Ato também vai denunciar ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

Em Colatina, noroeste do Espírito Santo, o 31º Grito dos Excluídos, no dia 7 de setembro, vai recordar os quase 10 anos do crime da Samarco/Vale-BHP. Com concentração às 8h30, na praça do bairro São Vicente, a manifestação seguirá rumo à Catedral, no Centro da cidade, portanto, fará uma caminhada paralela ao Rio Doce, atingido pelos rejeitos de minério.
Recordar o crime, afirma o coordenador da Comissão de Justiça e Paz (CJP) da Diocese de Colatina, Genivaldo Lievori, dialoga com o tema do Grito dos Excluídos deste ano, que é “Vida em Primeiro Lugar”, e com o lema, “Cuidar da Casa Comum e da Democracia é Luta de Todo Dia”.
No município, o Grito é organizado pela Diocese por meio da CJP, pastorais sociais, sindicatos e movimentos sociais, como o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB). Uma das reivindicações que serão levadas para a rua será a criação de um Conselho Estadual de Participação Social do Rio Doce, a ser composto por entidades da sociedade civil e pelo poder público, como forma de fiscalizar e acompanhar a aplicação dos recursos do acordo de repactuação firmando em 2024 entre as mineradoras; os governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo; e instituições de Justiça.
A repactuação estabelece que as empresas responsáveis pelo crime pagarão um total de R$ 167 bilhões. Desses, R$ 95,5 bilhões serão transferidos durante duas décadas para os cofres da União, dos governos do Espírito Santo e de Minas Gerais e de 49 municípios afetados, com o objetivo de implementar políticas de reparação socioambiental. Além disso, as mineradoras têm um compromisso financeiro de R$ 31,5 bilhões destinados a ações de reparação direta, que incluem indenizações e suporte às comunidades afetadas.
Genivaldo informa que uma das questões que ainda hoje angustiam os atingidos é a desconfiança a respeito da qualidade da água do Rio Doce, que faz com que as pessoas comprem água mineral. “Até mesmo pessoas com menor poder aquisitivo fazem isso, deixam de comprar uma proteína para adquirir água mineral”, diz.
Como o lema do Grito também fala da defesa da democracia, os manifestantes também vão protestar contra as ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como o “tarifaço”. Ele citou, ainda, “interferência no Judiciário”; tentativa de golpe de Estado ocorrida em 8 janeiro de 2023; e o plano de matar o presidente Lula (PT); o vice, Alckmin (PSB); e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Grito em Vitória
Em Vitória, a concentração para o Grito dos Excluídos será no Portal do Príncipe, em frente à Rodoviária, às 8h, com destino ao Palácio Anchieta. O tema e o lema, aponta o coordenador do Fórum Igrejas e Sociedade em Ação, Giovanni Livio, dialoga com a realidade do Espírito Santo, já que “o legislativo capixaba atenta contra a democracia”.

Como exemplo, ele cita a promulgação pelo presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União), da Lei nº 12.479/2025, que permite veto a atividades relacionadas ao ensino sobre gênero nas escolas nas escolas, após o governador Renato Casagrande (PSB) se omitir e perder o prazo para sanção ou veto. Para ele, outra prova são as moções de apoio a Jair Bolsonaro (PL) aprovadas nas câmaras municipais após ser decretada a prisão domiciliar do ex-presidente.
Giovanni acrescenta que o atentado à democracia no Espírito Santo está expresso também em ações para além do legislativo. “Quando não se garante saúde pública para todos; quando os quilombolas do Sapê Norte têm suas terras agredidas pela Suzano e o Governo do Estado não faz nada; quando a segurança pública é privilégio dos bairros ricos; quando a vida do cidadão vale menos do que a de um gato ou um cachorro”.
Durante o Grito haverá urnas do Plebiscito Popular 2025, que propõe consultar a população sobre temas como a redução da jornada de trabalho, o fim da escala 6×1 e a isenção de Imposto de Renda (IR) para quem recebe salário de até R$ 5 mil, propostas em tramitação no Congresso Nacional e consideradas centrais para a classe trabalhadora. A campanha foi lançada em junho último. “Essa escala é desumana, antidemocrática, escraviza e é preciso lutar contra ela”, defende Giovanni.
A luta pelo fim da escala 6×1 se consolidou como Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 8/25, de autoria da deputada Erika Hilton (Psol-SP), protocolada na Câmara dos Deputados em fevereiro último. A matéria, que altera o inciso XII do artigo 7º da Constituição, estabelece a “duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e 36 horas semanais, com jornada de trabalho de quatro dias por semana, facultada a compensação de horários e a redução de jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho”. A proposta também terá que passar pelo Senado.