Quinta, 28 Março 2024

Adolescente com surdez profunda é aprovado no Ifes

Adolescente com surdez profunda é aprovado no Ifes

Uma vida de dedicação e luta, coroada, 13 anos depois, com uma grande vitória. A aprovação do adolescente Fellipe Grego Figueiredo, de 14 anos, na seleção para o curso técnico em Mecânica do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) de Vitória é mais uma prova da importância fundamental da dedicação da família e de apoio do Estado, por meio da escola e do serviço de saúde, para a superação dos desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência.



Fellipe é deficiente auditivo bilateral neurossensorial profundo. É o grau mais alto de surdez, quando a pessoa não ouve nada. E também tem um grau elevado de déficit de atenção. Mas ele não nasceu surdo, a doença surgiu quando o menino tinha menos de dois anos de idade, após uma queda, mas só foi detectada quase três anos depois.



Em poucos meses, conseguiu o implante coclear – o segundo só viria 11 anos depois – e passou a frequentar uma creche municipal em Cariacica, onde foi muito bem recebido, segundo conta sua mãe, a auxiliar de serviços gerais Neusa Grego Figueiredo (na foto à esquerda, ao lado de Fellipe).



No ensino fundamental, a primeira a experiência não foi boa. “Foi decepcionante e desesperador”, relembra Neusa. “A professora e a diretora deixavam ele de lado”, conta. Na segunda escola, Ferdinando Santorio, a surpresa foi gratificante. “Ele teve todo o apoio, a equipe nos abraçou e sempre incentivou”.



O fundamental II, na Manoel Melo, também foi gratificante. “Lá foi desenvolvido um trabalho brilhante!”, exulta Neusa, citando o reforço escolar feito pela professora Rosana Bispo Ursini (à direita) chamado Atendimento Educacional Especializado (AEE), em que todas as disciplinas eram repassadas aos alunos deficientes auditivos. “Na hora que eu me desesperava, a Rosana falava que ele era capaz”, recorda a mãe, emocionada.



“A escola foi nossa grande aliada. Não acho que escola tem obrigação de educar seu filho, não tem que dar limite pro filho, isso é obrigação da família, vem de casa. Mas é uma grande aliada, é um suporte que você tem”, afirma, mencionando que “ele também estudou na Escola Alecia”, referindo à antiga Escola Estadual de Educação Especial Alécia Ferreira Couto, atual Centro de Apoio aos Surdos (CAS).



'Fácil'



Fellipe foi fazer a prova do Ifes com direito a uma hora a mais que os demais alunos, devido à sua surdez profunda. Mas concluiu o teste com apenas uma hora e meia. “Foi fácil!”, disse, alegre, depois do resultado. “Eu 'tô' muito feliz que passei na prova. Aos meus professores muito obrigado”, declarou o adolescente.



No dia do exame, porém, quando o filho ligou dizendo que já tinha terminado a prova em tão pouco tempo, Neusa diz que viu se perderem “todas as esperanças dele poder passar”. “Eu quase morri! Fui encontrar com ele, que estava com um sorrisão, e eu com um nó na garganta. Não tinha esperança de que ele passasse. Pra mim ele não tinha nem lido a prova”, conta, agora, divertida. “Pensa numa mãe boba!”, gargalha.



Entre agradecimentos aos professores e orgulho do filho, Neusa reafirma uma certeza: “Não pode desistir. Educação é tudo. Com estudo, você vai longe. Minha grande preocupação sempre foi que ele conseguisse caminhar com as pernas dele. A gente não recebe nenhum benefício. Tudo que ele vai alcançar vai ser com o estudo. E a escola é a grande parceira que eu tenho. Eles nos ajudam em simplesmente em tudo”, reconhece.



'Ainda são exceções'



A presidente da Associação dos Pais e Amigos dos Surdos e Outras Deficiências (Apasod), Lourdilene Mozer, também comemorou a vitória de Fellipe, afirmando que espera ver, no futuro, histórias assim mais comuns. “Ainda são exceções”, reconhece, ressaltando a importância fundamental da família e das escolas para finais felizes como esse.



“Quando eles [os profissionais de educação] se deparam com uma mãe como a Neusa, eles fazem. E ela encontrou uma equipe maravilhosa!”, comenta. Muitas vezes, no entanto, “o próprio profissional diz que eles [as crianças com deficiência] não são capazes”, lamenta. “Eu tiro o chapéu para os profissionais que atenderam o Felipe e para a Neusa, que é uma mãe batalhadora”, parabeniza a presidente da Apasod, ela mesma mãe de uma adolescente surda e com implante coclear, e que também luta muito para apoiar a filha em sua trajetória de sucesso.



Sobre o Ifes, Lourdilene conta que tem se reunido com o reitor, Jadir Pela, para viabilizar a ocupação de todas as vagas que a instituição reserva às pessoas com deficiência, mas que não estão sendo preenchidas na totalidade. “Por que essas crianças e adolescentes não conseguem passar? Devido a um fundamental mal feito!”, aponta, ressaltando então a necessidade de reativar a Escola Alécia. “A intenção da Sedu [Secretaria de Estado da Educação], esse tempo todo, sempre foi fechar”, denuncia.



Para 2019, Lourdilene diz que espera implantar um material didático na Língua Brasileira de Sinais (Libras) para o Ifes. “Nossos professores estão desenvolvendo, tudo em Libras”, diz, já antevendo a primeira escola bilíngue para surdos do Estado.

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