigo, André, comete suicídio.
O ex-colecionador fica tomado pela culpa e pelo remorso, pensa que poderia ter sido mais compreensivo e assim ajudado o amigo durante suas crises. Para Ricardo a saudade significa arrependimento e ele fica a todo o momento lembrando-se de André, chega a visitar as clínicas psiquiátricas que ele se internou voluntariamente e o último dia que o amigo o visitou não lhe sai da memória.
Ele começa a desenvolver os mesmo sintomas de André, ansiedade, perda de memória e insônia, sempre atormentado pela dúvida “os suicidas vão para o céu?”. A fim de encontrar a resposta que precisa, Ricardo viaja para Beirut para conhecer parentes distantes e saber mais sobre o tio-avô, que quando jovem lhe doou alguns misteriosos selos libaneses. Ricardo conta sua história a todos que encontra, mas ninguém diz o que ele quer ouvir.
Ele não descobre nada de importante nas clínicas que o amigo frequentava e nem em sua viagem ao Líbano. A intolerância das pessoas só vai lhe deixando mais agressivo e ansioso, ele discute com um padre, com um grupo de espíritas e com o psiquiatra, “você não tem o direito de medir a minha dor! vai tomar no cu, seu filho da puta, psiquiatra de merda”, grita.
Não há um amadurecimento do personagem, apenas a busca pela paz e algumas descobertas nos picos de suas crises quando sai gritando e chorando na rua. “Quando a gente grita na rua, ninguém repara”, diz o narrador, ele vê na apatia das pessoas a sua própria indiferença frente à angústia de André.
Ricardo Lísias - o escritor - é paulista e em 2008, quando lançava seu romance O Livro dos Mandarins, um amigo próximo, chamado André, cometeu suicídio. A dor de perder o amigo e a culpa por não ter percebido os sintomas antes da tragédia foi a razão de escrever O Céu dos Suicidas e encontrar um pouco de conforto.
Serviço
O Céu dos Suicidas
Ricardo Lísias
Alfaguara
186 páginas
R$ 35 em média
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