Decisão foi tomada após concessionária recusar reunião no território indígena
Depois de mais de um ano e meio enfrentando oscilações e apagões no fornecimento de energia elétrica, a comunidade Tupinikim da aldeia Irajá, localizada em Aracruz, no norte do Espírito Santo, convoca uma manifestação contra a concessionária EDP Espírito Santo, responsável pelo serviço. A partir de segunda-feira (16), os moradores planejam bloquear a rodovia ES-010, que corta o território indígena, sem previsão de liberação.
A decisão foi tomada na tarde desta sexta-feira (13), após mais uma tentativa frustrada de diálogo com a EDP. A comunidade havia exigido a presença de um técnico da empresa para discutir pessoalmente as falhas no fornecimento, que vêm comprometendo atividades cotidianas e causando prejuízos materiais para as famílias e em equipamentos comunitários, como a escola indígena localizada no território.
No dia anterior, quando um caminhão da EDP chegou à aldeia, os moradores se mobilizaram e impediram a saída do veículo, que permanece bloqueado. Segundo as lideranças, a medida foi uma forma de pressionar a concessionária para que envie um representante disposto a dialogar no próprio território indígena e assumir formalmente, com prazo definido, o compromisso de regularizar o serviço. A comunidade ressalta que já participou de diversas reuniões nos últimos anos, sem que houvesse solução concreta.
Na manhã de sexta, lideranças e moradores se reuniram na cabana comunitária da aldeia para aguardar a chegada dos técnicos. Um representante da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Bruno Curtis Weber, também esteve presente para acompanhar a situação, mas a negociação não chegou a acordo entre as partes. A empresa exigiu que as lideranças saíssem do território para se encontrar com os técnicos em um local externo, o que foi rejeitado pelos Tupinikim. Diante do impasse, uma nova reunião foi marcada para a tarde do mesmo dia, desta vez com representantes da Prefeitura de Aracruz, sob gestão do prefeito Dr. Coutinho (PP), na tentativa de buscar um encaminhamento conjunto.
Segundo a cacica da aldeia Irajá, Marcela Rocha, o município se dispôs a colaborar com aspectos que estão sob sua responsabilidade, como a poda de árvores próximas à rede elétrica, mas a principal reivindicação – a presença de um técnico da EDP no território – segue sem resposta positiva. A postura da empresa revoltou os moradores.
“Falamos com o representante da empresa por telefone, mas ele deixou claro que só aceita conversar se a gente sair do nosso território. A comunidade decidiu que não vai sair. Por isso, o caminhão permanece aqui e, a partir de segunda, vamos bloquear a pista”, afirmou Marcela.

A cacica reforça que o problema não é novo e que a comunidade já esgotou os canais institucionais. “Essa luta é por um serviço essencial. Não estamos pedindo favor. A energia é paga, e há anos lidamos com prejuízos e descaso. Já deixamos claro que a mobilização começa segunda-feira de manhã e só termina quando a empresa vier nos ouvir aqui, no nosso território”, concluiu.
Os danos causados pelas falhas no serviço de energia são diversos. A comunidade relata perdas de eletrodomésticos, como geladeiras, ventiladores e televisores, além de equipamentos coletivos, incluindo aparelhos utilizados na escola indígena e em outras atividades comunitárias.
O vereador Vilson Jaguareté (PT), que também é indígena e acompanha a situação de perto, afirmou que tem atuado como mediador em diversas reuniões com a EDP para tratar não apenas dos problemas na aldeia Irajá, mas também em outras regiões do município de Aracruz, que sofrem com irregularidades semelhantes.
A expectativa da comunidade é que a mobilização pressione a empresa enviar um engenheiro responsável para apresentar um diagnóstico técnico sobre os problemas identificados no sistema elétrico que atende a aldeia, e assumir, por escrito, o compromisso de regularização com um prazo definido.