Segunda, 06 Mai 2024

Um sábado de alimento para o corpo e para a alma

Um sábado de alimento para o corpo e para a alma

 

O dia está claro: não há nenhuma nuvem no céu. A rua é a Barão de Monjardim - Centro de Vitória - e o som vem de um saxofone, que logo dita o ritmo da caminhada. Ali, na frente do Restaurante Top Grill, está um Marco Ortiz sorridente. Após um abraço carinhoso ele resume, por meio de sua feição, todo o enredo que tem sido desencadeado durante o sábado.
 
O Almoço Sol da Terra, que reuniu cerca de 400 pessoas, foi apenas uma de várias iniciativas para angariar fundos em prol da reconstrução do emblemático restaurante. O Sol da Terra é mais do que uma alternativa gastronômica na cidade de Vitória: ele é um modo de vida e o sustento de toda uma família.
 


Ao subir as escadas do Top Grill - local do almoço - era visível a mobilização das pessoas. Elas não estavam ali para simplesmente saciar a fome; elas sentiam-se, de algum modo, comovidas e engajadas com a causa.
 
Restaurante a dentro, em um ambiente maior, estava o balcão em que as comidas ficavam dispostas. O cardápio, variado, possibilitava diversas combinações de alimentos. Desde as saladas frias, passando pela dupla arroz integral-feijoada vegetariana e também pelo jiló refogado.
 
O alimento, porém, que mais chamou a atenção foi a banana assada. Ela, com todo potencial para passar desapercebida em qualquer refeição, era lembrada pelos visitantes que transitavam entre o local dos alimentos e suas respectivas mesas.
 
 A banana naturalmente adocicada e levada ao forno é o resumo da filosofia gastrônomica - e não apenas gastronômica - implementada pela família Ortiz em seu estabelecimento desde a sua fundação, quando ainda era na Rua Henrique Moscoso, em Vila Velha. Simples, em que a elaboração do alimento seja capaz de criar um elo entre consumidor e natureza.
 
As escadas davam acesso ao segundo piso: local em que qualquer transeunte, por um momento, deixava de sê-lo. Mesas cheias de pessoas que conversavam animadamente e outras de pessoas solitárias - que de alguma maneira também interagiam com o ambiente.
 
O espaço - pouco arejado - era das crianças que passavam pelos corredores formados a partir da disposição de mesas e cadeiras; dos músicos, que a essa hora desfilavam seu repertório de choro; e, sobretudo, da solidaderiedade firmada como um compromisso no prato de cada cidadão presente.
 


Ao sair do restaurante, um menino pequeno procurava por Marco Ortiz. Saía perguntando pessoa por pessoa. E continuava insistindo. Até que alguém apontou para o lado de fora. Gesto suficiente para fazer com que ele convencesse seu pai a explorar a Barão de Monjardim.
 
Quem tomava as ruas, mesmo sob sol forte, parava em frente ao espaço físico onde estava localizado o Sol da Terra. As pessoas, agora, contemplavam o espaço vazio que ali se tornou – e esse foi o motivo maior para que cada um se tornasse personagem do almoço beneficente.
 
Ao cair da noite, esses mesmos personagens e outros tantos voltaram para continuar com as manifestações de apoio através de movimentações culturais. Marco Ortiz tinha passos pacatos e caminhava carregando uma pequena caixa de suco em uma das mãos. 
 
Ele parava para conversar com um ou outro, às vezes se sentava na calçada para bater uma prosa um pouco mais longa. Mas não se demorava a levantar. Fazia questão de retribuir o apreço das pessoas dirigindo sua atenção para elas.
 
Tinha gente que ainda comentava sobre o almoço: falando da satisfação que sentia ao comer, novamente, o alimento do Sol da Terra. Mas também havia pessoas trabalhando – organizando equipamentos de som e também no bazar que era realizado em uma casa próxima aos indivíduos que se aglomeravam para assistir ao bloco Pouco Amor Não É Amor.
 
Com as faces pintadas como de costume, os integrantes do bloco não pouparam esforços para estar organizados ali. A Barão de Monjardim é tradicionalmente abraçada por eles: seja em momentos de festa ou para uma simples reunião. Alguns, inclusive, são moradores da região.
 
Quem assistia à manifestação realizada em plena rua, era pego de surpresa por uma grande borboleta marrom. Ela passava pela noite dando susto e provocando olhares descontraídos em quem se fazia presente.
 
O Sol da Terra, dentro da lógica social é uma empresa privada, mas que não pode ser reduzida a isso. É, antes de mais nada, o sustento de um homem com uma trajetória de engajamento político e de luta pelo meio ambiente, pela preservação da Gruta da Onça – que tem a empatia de moradores e não moradores da Rua Barão de Monjardim.  
 
O sábado não foi de caras tristes, pois todos sabiam da importância de se manifestarem. Tendo a certeza do destino que queriam e querem chegar. Porque se tem gente com fome, dá de comer.

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