Servidores decidem intensificar cobranças à gestão Casagrande por reestruturação
Diante da ausência de respostas concretas do governo estadual às demandas do funcionalismo pela reestruturação das carreiras do Executivo estadual, os servidores decidiram, em assembleia nesta sexta-feira (19), manter o estado de greve e aprovar um calendário de lutas para seguir cobrando a gestão de Renato Casagrande (PSB) em 2026.

O diretor do sindicato, Rodolfo Melo, reforça que o cronograma foi adotado como instrumento de pressão para enfrentar o que a categoria avaliou como “adiamentos sucessivos e silêncio” por parte do governo. Ele aponta que a gestão estadual não apresentou o cronograma de negociação solicitado, com a previsão de encerramento das tratativas, dentro do prazo estabelecido, o que levou a categoria a responder com a intensificação da mobilização para os primeiros quatro meses do próximo ano.
Entre as deliberações, estão previstas novas assembleias já nas primeiras semanas de janeiro, incluindo uma marcada para o dia 21, além de outras reuniões. O dirigente também detalhou o prazo estabelecido para que as demandas avancem dentro da estrutura administrativa do governo. Até o dia 31 de dezembro, cabe à Secretaria de Gestão e Recursos Humanos (Seger) encaminhar oficialmente as demandas relacionadas à reestruturação das carreiras para as demais instâncias superiores do Executivo estadual, destaca. “Demos esse prazo para eles despacharem”, explicou.
O sindicalista relata que a secretaria se comprometeu a reunir, no mês de janeiro, os sindicatos do serviço público e da área da saúde, que concentram as principais pautas previstas para o próximo ano, mas ainda não especificou uma data exata para a reunião.
“Se voltássemos para a paralisação agora, seríamos nós que estaríamos quebrando o acordo”, pondera, ao justificar a manutenção do estado de greve como estratégia política. O movimento paredista durou 31 dias e foi suspenso em novembro, após o governo garantir a reabertura das negociações e se comprometer a não impor penalizações aos trabalhadores. Dentro desse contexto, o sindicato reorganizou as formas de mobilização.
No mês de janeiro, as ações serão prioritariamente virtuais. “Vamos nos manifestar nas redes sociais, tanto do sindicato quanto nos perfis do governador e do vice-governador [Ricardo Ferraço, do MDB]”, afirmou. Ele destacou que essa decisão leva em consideração a realidade social da categoria. “A maioria dos servidores públicos são mulheres, que tiram férias no mês de janeiro para acompanhar o período das férias escolares. Muitas não têm rede de apoio para cuidar dos filhos”, pontua. Ele considera que as mobilizações digitais permitem manter a pressão política sem excluir trabalhadores que, nesse período, enfrentam maiores dificuldades para participar de atos presenciais.
Em fevereiro, com a retomada das atividades da Assembleia Legislativa, o sindicato pretende intensificar o trabalho de base. Estão previstas assembleias, reuniões, panfletagens e visitas aos órgãos públicos. “Fevereiro vai ser um mês de trabalho de base muito intenso”, reforça. A expectativa é que o governo encaminhe à Assembleia, nesse período, o projeto de reestruturação das carreiras do Executivo estadual.
Caso a resposta do governo não atenda às expectativas da categoria, os atos presenciais devem ser retomados a partir de março. Rodolfo explicou que o calendário foi construído a partir de uma avaliação cautelosa do cenário político. “Partimos de um ponto de vista pessimista, do princípio de que o governo pode não dar uma resposta que a base aceite”, afirmou. O diretor do Sindipúblicos reitera que não basta que o governo responda formalmente às demandas. “O governo precisa responder de uma maneira enormemente respeitosa aos servidores públicos do Poder Executivo”.
Os atos previstos para março e abril podem repetir estratégias adotadas no início da greve, com mobilizações localizadas nos órgãos públicos. “A base se reunia em um determinado órgão, como foi no Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Departamento de Edificações e de Rodovias (DER), Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema). Era como se a base abraçasse cada um desses órgãos”, relembrou. A depender do cenário, as mobilizações podem evoluir para passeatas e interrupções do trânsito.
Rodolfo também reforçou as críticas dos servidores à postura do governo estadual. Segundo ele, há um sentimento generalizado de descrédito entre os servidores. “Existe uma base absolutamente desmotivada em relação ao governo, absolutamente descrente quando o governo fala que tem compromisso com o servidor público”, afirmou. Para o dirigente, essa postura afeta diretamente a qualidade dos serviços prestados à população capixaba, especialmente diante da evasão de mais de 50% dos quadros do serviço público estadual.
“Fizemo atos e o governo simplesmente não nos recebeu. Só depois que a base aprovou a manutenção da greve por mais 30 dias é que a gestão decidiu retomar o diálogo para suspender o movimento paredista, condicionando essa suspensão à retomada das negociações”, destacou.
No último dia 3 de dezembro, a diretoria sindical se reuniu com o secretário de Gestão e Recursos Humanos, Marcelo Calmon, e estabeleceu prazo de sete dias corridos para a apresentação de um calendário de negociação e para o agendamento de uma reunião com o governador Renato Casagrande (PSB). Embora o secretário tenha se comprometido a encaminhar a solicitação, até o momento não houve retorno formal.
O Sindipúblicos defende a reestruturação das carreiras como essencial para garantir a valorização dos servidores e mitigar a evasão de profissionais do serviço público estadual, situação que vem comprometendo a qualidade e a continuidade de políticas públicas essenciais. A pauta encaminhada ao Palácio Anchieta se baseia em três eixos: recomposição salarial real, reorganização das tabelas de remuneração, e desenho de progressões que valorizem a permanência no serviço público.
A proposta apresentada à Casa Civil prevê equiparação proporcional entre os salários dos servidores do Executivo e do Judiciário. No Judiciário, a remuneração básica para 30 horas semanais é de cerca de R$ 7 mil, enquanto no Executivo, servidores com a mesma formação ganham R$ 6,9 mil para 40 horas. Para corrigir essa desigualdade, a equiparação proporcional em negociação prevê que os vencimentos do nível superior no Executivo passem para R$ 9,3 mil, um reajuste de aproximadamente 35%. Para o nível técnico, a proposta é de 70% desse valor, e para o nível médio, 50%, seguindo parâmmetros semelhantes aos adotados na lei do piso da enfermagem.

