Quinta, 28 Março 2024

A principal pauta da juventude negra é sobreviver

Fotos: Leonardo Sá


“Há algum tempo, a maior pauta da juventude negra tem sido necessariamente viver”, diz João Victor Santos, integrante do Coletivo Negrada. O extermínio da juventude negra foi o tema central da marcha que o Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes) realizou nessa terça-feira, dia 20 de novembro, a 11º edição no Centro de Vitória. Saindo da Casa Porto, a marcha passou pelo Palácio Anchieta e terminou no Museu Capixaba do Negro, onde foram realizadas diversas atividades culturais.




 


O momento é especial pois, no último dia 22 de setembro, o Fejunes foi oficialmente rearticulado, com uma nova diretoria assumindo, depois de um tempo em que o grupo se organizou apenas em torno da organização da marcha. “Precisamos trabalhar nossas bases, por muito tempo houve distanciamento. A missão do Fejunes é subir nas periferias e outros espaços e trazer de volta o sonho da juventude, mostrar que ela tem direitos e pode reivindicá-los. Às vezes tentamos prosseguir, mas o racismo institucional faz com que a gente pare. A gente não tá aqui para parar”, afirma Crislayne Zeferina (foto à direita), nova coordenadora do Fejunes.


Ela cita como exemplo de racismo institucional a iniciativa da Secretaria de Estado da Educação (Sedu), de realizar as provas do Paebes Tri, sistema de avaliação dos alunos, no mesmo dia 20 de novembro, em que se celebra o Dia da Consciência Negra, impedindo participação de estudantes e escolas no ato e em outras atividades sobre a data.



“Isso é uma afronta para nós do movimento negro, o Fejunes vê como um boicote. A Secretaria de Educação não se educou para chegar nesse momento e nos apoiar. Se existe uma juventude sendo exterminada e um encarceramento em massa com mais de 70% de negros, significa que a educação de qualidade não está chegando”, contesta.


Durante a marcha, o grupo de jovens lembrou que no 20 de novembro, um dos fatos que chamou atenção em relação ao governador Paulo Hartung foi o anúncio de construção de mais um presídio, na contramão das reivindicações do Fejunes. No ato, porém, a pouco mais de um mês do fim do mandato de Hartung, não poupou-se críticas ao seu antecessor e sucessor, Renato Casagrande (PSB).


“A gente tem uma Assembleia Legislativa que sempre foi muito conservadora, mas conseguiu potencializar ainda mais isso. O governador Casagrande não tem nada de novo. É sempre bom lembrar que todo seu governo passado teve pouco diálogo e medidas bastante repressoras”, lembra João Victor (foto à esquerda).


O cenário é ainda mais complicado quando se pensa a nível nacional, com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para a presidência da República. “Precisamos inventar um novo significado para a palavra resistência”, diz o jovem do Coletivo Negrada.



Para ele, apesar do cenário desfavorável, também há motivos para esperança, citando a nova bancada eleita pelo Psol na Câmara Federal e alguns legislativos estaduais. “Mulheres negras foram eleitas pela primeira vez, muitas delas inclusive eleitas porque são mulheres negras, levantando a bandeira da negritude. Nesse cenário caótico a gente tem algum respiro, conseguimos imaginar alguns caminhos que são possíveis”.


De parte do Fejunes, Crislayne considera que serão quatro anos de resistência. “Vamos formar nossa base com uma educação crítica dentro das comunidades periféricas. Um número alarmante da juventude negra e periférica votou nele [Bolsonaro]. Vamos trabalhar para emancipar esses corpos, retirar esses votos e dizer que ele não nos representa”.



Diante da reativação do fórum, que ela reafirma como autônomo e apartidário, o grupo está se reunindo mensalmente para planejar e realizar atividades, sendo que muitas delas estão acontecendo no mês de novembro, tendo como pauta primordial o anti-racismo.



Para o próximo ano, entre os planos está a realização do Fejunes Itinerante, visitando todos os municípios capixabas e a criação de uma sede, com espaço físico para acolhimento dos jovens. “Antes do extermínio físico vem o psicológico, a negação de direitos, constituídos desde nossa infância”.

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