Termo de acordo foi assinado pelo governo, dando início ao período de estruturação
A Cozinha Solidária do Centro de Vitória, que distribuirá marmitas para pessoas em situação de vulnerabilidade social, será inaugurada em novembro. A iniciativa efetivará a distribuição de 120 refeições no almoço, de segunda a sexta, totalizando 2,4 mil ao mês. Nesta quarta-feira (6), houve a assinatura do termo de acordo entre a gestão de Renato Casagrande (PSB), por meio da Secretaria de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades), e a Associação Alef Bet, que vai gerir o projeto.
Estiveram presentes na assinatura o governador; a primeira-dama, Maria Virgínia Casagrande; e a secretária de Estado do Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social, Cyntia Grillo. A coordenadora de projetos da Associação Alef Bet, Vanessa Abreu de Souza, informa que a Cozinha Solidária funcionará em um espaço alternativo cedido pela Casa de Oração Rechovot, com entradas nas ruas Professor Adão Benezath e Dom Fernando. Com a assinatura do termo de acordo, tem início o período de estruturação, que vai durar três meses.

Nessa fase, além da contratação de profissionais como nutricionista, cozinheiro, e auxiliar de cozinha, também serão feitas a instalação de equipamentos, compra de insumos e instalação da central de gás. De acordo com Vanessa, a Cozinha Solidária vai priorizar a aquisição de alimentos oriundos das agriculturas familiar, urbana e periurbana.
Haverá, ainda, outras duas Cozinhas Solidárias, uma em Vitória e outra em Viana. O investimento a ser feito, segundo a gestão estadual, será de R$ 1,4 milhão por entidade em recursos do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Funcop). Os recursos financeiros são destinados ao custeio e investimento para a aquisição de materiais de consumo e permanentes voltados para a produção e fornecimento de refeições.
A Associação Alef Bet, desde 2020, auge da pandemia da Covid-19, fornece marmitas para pessoas em situação de vulnerabilidade social. É um trabalho que, independentemente daquele que será desenvolvido na Cozinha Solidária, vai permanecer.

A distribuição começou com foco nos idosos. Hoje o público foi ampliado, atendendo às demandas da rede socioassistencial, como as pessoas encaminhadas pelo Centro de Referência em Assistência Social (Cras), e as espontâneas, que são das pessoas que buscam o local. Vanessa explica que, no segundo caso, a assistente social faz uma triagem das pessoas para quem serão destinadas as marmitas e até mesmo a quantidade, já que alguns pegam mais de uma para alimentar a família. As refeições são distribuídas na Casa Aylon, situada no antigo Hotel Majestic, Centro de Vitória, onde há uma cozinha no primeiro pavimento.
Cozinha da Gold
O Centro vai ganhar outra Cozinha Solidária. De iniciativa da Associação Grupo Orgulho Liberdade e Dignidade (Gold), a partir de um edital do Fundo Positivo com foco em projeto de Justiça Climática voltado a mulheres travestis e transexuais. Apesar de a Cozinha estar totalmente estruturada, ainda não há previsão de início do trabalho de distribuição das refeições. O presidente da Gold, Diego Herzog, afirma que é preciso angariar recursos financeiros para compra de insumos e contratação de profissionais.
Para conseguir recursos, a Gold realiza uma campanha de doação de qualquer quantia no Pix (27) 99956-6004. Além de servir alimentação para pessoas trans e travestis, a proposta é conseguir parcerias para atender a população LGBTQIAPN+ como um todo e também o público geral.
A Cozinha Solidária é vista, ainda, como um espaço que pode servir para projetos de culinária, reaproveitamento de alimentos e formação de pessoas para empregabilidade e renda, como cursos de garçom, chapeiro e empreendedorismo na área gastronômica.
Restaurante Popular
Uma outra ação de combate à fome tem sido muito aguardada pela sociedade civil. Trata-se do Restaurante Popular de Vitória. Contudo, não há previsão para sua reinauguração. Quem vai assumir a gestão é o Instituto Amor Incondicional (Aminc), cujo relatório de trabalho aponta que os preços das refeições vão variar de acordo com o perfil do público.

Os critérios de valor a ser pago, bem como para acessar o equipamento, levarão em consideração cadastro no CadÚnico e em serviços como o Centro Pop e o abrigo, no caso de pessoas em situação de rua, e registro no CadÚnico para moradores com renda compatível para subsídio parcial. As condições foram classificadas pelo presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (Comsea), Paulo Teixeira, como “excludentes”.
“Quem tem fome tem pressa. Isso gera dificuldades. Não estão dando possibilidade a quem tem fome de poder comer. As pessoas que querem comida às vezes não têm nem nome”, enfatiza Paulo. Ele destaca que muitas pessoas nem ao menos têm documentação para se cadastrar no CadÚnico e nem todas pessoas em situação de rua são atendidas no Centro Pop ou no abrigo. Para adentrar no Restaurante Popular, segundo o plano de trabalho, será feito reconhecimento facial. “Para que controle facial de quem está com fome? As pessoas só querem comer”, protesta Paulo.
De acordo com o relatório de trabalho, serão oferecidas 50 refeições no almoço e na janta para pessoas em situação de rua e crianças até 12 anos cadastradas em serviços da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) ou no CadÚnico, que terão gratuidade. Aos moradores de Vitória com renda compatível para o subsídio parcial, cadastrados no CadÚnico, serão servidas 1.150 refeições no almoço, pelo valor de R$ 3,00, e 350 na janta, por R$ 1,50. Por fim, quem não se enquadra nesses pré-requisitos pagará o valor de R$ 14,00, público que terá acesso a 400 refeições no almoço e 100 na janta.
Para Paulo, os pré-requisitos estipulados “não possibilitam às pessoas ter acesso ao serviço por causa de sua própria condição”. “É uma maneira ‘elegante’ de excluir. Se você tem uma carência que faz com que não consiga atender ao pré-requisito, te impeço de estar naquele espaço”, avalia. Paulo também questiona o valor a ser cobrado para moradores em geral. “Como chegaram a esse valor?”, indaga, apontando que o Aminc não vai precisar investir em infraestrutura nem pagar para utilizar o espaço.
O valor do contrato do instituto com a gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos), que é de R$ 14,95 milhões, com prazo de vigência de dois anos, contados a partir de 9 de maio de 2025, para Paulo, é “exorbitante”. O presidente do Consea recorda que, no início do primeiro mandato do prefeito, Lorenzo Pazolini (Republicanos), quando começou a discussão de reabertura do Restaurante Popular, a proposta do conselho era que as refeições fossem vendidas para todas pessoas pelo valor simbólico de R$ 1,00. Contudo, a gestão municipal não prosseguiu no diálogo com o colegiado.