Alexandre Ribeiro, pescador de Barra do Riacho, denuncia impactos para pescadores
“Aqui é uma comunidade tradicional da pesca, muita gente sobrevive da pesca direta e indiretamente”, diz Alexandre Barbosa Ribeiro, presidente da Associação de Pescadores de Barra do Riacho, em Aracruz, litoral norte do Espírito Santo. Em vídeo gravado recentemente, ele denuncia que o último local de pesca de camarão dos pescadores artesanais da região está ameaçado pelas obras de construção do novo porto da Imetame.
O camarão só pode ser capturado em regiões de lama por meio de redes de arrasto, mas o acesso a esses espaços diminuiu radicalmente nos últimos anos. “Hoje do lado norte nós não podemos pescar por causa da proibição da pesca. Aí do lado sul também ficou difícil, porque tudo virou porto. Olha a situação que nós temos”, lamenta.

O pescador explica que Barra do Riacho demarca o limite ao sul da área considerada atingida pela lama de rejeitos de mineração da Samarco/Vale-BHP em 2015, o que impactou no fim da pesca em quatro dos cinco locais tradicionais da pesca do camarão sete barbas, um dos principais produtos do pescado da região.
Na área onde já não há proibição relacionada com o crime socioambiental, a instalação de empreendimentos da cadeira portuária praticamente retirou o espaço pesqueiro. Entre Barra do Riacho e Barra do Sahy, distantes cerca de 8 quilômetros pelo litoral, estão instalados o Portocel, a Transpetro, o Estaleiro Seatrium (Jurong), e agora está sendo implementado o Terminal Industrial Imetame.
No vídeo, mostrando a abundância de camarões e peixes que ainda consegue pegar na região, Alexandre lamenta mais um impacto, visível no paredão de aterro ao horizonte para a instalação portuária. “É um espaço que a gente está perdendo, que vai fazer muita falta. Já está fazendo, porque nossa lama foi cortada pelo meio”.
Além daqueles que pescam regularmente, também há pescadores ocasionais, que têm a pesca como complemento de renda ou como alternativa diante de um momento de desemprego.
O camarão de sete barbas é muito apreciado no litoral de Aracruz e de outros municípios litorâneos, que recebem muitos turistas durante o período de verão. Além de ser consumida por moradores e visitantes, é fundamental para a pesca de peixes como peroá, roncador, corvina e chicharro, sendo usado pelos pescadores como isca para a pesca.
“A gente perdeu sem ter nada em troca. Isso está impactando nossa vida diretamente e causando muita preocupação. Tem pescadores entrando em depressão, adoecendo, com tantos problemas que estão surgido ao longo dos anos”, considera Alexandre. “Não somos contra o progresso, mas o progresso infelizmente vem tirando espaço dos pescadores, tirando fonte de renda que nós temos. Vivemos da pesca e sempre sobrevivemos da pesca. A perda de um pesqueiro desses causa uma perda muito grande em nossas vidas”.