Sábado, 11 Mai 2024

Vitória, Cidade Imaginada expõe telas feitas por dependentes químicos

Vitória, Cidade Imaginada expõe telas feitas por dependentes químicos
O artista Guilherme Castor, O Gui Castor, resolveu intervir na cidade de outra maneira, começando pelas pessoas. Os usuários de drogas que ocupam as ruas e geralmente são excluídos da sociedade como "lixo social", passam a ser os protagonistas do projeto Vitória, Cidade Imaginada. Foram cerca de 50 telas pintadas por usuários de drogas, sobretudo de crack, que ocupam a região da Vila Rubim, na área central da Capital capixaba.
 
Durante 30 dias, eles trabalharam na criação das obras e dividiram suas histórias com o idealizador do projeto.
 
 
Ponte Seca é o nome dessa exposição que representa o primeiro capítulo de uma série de intervenções, que interligadas formam uma narrativa sobre a cidade e sua infinita construção. A mostra será aberta nesta quinta-feira (13), das 13h às 18h, e estará disponível ao público até o dia 22 de março.
 
Gui Castor explica que o tema central do projeto Vitória, Cidade Imaginada é a memória e que ele se apoia em três momentos: presente, passado e futuro. “Mas não é tratar o presente como aquilo que é, nem o passado como aquilo que não é mais, nem o futuro como aquilo que ainda não é. Qual é condição de uma imagem ser arquivo se a natureza do presente é passar? Essa é a pergunta que faço”, questiona o artista.
 
Gui já é conhecido por promover o projeto Cine Rua Sete, um evento que também propõe a ocupação cultural de espaços públicos. E esse interesse pelo audiovisual e a ocupação de espaços públicos que lhe deu a ideia de fazer a exposição Ponte Seca como uma forma de provocar uma nova maneira de se pensar a cidade e discutir assuntos que geralmente são ignorados, como os usuários de drogas. 
 
“O contato com os usuários de crack ocorreu de maneira tranquila, natural, pelo fato de eu não estar representando uma instituição, não era a polícia, nem o padre, nem o governo. Cheguei de coração aberto. A ideia era viver com eles, compartilhar experiências”, conta Gui. O artista procurou dialogar com o imaginário dos habitantes do local, sempre com muito respeito ao espaço deles para não intimidá-los e, assim, incentivar que eles criassem livremente.
 
Gui também comenta que, apesar do objetivo desse trabalho não ser apenas o resultado das obras e sim a relação com os habitantes, as telas acabaram revelando muito da realidade deles de forma muito intensa e expressiva. A violência acaba sendo o pano de fundo da exposição, que é dedicada a Ludy, uma moça de 27 anos morta a facadas ao se recusar a praticar sexo com um estranho, em fevereiro deste ano. Outro trabalho revela as angústias de uma mãe à procura do filho dependente. Não o encontrou, mas deixou uma pintura em homenagem a ele.
 
 
 
Para o curador da mostra, o que se espera não é que a intervenção mude a vida desses usuários, mas que transforme o foco e desloque o olhar. “Falar de crack em caderno de cultura e não em caderno de polícia ou de religião. Outra maneira de abordar o problema social. O que me interessa é encarar a cidade”.
 
Vídeos
 
Paralelo à mostra serão postados vídeos-ensaios na internet. O primeiro deles é "Ilha do Príncipe", com imagens captadas na região de Vitória que sofre mudanças em sua paisagem com a demolição de prédios que cederão espaço a novas vias para desafogar o trânsito. Para Gui Castor, a emergência e o interesse para o trabalho vêm do fato de estarmos inseridos numa intensa paisagem audiovisual em que tudo parece estar contado.

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Serviço
A primeira parte do projeto Vitória, Cidade Imaginada, a exposição Ponte Seca, será aberta nesta quinta-feira (12), das 13h às 18h, na Ponte Seca, Vila Rubim. A exposição fica aberta de 13 a 22 de março

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