Proposta eram três na Grande Vitória, e ainda não há previsão de novas datas
O ano de 2025 está próximo do fim, e das três cozinhas solidárias previstas em parceria com o Governo do Estado, somente uma está ativa. Trata-se da que é gerida pela Associação Alef Bet, no Centro de Vitória. As outras duas, também no Centro, e em Viana, tinham inauguração prevista para novembro, conforme noticiado por Século Diário, mas o prazo não foi cumprido, e ainda não há previsão de nova data.
Contatada inicialmente por email por Século Diário para esclarecer sobre a questão, a Secretaria de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades) não respondeu à demanda. Ao ser acionada por telefone, informou por meio da assessoria de imprensa, a falta de uma previsão.
A informação sobre as três cozinhas foi dada a Século Diário pela secretária estadual de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social, Cyntia Figueira Grillo, em agosto deste ano. As organizações da sociedade civil interessadas em gerir os equipamentos enviariam as documentações necessárias para análise ainda naquele mês, e o prazo para início do funcionamento seria de três meses, o que não aconteceu. A ideia, depois disso, era inclusive expandir o projeto para o interior do Estado.
A cozinha solidária gerida pela Associação Alef Bet iniciou suas atividades há um mês. Segundo a coordenadora de projetos da entidade, Vanessa Abreu de Souza, são oferecidas entre 120 a 160 refeições por dia, no almoço, de segunda a sexta, das 11h ao meio-dia. O público-alvo é composto por pessoas em situação de vulnerabilidade social e de insegurança alimentar, famílias encaminhadas pela rede socioassistencial, desempregados, agricultores, e beneficiários de programas sociais como Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC).

A Alef Bet foi selecionada por meio de edital de chamamento público. O termo de compromisso foi assinado em julho deste ano, e a Associação recebeu recursos financeiros para investir em infraestrutura e contratar profissionais. O trabalho, aponta Vanessa, é “desafiador”, diante da necessidade de organizar a equipe de trabalho e do atendimento ao público. “É preciso cuidar da equipe, dos beneficiários. Saber acolher, saber receber”, diz.
No preparo da comida, informa Vanessa, há preocupação em servir uma alimentação saudável: sem frituras, com alimentos frescos e cardápio mais leve no calor. A Alef Bet ainda tem outro projeto, o Kit Caldo, de segunda a quinta, por meio do qual oferece para a população idosa um caldo acompanhado de proteína, fruta e pão, junto com a marmita. O cardápio de caldos é diverso, contendo os de feijão, inhame e tapioca. A iniciativa é uma parceria com a Prefeitura de Vitória, com recursos do Fundo Municipal da Pessoa Idosa.
De acordo com Vanessa, há uma parceria com o Mesa Brasil, programa de Segurança Alimentar e Nutricional do Sesc (Serviço Social do Comércio), por meio do qual, semanalmente, são adquiridos alimentos que não serão comercializados e encaminhados para organizações sociais. Uma outra parceria é com o Banco de Alimentos de Vitória.
Iniciativa popular
O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) inaugurou, no último dia 6, a primeira Cozinha Solidária da organização no Espírito Santo. O equipamento funciona em São Diogo, no município da Serra, e passou a integrar o programa nacional de Cozinhas Solidárias, uma das maiores iniciativas populares de combate à fome surgidas no país durante a pandemia de Covid-19. A unidade foi instalada dentro do Centro Cultural Eliziário Rangel, que já atua como espaço de mobilização comunitária, e agora passou a abrigar também um polo permanente de segurança alimentar.
Para o MTST, a escolha da Serra foi estratégica, por ser o município mais populoso Estado e concentrar um dos maiores índices de vulnerabilidade social do Estado – cerca de 92 mil pessoas vivem em extrema vulnerabilidade, segundo o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).
As refeições são entregues por meio de senha, direcionadas principalmente ao público em situação de rua e em vulnerabilidade social, mas abertas a quem comparecer. A Cozinha Solidária pretende manter uma média inicial de 200 refeições por semana, com expansão planejada para 2026, a depender de arrecadações e do fortalecimento da mobilização local.
Para tornar possível o início das atividades, o movimento realiza uma campanha de arrecadação de recursos. A meta é adquirir itens essenciais como fogão industrial, caldeirões, panelas de grande porte, formas, conchas e utensílios reforçados para a produção de refeições em escala comunitária. As doações podem ser feitas via Pix, utilizando a chave [email protected].
Restaurante em Vitória
Depois de nove anos fechado, o Restaurante Popular de Vitória reabriu em setembro deste ano. O equipamento foi criado em 2005, durante o governo de João Coser (PT), no bojo da implementação de políticas federais para segurança alimentar. O fechamento se deu em dezembro de 2016, quando o então supersecretário da gestão de Luciano Rezende (Cidadania), Fabricio Gandini (PSD), hoje deputado estadual, anunciou que o plano era converter o espaço num banco de alimentos para distribuir para as famílias mais necessitadas cadastradas no CadÚnico. Desde então, sua reabertura, que foi anunciada diversas vezes, foi reivindicada pela sociedade civil.
O Restaurante Popular é gerido pelo instituto Amor Incondicional (Aminc). Os preços das refeições variam de acordo com o perfil do público. Os critérios de valor a ser pago, bem como para acessar o equipamento, levam em consideração cadastro no CadÚnico e em serviços como o Centro Pop e o abrigo, no caso de pessoas em situação de rua, e registro no CadÚnico para moradores com renda compatível para subsídio parcial.
As condições, afirmou, na ocasião, o presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar (Comsea), Paulo Teixeira, são “excludentes”. São oferecidas refeições no almoço e na janta para pessoas em situação de rua e crianças até 12 anos cadastradas em serviços da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) ou no CadÚnico, que têm gratuidade. Aos moradores de Vitória com renda compatível para o subsídio parcial, cadastrados no CadÚnico, são servidas refeições no almoço pelo valor de R$ 3,00, na janta, por R$ 1,50. Por fim, quem não se enquadra nesses pré-requisitos paga o valor de R$ 14,00 no almoço e também na janta.

