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Famílias da ocupação Vila Esperança acampam no Palácio Anchieta

Comunidade cobra reunião com o governador para garantir direito à moradia digna

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Famílias da ocupação Vila Esperança, em Jabaeté, Vila Velha, iniciaram na noite desse domingo (31) um acampamento em frente ao Palácio Anchieta, sede do governo, no Centro de Vitória, para cobrar uma resposta de Renato Casagrande (PSB) em relação ao despejo marcado para a próxima semana, e denunciar a omissão do Estado diante das violações de direitos.

A decisão de realizar o ato foi tomada em assembleia. O acampamento começou às 21h e não tem previsão de término. As famílias exigem uma reunião com o governador, já que as tentativas anteriores de diálogo não resultaram em nenhuma solução.

Enquanto a mobilização ocorre, moradores relataram que o empresário que se diz responsável pela área, identificado como Carlos Fernando Machado, foi até Vila Esperança, acompanhado por policiais militares e até drones, para tentar entrar em casas sem mandado judicial. “Estamos aqui na luta, ele aproveitou para tentar fazer inspeção nas casas das pessoas, sem ordem nenhuma. O pior é que conta com apoio do governo e da prefeitura”, critica o morador Josué Santos.

Para manter a mobilização em frente ao Palácio Anchieta, as famílias têm contado com a solidariedade de movimentos sociais e apoiadores. Uma campanha de arrecadação foi realizada para custear alimentação, água potável, colchonetes, barracas e transporte até Vitória. “Graças a Deus tem grupo ajudando, trazendo café, plástico para proteger da chuva”, contou.

O Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM/ES), que acompanha a mobilização, destaca que a luta não é apenas pela permanência em Vila Esperança, mas pela garantia de uma política habitacional que assegure o direito constitucional à moradia digna.

Enquanto isso, famílias inteiras seguem à espera de uma resposta do governo estadual. “A mensagem que eu deixo é direitos iguais. Enquanto uns vivem em apartamentos de milhões, querem tirar das famílias os barracos de lona. Moradia é um direito básico, e nós só queremos igualdade”, afirmou Josué. Com o prazo da ordem de despejo se aproximando, o sentimento é de urgência. “Não temos para onde ir. Se o governador não se posicionar, vai empurrar centenas de famílias para a rua. Queremos apenas ser ouvidos e respeitados”, reforça.

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A comunidade teve o despejo decretado no último dia 20 de agosto, com prazo de 20 dias para deixar o local, em decisão assinada pelo juiz Manoel Cruz Doval, da 6ª Vara Cível, que restabeleceu a ordem de desocupação e homologou um plano que, segundo as famílias e movimentos sociais, não assegura alternativas dignas de moradia.

A medida prevê um auxílio extraordinário de R$ 2,2 mil, em parcela única, a apenas 100 famílias, um número muito inferior ao total, e permite, caso necessário, o uso de força policial, arrombamentos e demolições na operação de desocupação. Os moradores consideram a decisão unilateral e favorável a interesses empresariais, podendo deixar mais de 3,6 mil pessoas desamparadas.

A ocupação Vila Esperança surgiu em 2016 como resposta à falta de acesso à moradia digna na região, durante a gestão do então prefeito Rodney Miranda (Republicanos), em um terreno abandonado que, ao longo dos anos, foi transformado em um território vivo, produtivo e solidário. Os moradores construíram suas casas com recursos próprios e se apoiaram no decreto do ex-prefeito Max Filho (PSDB), publicado em 2020, que declarou a área como de interesse social e possibilitou a desapropriação do terreno para fins habitacionais.

Entretanto, em 2022, o prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos) revogou o decreto de interesse social, cedendo às pressões do setor privado. Desde então, as tentativas de diálogo com a Prefeitura de Vila Velha e o Governo do Estado não avançaram para encontrar uma solução que garantisse o direito à moradia e a permanência das famílias no território. A presidente da ocupação, Adriana Paranhos, conhecida como Baiana, aponta que a empresa Alphaville estaria diretamente ligada às pressões pela retirada das famílias da área.

As famílias da Vila Esperança pedem uma ação concreta do governo estadual para garantir o direito constitucional à moradia e reivindicam a permanência no território onde muitos já vivem há cerca de oito anos. Nesse período, construíram uma comunidade com características próprias, marcada por laços de solidariedade, cultivo da terra e cuidado com a natureza.

A indefinição sobre o futuro da Vila Esperança tem provocado sofrimento emocional entre os moradores. Josué relata que há pessoas em depressão e idosos sem conseguir dormir diante da possibilidade de perderem suas casas. “Tem gente que já estava tomando remédio para depressão, principalmente os mais idosos, que não sabem o que vai acontecer. Essa situação de ‘vai despejar, não vai despejar’ está adoecendo o povo”, disse.

Para os moradores, o plano de despejo homologado pela justiça é insuficiente e injusto. Josué também expressa apreensão pelo impacto social caso o despejo seja concretizado sem alternativas de moradia digna. “A maioria das pessoas não tem para onde ir. Se forem despejadas, vão acabar perdendo emprego, porque vão ter que arrumar onde comer e tomar banho. Imagine 500 ou 600 famílias na rua…vai ser um desastre social. E isso tem responsabilidade do governador e do prefeito de Vila Velha, que têm a caneta na mão para resolver”, criticou.

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