Iniciativa é inédita no país, aponta Lúcia Martins, que levou a proposta para prefeitura
A Prefeitura da Serra vai dividir o município em regiões e realizar encontros entre o prefeito, Weverson Meireles (PDT), os secretários, as mães atípicas e pessoas com deficiência (PCDs), para ouvir as demandas da população e desenvolver políticas de inclusão. O projeto “Vozes que Cuidam: escuta, acolhimento e inclusão” nasce de uma proposta idealizada pelo coletivo Mães Eficientes Somos Nós, e inédita no Brasil, como destaca a coordenadora do grupo, Lúcia Martins.

O lançamento do projeto será nesta quinta-feira (4), no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Laranjeiras, em Colina de Laranjeiras. Segundo Lúcia, a ideia foi concebida a partir de experiências em gestões anteriores e tem como intuito aproximar secretários e gestores da população, especialmente de famílias que historicamente permanecem invisíveis, e construir políticas públicas a partir das demandas concretas apresentadas.
“Na primeira reunião que tive com o prefeito, logo no início da gestão, apresentei essa proposta, que já havia sido construída em experiências anteriores e deu muito certo. O prefeito Weverson aceitou imediatamente e determinou que fosse colocado em prática. A partir daí, a secretária de Direitos Humanos, Lilian Mota, com o apoio da coordenadora de Governo, Lilian Siqueira, transformou a ideia em projeto oficial”, explicou.
Para ela, um avanço importante será a presença direta do prefeito e de todos os secretários nos encontros, e não apenas equipes técnicas. “Desta vez, não serão técnicos que vão ouvir, mas os secretários e o próprio prefeito. Isso garante que as demandas cheguem direto a quem decide e constrói as políticas públicas”, destacou.

Em mais de 14 anos de atuação do coletivo Mães Eficientes Somos Nós na Serra, Lúcia avalia que a invisibilidade social das mães atípicas e pessoas com deficiência, em especial nas periferias, é o principal problema enfrentado. Para além da falta de serviços, as demandas específicas dessas famílias muitas vezes sequer chegam ao conhecimento do poder público.
“Por mais que lutemos, ainda existe uma invisibilidade muito grande. Só conseguimos visibilidade quando estamos na luta, na cobrança. Questões como maternidade atípica e deficiência ainda são invisibilizadas, e o ‘Vozes que Cuidam’ é um passo para mudar essa realidade”, apontou.
Ela cita dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, mostrando que 7,3% da população da Serra têm algum tipo de deficiência. Apesar de reconhecer que o município é um dos que mais avançaram no Espírito Santo em políticas públicas inclusivas, Lúcia considera que ainda há muito a ser feito. “Mesmo com conquistas, temos gargalos em saúde, educação, assistência social e mobilidade. Esse projeto vai mapear os problemas de cada região e ajudar a construir soluções específicas”, destacou.
As audiências públicas serão realizadas em diferentes regiões da Serra – incluindo Jacaraípe, Planalto Serrano, Carapina e a zona rural. “Esse projeto é exclusivo para ouvir as demandas de pessoas com deficiência, mães de maternidade atípica e cuidadores. Nunca foi feito algo assim em nenhum município do país. A Serra será a primeira cidade a executar um modelo piloto de escuta intersetorial voltada a essa população”, reiterou.
A expectativa é de que a experiência sirva de referência para outras localidades. “Queremos que essa prática de aproximação da gestão seja multiplicada. Quando a gente fala em transformar vozes em cuidado, é disso que se trata: ouvir, acolher e garantir que o poder público esteja presente na vida dessas famílias”, diz.
As datas das audiências regionais serão divulgadas oficialmente no evento de lançamento. A expectativa é alcançar todas as regiões do município até o fim do ano. “A gestão precisa se transformar nessas vozes, garantindo respostas rápidas para urgências e construindo soluções permanentes para os problemas estruturais”, ressaltou.