Sábado, 04 Mai 2024

Marcha em Vitória reúne luta e arte por inclusão e contra capacitismo

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A Marcha da Pessoa com Deficiência de 2022 no Espírito Santo acontece no próximo sábado (17) em Vitória, reunindo luta e arte em favor de uma sociedade mais inclusiva e contra o "capacitismo" - preconceito contra quem é considerado menos capaz que a média das pessoas, geralmente, associado a pessoas com deficiência (PCDs). 

O evento acontece em alusão ao Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, celebrado todo 21 de setembro. A concentração está agendada para às 8h, no Centro de Referência da Pessoa com Deficiência (CRPD), no bairro Segurança do Lar, na Grande Goiabeiras. No local haverá uma aula de yoga e produção de cartazes e pintura corporal. Às 9h, será dado início à marcha pela avenida Fernando Ferrari, até o Teatro da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), com previsão de chegada às 10h. 

A sugestão é para que as pessoas vistam camisetas brancas e levem balões também brancos. Apesar da cor referente à data ser verde, a opção dos organizadores este ano foi pelo branco, "em sinal de paz, devido à atual conjuntura política". 

Ao longo trajeto, o convite é para que os participantes possam entoar palavras de ordem e pautar falas e discussões referentes às necessidades de inclusão e acessibilidade das pessoas com deficiência, bem como combate à discriminação. No Teatro Universitários estão programadas apresentações musicais, sarau de poesia e outras atividades artísticas a serem confirmadas.

"A realidade é construída e a arte faz a gente acessar outras realidades, outras formas de sentir a vida. A arte faz a realidade ser mais leve", pondera Carina Almeida, diretora sociocultural da Associação de Terapia Ocupacional do Espírito Santo (Abrato-ES), uma das entidades organizadoras.  

Na associação, sua proposta é disponibilizar muitos eventos culturais para pessoas com deficiência. "Elas não têm muito acesso à cultura, esporte e lazer. Muita gente nunca foi à praia", conta. A arte, afirma, "é o plus da vida!". 

A constatação vem de sua própria experiência. "Eu vi o quanto a minha vida mudou graças aos acessos que eu tive a políticas públicas em geral, para que eu pudesse existir, mesmo, e especialmente pela arte. Por isso estou diretora cultural da Abrato, por isso tento incluir muito as pessoas nessas atividades de arte e cultura", conta a terapeuta. 

Carina relata que vem de uma realidade de muita violência, por ter nascido e crescido no bairro Novo Horizonte, na Serra. "Muitos amigos meus adolescentes morreram. Em casa eu não tinha muito acesso aos direitos básicos, à alimentação, à educação e ao lazer. A forma de acessar era pelas políticas públicas e ações filantrópicas. Eu ia para a escola para comer, além de estudar. Pela Rede AICA [Atendimento Integrado da Criança e Adolescente], fiz break, balé, dança contemporânea e afro. Também estudei na Fafi. Entrei na universidade pela política de cotas, me formei, fiz residência. Por isso sou muito defensora das políticas públicas, da arte".

Em sua trajetória profissional, passou por vários equipamentos públicos de atendimento a pessoas vítimas de violações de direitos e hoje trabalha em uma das residências inclusivas mantidas pela Secretaria de Estado de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades), em Jardim Camburi, Vitória. A instituição abriga pessoas com deficiência de 18 a 59 anos que passaram por outros espaços ligados ao Centro de Referência em Assistência Social (Creas) ou foram encaminhadas pela Justiça após o rompimento total de vínculo familiar. 

Ressocialização 

No universo das PCDs, conta Carina, os moradores das residências inclusivas são as pessoas que trazem mais vivo o preconceito que ainda impregna a sociedade, a tendência ao sectarismo e mesmo ao encarceramento de quem não se enquadra nos padrões, físicos ou comportamentais, vigentes. "Estar institucionalizada significa que a pessoa passou por vários processos de violação de direitos e de rompimento de vínculo familiar". 

Na residência, o trabalho maior é a reintegração à sociedade. "A ideia é que elas possam viver num espaço em que se sintam em casa, se sintam sujeitos de direitos, que possam ter suas individualidades respeitadas". 

O segredo, conta, é cuidar da forma de se relacionar com os atendidos. "A forma como a gente se relaciona molda o nosso comportamento diretamente. Elas desenvolveram formas de se expressar e viver que não cabem socialmente. Têm rompantes de agressividade, de violência, mas que são resultado da forma como elas vinham sendo tratadas a vida toda até então. Muitas violações ocorrem até mesmo pelos familiares, que mantêm pessoas com deficiência em cárcere privado, trancado em um cômodo com cadeado, uma pessoa com esquizofrenia que o pai ou a irmã acreditam que estava possuída pelo demônio. E a gente percebe que, ao longo do processo de mudança de tratamento, de inclusão, elas entendem que podem existir e expressar sua humanidade, a gente vê que o comportamento vai mudando", atesta.

A partir dessa evolução, elas são encaminhadas para outras entidades e equipamentos públicos onde podem voltar a se socializar, bem como passam a frequentar atividades culturais, como a Marcha da PCD. "É muita política pública, muita vontade e muito afeto também", sintetiza.

Um caso recente, afirma, que mostra essa mudança positiva, é de um rapaz que tinha um histórico de muitas violências mas que agora, em três meses de residência inclusiva, está fazendo aula de dança e diz que quer arrumar uma namorada. "Ele frequenta a biblioteca da Faculdade Estácio de Sá, está matriculado para conseguir uma vaga de trabalho na cota PCD. É muito bonito a gente ver a potência de uma pessoa que está tendo acesso a seus direitos".

Entidades

Os parceiros da Abrato-ES na Marcha da PCD deste ano são: Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas) de Vitória, Centro de Referência da Pessoa com Deficiência (CRPD), Coletivo Mães Eficientes Somos Nós (MESN), Coletivo de Paralisia Cerebral Capixaba, Conselho Estadual do Direito da Pessoa com Deficiência (Condef), e Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito 15). 

Contribuição 

Quem quiser contribuir com algum lanche ou atividade esportiva ou artística, ainda pode entrar em contato com a Carina Almeida no telefone 27 99640-7072 ou email .

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