Município foi escolhido devido ao elevado número de pessoas em vulnerabilidade
O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) mobiliza a inauguração da primeira Cozinha Solidária do Espírito Santo, para ser instalada no município da Serra, na região da Grande Laranjeiras. A iniciativa faz parte de um esforço nacional para ampliar o combate à fome e à desigualdade, por meio da rede de cozinhas comunitárias criadas pelo movimento em todo o país. A campanha de arrecadação para inaugurar oito novas cozinhas pelo Brasil já alcançou 87% da meta, por meio da plataforma Apoia.se, que permite doações pontuais ou mensais.
“É um número bastante expressivo, que mostra que a campanha vem surtindo efeito. As contribuições mensais são essenciais para manter o funcionamento da cozinha, garantir os custos operacionais e a produção de refeições de forma contínua”, explica Amanda Rodrigues, representante do MTST no Espírito Santo. Atualmente, o Estado é o único do Sudeste que ainda não conta com uma unidade da Cozinha Solidária mantida pelo Movimento. A previsão é que a inauguração ocorra até o final deste ano, projeta a militante.
“Nossa escolha pela Serra se deve ao tamanho do município e ao número de pessoas em vulnerabilidade. São 92 mil pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social, e queremos garantir não apenas uma alimentação balanceada, mas também atividades que fortaleçam o território”, afirma Amanda.
O projeto prevê a produção de cerca de 200 marmitas por semana, com funcionamento inicial de um dia e possibilidade de expansão conforme a arrecadação e o engajamento local. A escolha pela Grande Laranjeiras tem relação com o déficit de políticas públicas na região. “Vitória inaugurou recentemente um Restaurante Popular, mas a Serra, que é o município mais populoso do Estado, ainda não tem nenhuma iniciativa pública similar. A Cozinha Solidária vem justamente para preencher essa lacuna”, reforça.

As Cozinhas Solidárias foram criadas pelo MTST durante a pandemia da Covid-19, em um momento de crise sanitária, social e econômica que tirou a vida de mais de 700 mil pessoas no Brasil. Esses espaços nasceram como resposta à explosão da fome, que atingiu, à época, 33 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar. Mesmo após o fim da emergência sanitária, o cenário continuou grave. No Espírito Santo, o percentual de pessoas em insegurança alimentar chegou a 20,8% em 2022, o dobro do registrado dez anos antes (10,4%).
No território nacional, 58 cozinhas estão em funcionamento, em 14 estados e no Distrito Federal, atendendo mais de 12 mil pessoas de baixa renda diariamente. Juntas, já foram distribuídas mais de 6 milhões de marmitas e quase 4,5 milhões de quilos de alimentos produzidos e servidos em comunidades periféricas de estados como Roraima, Ceará, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Sergipe, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Acre, Santa Catarina e São Paulo. A meta do movimento é ampliar a presença da iniciativa para 66, com a abertura de oito novas unidades em territórios vulneráveis até o início do próximo ano.
O MTST também articula parcerias com movimentos de agricultores familiares, redes solidárias e grupos comunitários. Na Serra, há expectativa de cooperação com a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), que já realiza ações de distribuição de alimentos no município. “É muito importante ter esse vínculo com as famílias agricultoras e com agentes que trabalham com a produção de alimentos saudáveis. Isso fortalece a economia local e garante uma alimentação de qualidade para quem mais precisa”, pontua Amanda.
A Cozinha Solidária da Serra também deve funcionar como espaço de formação e organização popular, servindo como núcleo de convivência e resistência social. “Nosso objetivo é nos aproximar do território, ouvir as demandas e construir junto com a comunidade. Além das refeições, podemos realizar oficinas, mutirões de cadastro social, atividades de geração de renda e de conscientização sobre alimentação e justiça social”, destaca a militante.
O funcionamento a longo prazo depende da mobilização popular e da sustentabilidade financeira da campanha de arrecadação, principal fonte de recursos para custear a estrutura e as refeições. “Nosso foco principal agora é que as pessoas contribuam com as doações. Cada valor ajuda a manter viva a cozinha e a garantir comida no prato de quem tem passado fome. A solidariedade é o que faz esse projeto existir”, reforça Amanda.
As contribuições podem ser feitas via Pix, pela chave: [email protected] ou no site apoia.se/cozinhasolidaria. Nessa quinta-feira (16), em que se comemora o Dia Mundial da Alimentação, a plataforma não cobra taxas sobre as doações.