No 24º dia de greve, servidores realizam caminhada até o Palácio Anchieta
Os servidores públicos estaduais em greve realizam na manhã desta quinta-feira (30) uma grande caminhada que atravessa três cidades da Grande Vitória até o Palácio Anchieta, sede do governo do Estado. A mobilização, organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos do Estado (Sindipúblicos), marca o 24º dia de paralisação da categoria, que reforça a exigência por abertura de diálogo e proposta de recomposição salarial que, segundo o sindicato, não representaria impacto significativo nas contas públicas.
“O governo não deu nenhuma resposta, não chamou para conversar. Parece que quer esgotar a categoria em vez de dialogar”, criticou a presidente do Sindipúblicos, Renata Setúbal, durante o início do ato. A concentração começou em frente ao Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), no bairro Jardim América, em Cariacica. De lá, os manifestantes seguem pela Segunda Ponte, atravessando Vila Velha e chegando a Vitória pelas Cinco Pontes. O grupo vai encerrar a caminhada em frente ao Palácio Anchieta, no Centro da Capital, onde pretendem chamar a atenção do governo para a falta de resposta às reivindicações.

“As movimentações estão positivas, a categoria está unida, mas revoltada com a falta de interesse do governo”, acrescentou Renata. Segundo ela, desde o início da greve, o Executivo estadual não apresentou qualquer contraproposta nem convocou o sindicato para uma reunião.
O projeto apresentado pelo sindicato em abril prevê uma reposição inflacionária média de 30% para 3,8 mil servidores ativos, com impacto estimado em 1,1% da folha de pagamento estadual. O cálculo foi elaborado a partir de um estudo interno, que aponta perdas salariais acumuladas ao longo de vários anos. “Não conseguimos entender por que o governo ainda não atendeu essa demanda. O impacto é mínimo. Continuaremos nas ruas e nas redes até sermos ouvidos. Não queremos nada além do que é justo”, reitera Renata.
Ela destaca que a paralisação tem afetado diretamente áreas estratégicas da administração pública, o que evidencia o papel essencial dos servidores na execução das políticas do Estado. “A fiscalização agropecuária, os licenciamentos ambientais e até a agricultura estão sendo prejudicados. Muitos produtores ficam impossibilitados de acessar créditos, porque dependem de documentos do Incaper [Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural]”, explicou.
Para a liderança sindical, a greve mostra à sociedade que os servidores são a ponta de onde as políticas públicas chegam à população. “Esses trabalhadores estão na gestão do Estado e são responsáveis por garantir que o serviço público chegue até as pessoas, seja na saúde, na educação, na agricultura ou no meio ambiente. Quando o governo não valoriza seus servidores, ele também não valoriza o cidadão que depende desses serviços”.
Ao avaliar o cenário político do Espírito Santo, ela considera que o momento é desfavorável tanto para os servidores quanto para o Estado e, principalmente, para a população. “Um governo que não valoriza seus servidores e não busca mediação durante uma greve também não está valorizando o serviço público e, consequentemente, a sociedade”, argumenta. “Até agora, não tivemos nenhuma conversa com representantes do governo. Seguimos sozinhos, com apoio da base, mas sem retorno institucional”, aponta.
Mesmo diante da ausência de diálogo, Renata afirma que a categoria não pretende recuar. A caminhada desta quinta é apenas uma das ações previstas no calendário da greve, que inclui mais uma Assembleia Geral Unificada para deliberar os próximos passos do movimento. “A estratégia é continuar na luta, não sair das ruas até que o governo nos ouça”, resumiu.
Na assembleia, os servidores devem decidir pela manutenção da greve por mais 30 dias, caso o governo não sinalize abertura de negociação. O sindicato também reforça que a mobilização tem sido acompanhada com apoio crescente da população e de outras entidades. “Nossas dores estão sendo ecoadas pela sociedade. O servidor está nas ruas e nas redes, mostrando que o Estado só funciona porque há gente comprometida por trás de cada serviço”, declarou Renata.
Primeira mulher a presidir o Sindipúblicos, ela encara o momento como um teste de resistência e de construção coletiva. “É um desafio enorme conduzir uma greve dessa dimensão, mas também um marco importante. Temos buscado ampliar o diálogo com a base, descentralizar decisões e dar visibilidade à importância de cada carreira”, disse.
A proposta apresentada pelo Sindipúblicos à Casa Civil prevê equiparação proporcional entre os salários entre poderes. No Judiciário, a remuneração básica para 30 horas semanais é de cerca de R$ 7 mil, enquanto no Executivo, servidores com a mesma formação ganham R$ 6,9 mil para 40 horas. Para corrigir essa desigualdade, a equiparação proporcional em negociação prevê que os vencimentos do nível superior no Executivo passem para R$ 9,3 mil, um reajuste de aproximadamente 35%. Para o nível técnico, a proposta é de 70% desse valor, e para o nível médio, 50%, seguindo parâmetros semelhantes aos adotados na lei do piso da enfermagem.

