Sexta, 03 Mai 2024

'Machismo mata': pesquisa comprova a tolerância com a violência contra a mulher

A pesquisa “Tolerância social à violência contra as mulheres”, divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nessa quinta-feira (27), deixou estarrecida as militantes do Fórum de Mulheres do Espírito Santo. De acordo com dados da pesquisa, 58% dos entrevistados concordaram, total ou parcialmente, que “se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros”. E 63% concordaram, total ou parcialmente, que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família”.  
 
A pesquisa também aponta uma série de contradições nas respostas dos entrevistados. Dos 3.810 entrevistados, 78% concordaram totalmente com a prisão para maridos que batem em suas esposas; e 89% tenderam a discordar da afirmação “um homem pode xingar e gritar com sua própria mulher”.
 
Em contrapartida, 89% dos entrevistados tenderam a concordar que “a roupa suja deve ser lavada em casa”; e 82% que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”.
 
A coordenadora do Fórum Estadual de Mulheres, Karina Moura, ressalta que as militantes já desconfiavam da realidade apontada pela pesquisa, mas a confirmação é preocupante. “As mulheres convivem com o machismo no cotidiano. O lema do movimento feminista é ‘machismo mata’ não por acaso, mas precisamos superar esta realidade”, conta ela. 
 
Ela lembra que todas as esferas de poder, além da sociedade, têm um papel a cumprir, a partir do Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra a Mulher para reduzir os índices desta violência. “Cada um tem sua função, mas no Estado nem as funções mínimas são cumpridas”, afirma Karina. 
 
O Espírito Santo está há anos no topo das estatísticas nacionais de homicídios de mulheres, mas nem o governo anterior nem o atual, sequer cogitaram instituir uma secretaria especial de mulheres, para enfrentar a letalidade feminina e promover políticas públicas de empoderamento ao segmento. 
 
No entanto, Karina salienta, que o Estado criou uma Gerência de Mulheres, que está na estrutura da Secretaria da Casa Civil, sem orçamento nem autonomia, o que impossibilita a implementação e disseminação de políticas públicas em defesa da mulher. “Enfrentar a violência não é só questão da Lei Maria da Penha – que já é um avanço inestimável – mas de mudar toda a concepção social, cultural, e na educação”, diz a militante. 
 
Ela acrescenta que este papel de atuar de forma global no enfrentamento à violência e no empoderamento das mulheres é justamente da secretaria especial, que, caso criada, teria orçamento e autonomia para trabalhar em conjunto com outras secretarias e órgãos governamentais para construir uma política efetiva de enfrentamento à violência e de conscientização da sociedade sobre o tema.
 
Relação com o tráfico
 
Justificativa comum do governo para o alto índice de homicídios de mulheres no Estado é o envolvimento com a criminalidade e o tráfico de drogas. Karina Moura lembra que, analisando a pesquisa, as mortes de mulheres ocorridas somente neste ano no Estado e os casos emblemáticos de assassinatos, não é possível justificar estas mortes violentas pelo viés do crime. “Neste início de 2014, são cinco ou seis casos que tiveram muita repercussão em que as mulheres foram mortas simplesmente porque eram namoradas ou mulheres dos assassinos”, diz ela.
 
A coordenadora do Fórum de Mulheres completa dizendo que estes casos deixam claro que o ciúme e o sentimento de posse ainda são latentes na sociedade, e nocivos para as mulheres. 
 
Violência doméstica 
 
A Coordenadoria Estadual de Enfrentamento à Violência Doméstica do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) divulgou, durante o seminário “A Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher: Desafios e Possibilidades”, nesta sexta-feira (28), o número de registros de mulheres vítimas de violência doméstica na Grande Vitória em 2013. 
 
Foram 17.492 registros, computados os municípios de Vitória, Vila Velha, Cariacica, Viana e Serra, segundo a assessoria de Informação da Polícia Civil. No número de registros constam boletins de ocorrência, Inquérito Policial (IP) Instaurado, prisão em flagrante e medidas protetivas. Só de medidas protetivas foram 3.601.
       

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