Segunda, 29 Abril 2024

Substituição de trabalhadores por máquinas aumenta desemprego no campo

Substituição de trabalhadores por máquinas aumenta desemprego no campo
Com a chegada do fim do prazo do Ministério Público do Trabalho (MPT) que estipula para 2014 o último ano em que se pode realizar a queima da palha da cana-de-açúcar, o que impossibilita o corte manual, se intensificou o processo de mecanização das lavouras desta cultura e consequente substituição da mão de obra. 
 
No Estado de São Paulo, que tem um vasto polo agroindustrial de cana-de-açúcar – principalmente para a cadeia produtiva do etanol – o impacto desta substituição de mão de obra é ainda mais devastador, principalmente naqueles municípios com o mercado de trabalho girando em torno da cana como Guariba, Pradópolis e Ribeirão Preto. Os trabalhadores que atuavam no corte de cana, por conta da desqualificação, acabam por não conseguir recolocação no mercado de trabalho. 
 
 
No Espírito Santo, a mecanização das lavouras de cana está quase completa. No entanto, os trabalhadores que deixam o corte têm a opção de migrar para outras culturas, mas o desemprego também é inevitável, já que nem todos conseguem a recolocação no mercado. 
 
O produtor rural Marcos Cysne, que, além de cana também cultiva outros gêneros, faz um panorama a partir da observação sobre a mecanização das lavouras. “Atualmente, cerca de 70% das lavouras de cana no Estado estão mecanizadas, o que levou os trabalhadores a migrarem para outras culturas como a do café”, conta ele, que acrescenta que no norte do Estado estão as principais lavouras, principalmente nos municípios de Conceição da Barra, Pedro Canário e Montanha, além de municípios na região de fronteira do norte de Minas Gerais e sul da Bahia. 
 
Ele também ressalta que durante o período de efervescência das lavouras de cana-de-açúcar os trabalhadores vinham principalmente de Alagoas e Pernambuco e, como o ciclo se dá quase o ano inteiro, eles acabavam fixando residência no Estado, principalmente no extremo norte, onde se concentra a plantação. Com a mecanização do campo e com a intensificação de fiscalizações feitas pelo MPT no Estado, que passaram a flagrar condições de trabalho análogas à escrava nos canaviais, os empregadores passaram a contratar mão de obra local para o corte nas poucas lavouras em que ele ainda é feito de forma manual. “Os alojamentos, em maioria, foram desativados e os empregadores encontram mais facilidade de manter os direitos trabalhistas em dia com a mão de obra local”. Além disso, ele ressalta, a mecanização reduz ainda mais a presença de trabalhadores no corte já que uma máquina substitui 80 pessoas, em média. 
 
O produtor rural pondera que, ao contrário da cultura da cana, as outras não têm ciclo quase anual – o café, por exemplo, tem ciclo de dois a três meses ao ano – e isso acaba provocando desemprego sazonal. 
 
Mesmo com essa mecanização do campo, o flagrante de exploração de mão de obra ainda perdura. A Infinity Itaúnas Agrícola S/A (Infisa), usina de cana-de-açúcar localizada em Conceição da Barra, norte do Estado, foi reinserida por decisão judicial em julho deste ano no cadastro de empregadores flagrados explorando mão de obra análoga à escrava, conhecido como Lista Suja, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). 
 
No caso da Infisa, o Ministério Público Federal no Estado (MPF-ES) denunciou dois empregados da empresa por terem submetidos trabalhadores rurais a condições análoga à de escravos. Além dos dois empregados, outras cinco pessoas também foram denunciadas pelo descumprimento de leis trabalhistas em julho de 2012. 
 
 
Os empregados da Infisa Claudemir Fogues e Fernando Antônio Saraiva Rodrigues foram denunciados por serem responsáveis pelas áreas de saúde e segurança da empresa e não terem tomado providências para que os trabalhadores tivessem condições dignas de trabalho. Os trabalhadores explorados foram trazidos dos estados de Pernambuco e Alagoas para trabalharem no corte de cana-de-açúcar em 2008. No momento da inspeção, os auditores do trabalho verificaram que as condições do alojamento que abrigava os trabalhadores eram degradantes.
 
Os outros denunciados foram Paulo Donisete Bernardo, Otacílio Liandro de Souza, Mozart Gonçalves Cavalcanti, Juarez Machado Chaves e José Roberto Dutra da Silva, responsáveis pela intermediação na contratação dos trabalhadores. A Infinity já havia sido incluída na Lista Suja em 31 de dezembro de 2010, sendo retirada em fevereiro de 2011, por decisão liminar. 
 
Eucalipto
 
O desemprego e empobrecimento de trabalhadores não é exclusividade do setor sucroalcooleiro. No plantio e corte de eucaliptos – dominado pela Aracruz Celulose (Fibria) – situação semelhante ocorre. Além de reduzir propriedades indígenas e terras quilombolas, sobretudo na região norte do Estado, as plantações de eucalipto limitam e mitigam à produção de agricultura de subsistência e condições de vida da população camponesa. A monocultura do eucalipto também jogou na informalidade trabalhadores que se dedicavam à agricultura familiar.
 
O relatório Eucalipto/Aracruz Celulose e Violações de Direitos Humanos, produzido por Daniel Silvestre e Maria Elena Rodriguez para a série de cadernos Seminário Internacional do Processo de Articulação e Diálogo (PAD), expõe o aumento do desemprego dos trabalhadores da Aracruz. 
 
O estudo diz que, inicialmente, muitas pessoas empregaram-se no próprio corte do eucalipto, mas não demorou para a Aracruz mecanizar essa atividade e dispensar os motosseristas. Estes trabalhadores, então, migraram para as carvoarias que existem no entorno das plantações de eucalipto. A atividade realizada nestes locais é altamente insalubre e subumana, com grande exploração de trabalhadores, inclusive, de mão de obra infantil.  

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