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Cozinha Solidária terá início em dezembro na Serra

Espaço vai oferecer refeições em parceria com Centro Cultural

Comunicação MTST

O município da Serra vai receber, no início de dezembro, a primeira Cozinha Solidária do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) no Estado. A unidade será instalada no Centro Cultural Eliziário Rangel, em São Diogo, que mantém um espaço de cultura, arte e ação comunitária, e agora passa também a abrigar um polo permanente de combate à fome e fortalecimento da organização popular.

A iniciativa integra o programa nacional de Cozinhas Solidárias do MTST, que se tornou uma das principais redes populares de enfrentamento à insegurança alimentar no país, desde a sua criação, durante a pandemia de Covid-19. A inauguração vai acontecer após meses de articulação, arrecadação e diálogo com entidades, coletivos e moradores da região.

Em nota, o movimento anunciou a criação da Cozinha Solidária da Serra como “um novo tempo de organização popular e cuidado coletivo”. “O Centro Cultural Eliziário Rangel vem fortalecendo a cultura, a arte e a cidadania na Serra há nove anos — um território vivo onde a comunidade se expressa, resiste e se organiza”, destaca. O texto celebra que um território de resistência vai garantir comida de verdade, acolhimento e dignidade para o nosso povo” e convoca apoio para manter o funcionamento contínuo da cozinha. “Cultura e solidariedade sem teto se encontram onde o povo constrói”, diz a nota. As doações podem ser feitas pelo Pix [email protected]

O centro cultural, reconhecido por sua atuação com coletivos de dança, teatro, música, cinema e educação popular, já dispunha de uma cozinha montada, usada ocasionalmente como cantina. A organização procurou a direção do espaço propondo uma aliança, explica Antônio Vitor, diretor do Centro Cultural. “Temos uma cozinha nossa, que usamos às vezes como cantina, já estava montada, mas que não era um espaço utilizado com tanta frequência”. relata.

Reprodução/ Eliziário Rangel

A parceria, afirma ele, não apenas otimiza a estrutura do centro cultural como amplia sua missão política. “Cozinha é cultura também. A gente fica muito feliz de agregar mais uma frente à rede de coletivos que atua no Eliziário. Alimentação, arte, educação e convivência fazem parte da vida do território. Isso tudo dialoga com o que já construimos aqui”, observa. O espaço, além de produzir refeições, servirá como ambiente para cursos, rodas de conversa, mutirões e oficinas.

A Serra é o município mais populoso do Espírito Santo e apresenta um dos maiores índices de vulnerabilidade social do Estado, com cerca de 92 mil pessoas vivendo em situação de extrema vulnerabilidade, segundo dados do Instituto Jones Santos Neves (ISJN). A escolha do território, afirma a coordenação estadual do movimento, reflete a urgência de enfrentar a fome onde ela se manifesta com maior intensidade.

Vitória inaugurou recentemente um Restaurante Popular, mas a Serra, apesar do tamanho da população, ainda não conta com equipamentos públicos estruturados voltados à segurança alimentar. “A Cozinha Solidária vem justamente para preencher essa lacuna, oferecendo comida de verdade e fortalecendo a organização comunitária”, explica a militância do MTST.

Amanda Rodrigues, representante do movimento no Estado, explica que a escolha da Serra para receber a primeira cozinha solidária no Estado “chega justamente para preencher essa lacuna. Queremos garantir comida de verdade, mas também fortalecer o território por meio da organização popular”, completa. Ela acrescenta que o objetivo da organização é ter um espaço multifuncional, que combine a ação para contribuir com o acesso à alimentação de qualidade com formação e mobilização popular. “A cozinha não é só para distribuir refeições. É um espaço para ouvir a comunidade, realizar atividades de formação e gerar vínculos. Vamos trabalhar com oficinas, mutirões de documentação, rodas de conversa sobre direitos, atividades de geração de renda e debates sobre alimentação saudável e justiça social”, pontua.

Ela reforça que o acordo com o Eliziário Rangel foi “natural e necessário”. “Eles já têm uma história muito consolidada na Serra. São nove anos fortalecendo cultura, arte e cidadania. Fazer essa parceria significa somar força com quem já está comprometido com o território. É um passo importante para nós”, avalia. A previsão é de que a Cozinha Solidária sirva, inicialmente, cerca de 200 refeições por semana. A ampliação dependerá da arrecadação e da mobilização local. O MTST trabalha com a perspectiva de que o funcionamento aumente gradualmente em 2026, chegando a múltiplos dias por semana, como ocorre em outras unidades pelo país.

No Brasil, 58 Cozinhas Solidárias do movimento estão em atividade em 14 estados e no Distrito Federal, já tendo distribuído mais de 6 milhões de marmitas desde 2020. “O Espírito Santo era o único estado do Sudeste sem uma Cozinha Solidária. A partir de dezembro, isso muda. E muda com a força da mobilização popular”, ressalta.

O movimento reforça que a sustentabilidade do projeto depende diretamente da contribuição contínua de apoiadores. “Nosso maior desafio agora é garantir as doações mensais. Elas permitem que a cozinha continue funcionando, pagando desde o gás até a compra de alimentos. Cada valor importa. É a solidariedade que faz o projeto existir”, destaca Amanda. Para Antônio Vitor, a parceria também reafirma a importância dos espaços culturais como polos de resistência e construção coletiva. “O Eliziário é um território vivo, feito pela comunidade. É simbólico que seja daqui que sai a primeira Cozinha Solidária da Serra. É sobre alimentar o corpo, mas também o vínculo, a cultura e o pertencimento”, conclui.

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