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Ocupação Vila Esperança marca presença no 31º Grito dos Excluídos

Acusações de Lucas Polese contra o Grito e o Padre Kelder foram repudiadas

Leonardo Sá

Na altura da Vila Rubim, no Centro de Vitória, dois grupos se encontraram. De um lado, movimentos sociais, sindicatos, centrais, pastorais e parlamentares, vindos do Portal do Príncipe, onde estavam concentrados desde as 8h. Do outro, moradores da ocupação Vila Esperança, vindos do Palácio Anchieta, onde estão acampados há oito dias. Ao som de palavras de ordem e “músicas de luta”, os dois grupos se uniram na 31ª edição do Grito dos Excluídos, neste domingo (7).

Ali, a luta pelo direito à moradia se uniu com tantas outras, como defesa do meio ambiente, educação, saúde, fim do extermínio da juventude negra e periférica, democracia e, em tempo de julgamento de atos golpistas, “sem anistia!”. O Grito coloriu as ruas de Vitória com o verde e amarelo da bandeira brasileira, o branco, rosa e azul da bandeira do Espírito Santo, e muitas outras cores, como o vermelho, que historicamente lembra a luta dos trabalhadores.

Juntos, os manifestantes foram até o Palácio Anchieta. “Essa terra é nossa! Vem, que a coisa engrossa!”, entoavam. “Estar no Grito dos Excluídos é um grito de socorro, um grito de esperança”, ressalta Adriana de Jesus Paranhos, conhecida como Baiana, uma das lideranças da ocupação Vila Esperança, localizada em Jabaeté, Vila Velha, que mantém um acampamento no Anchieta contra a ordem de despejo determinada pela Justiça.

Leonardo Sá

Já houve reuniões entre representantes da gestão do governador Renato Casagrande (PSB) e da administração do prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido). A única proposta concreta apresentada até o momento é a ampliação do valor do auxílio financeiro para as famílias, que passaria de R$ 2,2 mil para aproximadamente R$ 3,6 mil – o equivalente a cerca de seis meses de aluguel no valor de R$ 600.

“Às vezes a gente perde o sono de pensar quantas crianças, adolescentes, que serão colocadas na rua, na criminalização. Para onde vão essas crianças, adolescentes, idosos, acamados?”, questiona baiana. Durante o trajeto, por meio dos cantos e batucadas do Levante Popular da Juventude a música Não deixe o samba morrer virou “não deixe a Vila morrer, não deixe a Vila acabar, a Vila é feita de luta, de luta para a gente morar”.

Leonardo Sá

Repúdio a ataques

Nos últimos dias, tanto o Grito quanto o coordenador do Vicariato para Ação Social Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória, padre Kelder Brandão, foram alvo de ataques por parte do deputado estadual Lucas Polese (PL). Em suas redes sociais, o parlamentar afirmou que protocolou denúncia na Cúria Metropolitana contra o sacerdote e a própria Arquidiocese.

Segundo Lucas, o padre “tem se posicionado como diretório do Psol, com declarações públicas defendendo criminosos, defendendo facções, ao mesmo tempo que calunia e imputa crimes contra policiais militares, e muito além, fazendo campanha para o PT dentro da igreja, no altar sagrado”. Em outro vídeo, o deputado afirmou que o convite do padre para participar do Grito, feito nas redes sociais, foi “capicioso”, pois “não teve decência, hombridade de ser honesto” e dizer que, na verdade, era um ato do PT.

A afirmação do deputado foi feita diante do fato de que lideranças do partido prometeram dar mais peso ao tradicional Grito dos Excluídos, num momento em que o Brasil sofre ameaças de intervenção dos Estados Unidos. Diante das afirmações do parlamentar, neste 7 de setembro, a coordenação do Fórum Igrejas e Sociedade em Ação, em conjunto com as entidades que integram a organização do Grito, divulgaram uma nota de repúdio.

“As declarações proferidas, veiculadas em redes sociais e na imprensa, são uma afronta não apenas aos organizadores do Grito, mas a todas as Igrejas Cristãs, que comungam dos mesmos ideais, professam a mesma fé e defendem a vida humana e de todos os seres vivos da fauna e da flora. Os ataques também atingem os movimentos sociais e populares, sindicatos, pastorais, projetos sociais e os partidos políticos que atuam na defesa da democracia”, diz a nota.

O documento destaca que “a tentativa de desqualificar o Grito e seus organizadores demonstra um completo desrespeito ao trabalho pastoral e social de milhares de pessoas que dedicam suas vidas à construção de uma sociedade mais justa e fraterna”.

Acrescenta que “a violência das acusações proferidas ataca o trabalho de toda a Igreja e a dignidade de todas as pessoas e grupos que participam do Grito dos Excluídos e Excluídas. É inadmissível que um representante eleito pelo povo utilize sua posição para disseminar desinformação e ódio, buscando incitar a intolerância contra aqueles que exercem o direito constitucional de manifestação e de luta por um mundo melhor”. A nota finaliza repudiando “o ataque pessoal direcionado ao Pe. Kelder José Brandão Figueira, que é também um ataque à própria Igreja e a todo o trabalho que ele desenvolve em sua missão”.

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