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‘No Brasil não tem pena de morte, mas por que os jovens estão morrendo?’

Marcha Contra o Extermínio da Juventude Negra denuncia racismo e cobra políticas públicas

Leonardo Sá

Ao sair da praça de Itararé, no Território do Bem, em Vitória, uma das primeiras perguntas feitas pelos participantes da Marcha Contra o Extermínio da Juventude Negra foi?: “no Brasil não tem pena de morte, mas por que os jovens estão morrendo?”. Realizado pelo Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes), o ato marcou a tarde desta quinta-feira (20), Dia da Consciência Negra.

A resposta da pergunta estava em inúmeros cartazes e palavras de ordem que denunciavam a exploração do trabalho por meio da escala 6×1 e a falta de políticas públicas, como as de educação e saúde, além da presença de uma política de segurança que atua com violência nas comunidades periféricas, como por meio de ações policiais que fazem diversas vítimas fatais, que são principalmente jovens das comunidades periféricas.

Leonardo Sá

A marcha já está em sua 18ª edição. Este ano teve como tema “o silêncio que grita” e o destino final a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde houve a apresentação de atrações culturais. A mobilização sempre ocorreu na Grande Vitória, mas não esquece de denunciar a realidade da comunidade negra capixaba como um todo. Um exemplo disso é que fatos recentes, como a tentativa de reintegração de posse em favor da Suzano Papel e Celulose (Ex-Aracruz Celulose e ex-Fibria) na área denominada Fazenda Estrela do Norte, que integra o território quilombola de Angelim 1, em Itaúnas, Conceição da Barra, também foi relembrada.

A marcha contou com a participação de pessoas de várias partes do Espírito Santo, não somente da Capital. Uma deles foi o professor da rede municipal de ensino de São Mateus, norte do Estado, Joel de Jesus Junior. Ele segurava um cartão no qual fazia a seguinte pergunta: “escola, qual a cor dos alunos que serão reprovados neste ano letivo?”.

“A gente caminha para o fim dos ano letivo e já vemos quem estará no índice de reprovação. Na minha experiência, vejo que é recorrente a cor negra. A gente sabe as condições de vidas das famílias e esse ciclo não é rompido, mas a escolas têm que romper. A escola presencia que os alunos negros têm maior índice de reprovação e não há ações para reparar isso”, enfatizou.

Leonardo Sá

Uma das formas de reparação, defende, são iniciativas como horários especiais de reforço, uma atitude que, segundo o professor, tendo foco nas crianças com maior índice de reprovação, atingiria principalmente alunos negros. “Além disso, a escola não pode ser somente aula, um jeito mais tradicional, aquilo que é ‘tedioso’, mas algo que ampare, que dê acolhimento”, afirma, destacando que estudantes negros estão também entre os que mais passam por evasão escolar, o que, segundo ele, trata-se de uma expulsão diante da falta de ações de reparação no ambiente escolar.

O Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) também se fez presente. O estudante Rian dos Santos destacou que os mais afetados pela escala 6×1 são os trabalhadores negros. Por isso, este feriado prolongado “será de muita luta para o povo negro”. “Além da Marcha Contra o Extermínio, teremos, no domingo, o ato pelo fim da escala 6×1”, diz, referindo-se à manifestação que acontecerá às 14h, em frente à Assembleia Legislativa.

Leonardo Sá

Para além do Território do Bem, muitas outras comunidades periféricas sofrem com a perda constante de jovens de forma violenta. Uma delas é a região de Flexal, em Cariacica, conforme relata o padre Carlos Antônio Conceição, da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, que conclamou a Igreja a “tocar essa chaga que é o racismo”.

“Flexal é uma região onde o povo negro está marcado para morrer. Há menos de 15 dias foram assassinados dois jovens negros. Essa realidade está aí, a olho nu. O racismo estrutural vai matando gota a gota o povo negro, excluindo-o de todas as instâncias de poder e decisão nesse país”.

O sacerdote, que também é negro, tem em sua trajetória religiosa ações como a celebração da missa congueira no Carnaval de Congo de Roda d’Água e de missas afro nas comunidades. “A juventude que é dizimada na periferia é a juventude negra. A juventude que não tem acesso à educação de qualidade é a juventude negra. A juventude que está no subemprego é a juventude negra. A juventude marginalizada é a juventude negra”, protestou.

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