A ideia é que sejam projetos piloto para depois expandir para o interior

A previsão é que, até o final de 2025, a Grande Vitória ganhe mais duas cozinhas solidárias. Uma será no Centro de Vitória. A outra, no de Viana. Assim, possivelmente a Região Metropolitana fechará o ano com três equipamentos desse tipo, já que no dia 6 de junho houve a assinatura do termo de acordo entre a gestão de Renato Casagrande (PSB), por meio da Secretaria de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades), e a Associação Alef Bet, que vai gerir uma Cozinha Solidária também no Centro de Vitória.
A secretária estadual de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social, Cyntia Figueira Grillo, informa que as organizações da sociedade civil selecionadas por meio de chamamento público e que vão gerir as Cozinhas Solidárias enviarão as documentações necessárias para análise até o final de agosto. Posteriormente, caso esteja tudo correto, será feita a assinatura do termo de acordo. A partir daí, o prazo para o início do funcionamento de fato é de três meses.
O edital de chamamento público, informa a gestora, foi para todos os municípios da Grande Vitória. A escolha das cidades de Vitória e Viana, segundo Cyntia, foi porque as organizações sociais que participaram da seleção são dessas localidades. Quanto à opção do centro de cada uma das cidades para instalação da Cozinha Solidária, foi devido ao fato de que são as áreas com maior concentração de pessoas em situação de vulnerabilidade social e em situação de rua.
As três Cozinhas Solidárias, segundo a secretária, são um projeto piloto. O objetivo é, futuramente, levar a iniciativa para municípios de grande porte do interior. A gestora acredita que após um ano de funcionamento das Cozinhas Solidárias de Vitória e Viana será possível “entender bem o funcionamento” e expandir a proposta para outros lugares. A secretária acredita que pode ser um incentivo para as gestões municipais fazerem algo semelhante.

A Cozinha Solidária cujo termo de compromisso foi assinado no dia 6 de junho funcionará em um espaço alternativo cedido pela Casa de Oração Rechovot, no Centro de Vitória. Com a assinatura do termo de acordo, tem início o período de estruturação, que vai durar três meses, portanto, a previsão de início da distribuição das marmitas é em novembro.
Na fase de estruturação, além da contratação de profissionais como nutricionista, cozinheiro, e auxiliar de cozinha, também serão feitas a instalação de equipamentos, compra de insumos e instalação da central de gás. De acordo com a coordenadora de projetos da Associação Alef Bet, Vanessa Abreu de Souza, a Cozinha Solidária vai priorizar a aquisição de alimentos oriundos das agriculturas familiar, urbana e periurbana.
Cozinha da Gold
O Centro vai ganhar outra Cozinha Solidária. De iniciativa da Associação Grupo Orgulho Liberdade e Dignidade (Gold), a partir de um edital do Fundo Positivo com foco em projeto de Justiça Climática voltado a mulheres travestis e transexuais. Apesar de a Cozinha estar totalmente estruturada, ainda não há previsão de início do trabalho de distribuição das refeições. O presidente da Gold, Diego Herzog, afirma que é preciso angariar recursos financeiros para compra de insumos e contratação de profissionais.
Para conseguir recursos, a Gold realiza uma campanha de doação de qualquer quantia no Pix (27) 99956-6004. Além de servir alimentação para pessoas trans e travestis, a proposta é conseguir parcerias para atender a população LGBTQIAPN+ como um todo e também o público geral. A Cozinha Solidária é vista, ainda, como um espaço que pode servir para projetos de culinária, reaproveitamento de alimentos e formação de pessoas para empregabilidade e renda, como cursos de garçom, chapeiro e empreendedorismo na área gastronômica.
Restaurante Popular
Uma outra ação de combate à fome tem sido muito aguardada pela sociedade civil. Trata-se do Restaurante Popular de Vitória. Contudo, não há previsão para sua reinauguração. Quem vai assumir a gestão é o Instituto Amor Incondicional (Aminc), cujo relatório de trabalho aponta que os preços das refeições vão variar de acordo com o perfil do público.
Os critérios de valor a ser pago, bem como para acessar o equipamento, levarão em consideração cadastro no CadÚnico e em serviços como o Centro Pop e o abrigo, no caso de pessoas em situação de rua, e registro no CadÚnico para moradores com renda compatível para subsídio parcial. As condições foram classificadas pelo presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (Comsea), Paulo Teixeira, como “excludentes”.
“Quem tem fome tem pressa. Isso gera dificuldades. Não estão dando possibilidade a quem tem fome de poder comer. As pessoas que querem comida às vezes não têm nem nome”, enfatiza Paulo. Ele destaca que muitas pessoas nem ao menos têm documentação para se cadastrar no CadÚnico e nem todas pessoas em situação de rua são atendidas no Centro Pop ou no abrigo. Para adentrar no Restaurante Popular, segundo o plano de trabalho, será feito reconhecimento facial. “Para que controle facial de quem está com fome? As pessoas só querem comer”, protesta Paulo.
De acordo com o relatório de trabalho, serão oferecidas 50 refeições no almoço e na janta para pessoas em situação de rua e crianças até 12 anos cadastradas em serviços da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) ou no CadÚnico, que terão gratuidade. Aos moradores de Vitória com renda compatível para o subsídio parcial, cadastrados no CadÚnico, serão servidas 1.150 refeições no almoço, pelo valor de R$ 3,00, e 350 na janta, por R$ 1,50. Por fim, quem não se enquadra nesses pré-requisitos pagará o valor de R$ 14,00, público que terá acesso a 400 refeições no almoço e 100 na janta.
Para Paulo, os pré-requisitos estipulados “não possibilitam às pessoas ter acesso ao serviço por causa de sua própria condição”. “É uma maneira ‘elegante’ de excluir. Se você tem uma carência que faz com que não consiga atender ao pré-requisito, te impeço de estar naquele espaço”, avalia. Paulo também questiona o valor a ser cobrado para moradores em geral. “Como chegaram a esse valor?”, indaga, apontando que o Aminc não vai precisar investir em infraestrutura nem pagar para utilizar o espaço.
O valor do contrato do instituto com a gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos), que é de R$ 14,95 milhões, com prazo de vigência de dois anos, contados a partir de 9 de maio de 2025, para Paulo, é “exorbitante”. O presidente do Consea recorda que, no início do primeiro mandato do prefeito, Lorenzo Pazolini (Republicanos), quando começou a discussão de reabertura do Restaurante Popular, a proposta do conselho era que as refeições fossem vendidas para todas pessoas pelo valor simbólico de R$ 1,00. Contudo, a gestão municipal não prosseguiu no diálogo com o colegiado.