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Ato LGBTQIA+ vai ocupar praia de Anchieta contra violência e discriminação

Mobilização reunirá cultura, ativismo e resistência em dia internacional de luta

No próximo Dia Internacional Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, em 17 de maio (sábado), a cidade de Anchieta, no litoral sul do Espírito Santo, será palco do “2º Ato contra a LGBTfobia”. A mobilização, marcada para a Praia Central a partir das 15h, é organizada pelo Coletodes – coletivo local de diversidade sexual e de gênero – e vai reunir arte, cultura, ativismo e resistência em um espaço que busca acolher e visibilizar a população LGBTQIA+ da região.

A programação começa com a abertura da Feira da Diversidade, que reúne expositores LGBTQIA+ e apoiadores da causa, em uma iniciativa de fortalecimento do empreendedorismo local e da economia solidária. A partir das 16h, o público poderá conferir apresentações de artistas da região. Já às 19h, tem início a programação principal, com shows e performances de Anizio, DJ Negah, Radhija, da dupla OneInTwo, da Casa Lacraiakunt e da artista Wavilla. O evento também contará com uma performance teatral de Fafah Ramus e Bruno Meneguelli, que farão uma denúncia sobre a violência cotidiana sofrida por essa população.

Casa Lacraia Kunty é uma das atrações do evento. Foto: Maria Júlia/ Divulgação Fórum LGBT da Serra

Para Marcos Nascimento, organizador do evento e integrante do Coletodes, a proposta é ir além da celebração. “Nosso objetivo é promover a conscientização sobre os direitos da população LGBTQIA+, combater a discriminação e celebrar a diversidade no município. Com atividades culturais e de mobilização social, buscamos instituir políticas públicas de inclusão e garantir um espaço seguro para a livre expressão de identidades de gênero e orientações sexuais”, afirma.

O ato acontece em um contexto nacional alarmante. Dados divulgados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), a mais antiga ONG LGBTQIA+ da América Latina, mostram que o Brasil ainda é o país com o maior número de mortes violentas de pessoas LGBT+ no mundo. Foram registrados 291 casos, sendo 273 homicídios e 18 suicídios – um aumento de 8,83% em relação ao ano anterior. Em média, uma pessoa LGBTQIA+ é assassinada ou comete suicídio a cada 30 horas. No Espírito Santo, sete mortes violentas foram registradas em 2024, representando 2,4% dos casos nacionais.

Acervo Pessoal

O Brasil também lidera, pelo 16º ano consecutivo, o ranking de assassinatos de pessoas trans e travestis no mundo, com 122 mortes em 2024. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entretanto, aponta subnotificação e a ausência de dados oficiais consistentes, o que agrava o quadro de invisibilidade. O levantamento identificou três assassinatos de pessoas trans no Estado, mesma quantidade de 2021 e 2022 e um a menos que no ano anterior.

Diante dessa realidade, Marcos defende ações afirmativas urgentes no município. “Anchieta precisa garantir direitos básicos à população LGBTQIA+, como acesso à saúde, empregabilidade e segurança. A gestão anterior, de Fabrício Petri (PSB), já pautava algumas ações em prol da nossa comunidade e o sucessor, Léo Português (PSB), sinalizou que continuará com essa sensibilidade”, relata.

Segundo ele, avanços importantes foram registrados na última gestão, como a criação do Conselho Municipal LGBT. “Em 2024, participamos da primeira conferência LGBT de Anchieta, o que foi um marco para nossa cidade. Na ocasião, o prefeito reafirmou seu compromisso com a nossa comunidade. Esses passos são importantes, mas ainda temos muito a caminhar”, acrescenta. Neste ano, ele destaca como conquista a aprovação do uso do nome social no Pronto Atendimento Municipal.

Entre as principais demandas no município, Marcos destaca a dificuldade de inserção de pessoas trans no mercado de trabalho e o acesso limitado à saúde especializada. “A empregabilidade de pessoas trans aqui é quase inexistente. E o acesso à saúde para demandas específicas da nossa comunidade ainda está bem aquém do necessário”, lamenta.

Ele também comenta sobre os desafios enfrentados para mobilizar a população local, que ainda apresenta resistência às pautas LGBTQIA+. Para enfrentar esse cenário, o Coletodes realiza ações mensais, como a Queimada da Diversidade, realizada em quadras ou campos de areia, por vezes acompanhada de rodas de conversa temáticas. “É um momento de descontração e conexão. Pessoas da comunidade e também de fora têm comparecido. Isso ajuda a quebrar barreiras, promove interação e faz com que mais pessoas conheçam e entendam a nossa realidade”, explica.

Redes Sociais/ Coletodes

A mensagem central do ato, enfatiza Marcos, é de esperança e resistência. “Queremos fortalecer a luta por um futuro sem discriminação, onde a igualdade não seja apenas um ideal, mas uma prática cotidiana. Ainda enfrentamos muita violência, exclusão e invisibilidade, mas seguimos resistindo, ocupando os espaços e reivindicando nosso lugar”.

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