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Camila Valadão questiona exoneração de diretor escolar em Muqui

Professor aponta perseguição de superintendente regional de Educação

Lucas S CostaAles

A deputada estadual Camila Valadão (Psol) questionou, em sessão da Assembleia Legislativa realizada nessa segunda-feira (23), a exoneração do professor Ériton Bernardes Berçaco da direção da Escola Estadual Marcondes de Souza, localizada em Muqui, no sul do Estado. Valadão classificou a retirada do diretor, efetivada no último dia 17, sob o argumento de “falta de gestão técnica”, como arbitrária.

Em seu pronunciamento na tribuna da Assembleia, Camila destacou resultados positivos recentes obtidos pela escola, como o crescimento no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2023, o maior dentre as unidades da região. A escola também se destacou no mesmo ano por uma aluna que recebeu nota 1.000 na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a única da rede estadual. Ainda de acordo com a deputada, essa não foi a primeira exoneração considerada sem critério.

“É com esses resultados exitosos que muito nos estranha a exoneração do diretor de forma arbitrária. Nós vamos questionar a Sedu [Secretaria de Estado da Educação], porque não é possível exonerar um diretor por mero capricho de uma superintendente, ou achando que diretores de escola precisam ser submetidos a interesses eventuais de quem ocupa cargos no âmbito da Sedu. Mais uma vez, reafirmamos aqui a importância do que chamamos de gestão democrática nas nossas escolas, para que não tenhamos mais casos como esses”, afirmou

No último dia 2, o Ministério Público do Estado (MPES) iniciou apuração preliminar a respeito de suposta perseguição praticada pela superintendente regional de Educação de Cachoeiro de Itapemirim, Fernanda Ferreira Villela Vieira. O próprio Ériton encaminhou representação com denúncias contra Fernanda.

A superintendente assumiu o cargo no final de 2023, e os problemas com Ériton teriam começado em 2024. De acordo com o professor, Fernanda não deu retorno às suas solicitações a respeito da oferta de turmas para 2025, bem como de autorização para dar uma palestra na Superintendência de Guaçuí, em agosto do ano passado.

A superintendente também teria aplicado critérios diferentes na avaliação de gestores. Fernanda teria dito que colocaria a nota 80 como teto. Ériton acabou ficando com nota 74,3, apesar do bom desempenho da escola que coordenava, sendo que outros gestores receberam avaliações acima de 80. O rebaixamento da nota acabou inviabilizando a participação do professor em um edital para intercâmbio cultural e educacional no Chile.

Outro fato que indicaria perseguição foi a retirada brusca da oferta de primeiro ano do Ensino Médio e do 9º ano da escola a partir de 2025, bem como implementação do regime de tempo integral sem o devido apoio. A diminuição da oferta é apontada como prejudicial à série histórica de indicadores educacionais, dificultando o acesso ao bônus desempenho pelos professores e desestimulando a equipe.

Ériton relata outros episódios de intimidação direta. No dia 16 de outubro de 2024, a superintendente e duas assessoras suas teriam feito uma visita surpresa à escola e se reuniram com o diretor. Na ocasião, Fernanda questionou o gestor, dizendo que “teria ouvido conversas de que não aprovava a gestão dela”.

Em outra reunião com professores a respeito das mudanças para este ano, realizada em 13 de novembro de 2024, Fernanda teria acusado Ériton de “demobilizar os pais” e causar “intranquilidade em professores”. Conforme ata da reunião, a superintendente disse aos professores que “não queimem etapas, senão ela terá que queimar também”.

Em mais uma “visita surpresa”, realizada em 5 de maio deste ano, para ouvir professores a respeito de possíveis problemas e insatisfações com a gestão da escola, a irmã da superintendente, que é profissional de Designação Temporária (DT), teria realizado falas intencionalmente desabonadoras à gestão. Em nova reunião, no dia 21 do mesmo mês, foi convocada uma reunião de feedback da avaliação do profissional, quando teria tentado persuadir o gestor a pedir para sair do cargo.

Ériton e Fernanda em evento da rede estadual. Foto: Redes Sociais/Sedu

No dia 26 de maio, houve nova sabatina contra Ériton, com perguntas lidas por dois profissionais, e que o ex-diretor considera que foram “encomendadas”. No dia seguinte, recebeu mensagem com feedback da avaliação, quando recebeu uma nota ainda mais baixa, 72, que ele se recusou a assinar, pelo fato de não constar na ata as suas considerações sobre o tema.

Outro episódio crítico teria ocorrido em 21 de agosto de 2024, após a realização da Feira Regional de Profissões e Projeto de Vida, na escola Getúlio Vargas, em Cachoeiro de Itapemirim – para a qual a gestora exigiu a presença de todos os diretores da superintendência, mesmo que não estivessem atuando na feira. Durante uma reunião com os gestores, Fernanda tratou de uma denúncia anônima sobre suposto favorecimento da empresa de seu marido em compras da superitendência.

Na ocasião, Fernanda teria dito que “havia investigado o número de telefone do dispositivo do qual teriam feito a denúncia. Que quem fez a denúncia estava ali presente, e que nos próximos dias a Vivo iria informar o CPF da pessoa que fez a denúncia, e ela iria saber quem foi. O clima foi de extremo constrangimento, agravado pelo tom de voz e posturas corporais.”

Na denúncia, Ériton afirma que foi diagnosticado com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) em abril de 2024, decorrente da suposta perseguição enfrentada no seu trabalho como diretor da escola.

“Sempre combati posturas autoritárias e primei por uma educação emancipadora, libertadora e crítica. Mas – sob o julgo de olhares conservadores, reacionários, extremistas, pseudocristãos e falso-moralistas –, um gestor LGBT, que tem o respeito e o carinho da comunidade, que defende uma gestão não violenta, com resultados educacionais comprovadamente de qualidade, deve causar incômodo a quem defende ideias contrárias a essas”, escreveu na denúncia.

A exoneração do diretor tem repercutido nas redes sociais, e muitos colegas saíram em defesa de Ériton. Também foi criado um abaixo-assinado pedindo o afastamento imediato de Fernanda Ferreira da superintendência.

‘Denúncia está sendo apurada’

Século Diário procurou a Secretaria de Estado da Educação (Sedu), que respondeu, em nota, que “recebeu denúncia relacionada à Superintendência Regional de Educação (SRE) de Cachoeiro de Itapemirim, a qual está sendo apurada em conjunto com os órgãos competentes. O processo tramita sob sigilo, conforme previsto na legislação vigente, razão pela qual a secretaria se limita a acompanhar os trâmites legais, respeitando a confidencialidade necessária à condução das investigações”.

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