Dados foram divulgados pelo Boletim MulherES, lançado pelo governo estadual

A renda média das mulheres pretas em relação às brancas no Espírito Santo tem uma diferença de cerca de 85%, segundo o Boletim MulherES, lançado nessa quarta-feira (29) pelo Observatório Mulher ES, em parceria com a Coordenação de Estatística do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e a Secretaria Estadual de Mulheres. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua Anual, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O boletim, segundo a gestão de Renato Casagrande (PSB), busca atuar no monitoramento e formulação de políticas públicas voltadas à promoção da igualdade de gênero ao oferecer dados e análises para compreensão dos avanços e desafios das mulheres no Espírito Santo em diversas dimensões, como a social, econômica e territorial.
Os números são referentes ao ano de 2024. A maior renda média habitual das mulheres no Espírito Santo é o das brancas, com R$ 3,7 mil. Em seguida vem as amarelas, com R$ 3,3 mil. As pardas têm uma renda média habitual de R$ 2,3 mil. As pretas, R$ 1,9 mil. Por fim, as indígenas, com R$ 1,3 mil, abaixo do salário mínimo, que é de R$ 1,5 mil.
“A diferença entre mulheres brancas e pretas é aproximadamente de R$ 1.800, ou seja, mulheres pretas recebem, nessa estimativa, pouco mais da metade da renda das mulheres brancas. Esse nível de disparidade compromete não apenas a autonomia econômica, mas também a capacidade de investir em educação, saúde, mobilidade social, segurança da renda e património”, diz Jéssica Wanzeller, advogada atuante em perspectiva de Raça e Gênero e especialista em Direitos Humanos e Políticas Públicas.
Jéssica aponta que o fato de mulheres indígenas apresentarem média abaixo do salário mínimo reforça que existem grupos que “enfrentam barreiras ainda mais extremas, possivelmente combinando raça/cor, identidade indígena, localização territorial e menor acesso a ocupações formalizadas”.
“Esse quadro exige que se olhe não apenas para ‘mulheres em geral’ ou ‘diferença entre homens e mulheres’, mas especificamente para os recortes raciais dentro do gênero feminino – pois a desigualdade não é uniforme”, diz Jéssica.
Para ela, as políticas públicas devem considerar medidas direcionadas, como capacitação, apoio à entrada em ocupações de melhor remuneração, promoção de mulheres negras em cargos de chefia e incentivos para formalização para reduzir a defasagem.
“Vale destacar que no Espírito Santo poucas empresas têm políticas específicas para mulheres negras. A visibilidade desse tipo de dado de renda média por raça/cor dentro do gênero feminino ajuda a dar base quantitativa à argumentação de que o racismo estrutural, e também a discriminação de gênero, continuam ativos no mercado de trabalho capixaba”, aponta.
A população feminina do Espírito Santo em 2024 era de 2,1 milhões, uma queda de 0,88% se comparado a 2023. Mulheres negras, que somam pretas e pardas, são maioria, 1,2 milhão, ou seja cerca de 60,8%. As pretas totalizam 253,6 mil. As pardas pouco mais de 1 milhão; as brancas, 821 mil; as amarelas, 5,9 mil; e as indígenas, 5,3 mil.
A pesquisa também apresenta dados sobre a taxa de analfabetismo entre as mulheres a partir de 15 anos. Entre as pretas, o índice de analfabetismo é de 5,8%, o maior. As pardas vêm em segundo lugar, com 4,6%. O analfabetismo entre as brancas é de 2,8%, o menor índice. A pesquisa não traz dados referentes às amarelas e indígenas.

