Sexta, 19 Abril 2024

Conta no Twitter denuncia fraudes no sistema de cotas da Ufes

ufes_leonardo_sa- Leonardo Sá

A conta @fraudescotaufes saiu do ar, mas causou discussão no âmbito universitário em torno das denúncias de fraudes no sistema de cotas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), expondo casos de candidatos considerados fraudulentos. A instituição de ensino veio a público responder e o movimento negro universitário se reuniu para retomar as discussões em torno do tema.

A Administração Central da Ufes informou que "a cada ano, busca aperfeiçoar o processo de verificação dos candidatos optantes pela reserva de vagas autodeclarados pretos, pardos ou indígenas (PPI), a fim de coibir adulterações". Cita que, em 2017, o processo se dava por preenchimento de autodeclaração na presença da Comissão de Validação de Autodeclaração Étnico-Racial.

No ano seguinte, a Universidade passou a exigir que os candidatos autodeclarados como PPI [Pretos, Pardos e Indígenas] entregassem junto à autodeclaração uma foto, sendo que em casos de suspeitas que provocassem dúvidas sobre as características fenotípicas, seriam convocados para entrevista presencial. "Naquele ano, dos 156 candidatos convocados para entrevista, 124 compareceram e 42 tiveram sua matrícula indeferida (2,97%)", diz a nota da Ufes.

Ainda assim, os métodos continuaram sendo questionados e, a partir de 2019, a apresentação de fotografia foi substituída por uma entrevista filmada, presencial e individual com a Comissão de Avaliação, tendo sido registrados 85 candidatos com pedido indeferido, considerando as inscrições nos quatro campi da Ufes.

Ainda assim, representantes do movimento negro consideram que o sistema adotado na Ufes ainda apresenta uma série de debilidades. Depois de reunião, os coletivos negros da Universidade deliberaram a preparação de um documento sobre os pontos que consideram críticos em relação à banca de avaliação, juntamente com proposta para aprimorar o processo.

O grupo não sabe quem criou a conta anonimamente nem a razão dela sair do ar, mas considerou que a iniciativa ajudou a reacender o debate que vem sendo travado desde o início do processo de implementação do sistema de cotas, que o movimento negro acompanha de perto.

"O que acontece é que essa banca tem caráter provisório, se inicia e encerra num mesmo processo seletivo. Quando há denúncias de fraudes na mídia ou na Ouvidoria, elas não são canalizadas para a banca, porque ela se finda com o processo seletivo", aponta João Victor Santos, integrante do Coletivo Negrada e do Afronta, articulação que reúne sete coletivos negros universitários.

"Outro ponto crítico é que não há controle social do movimento negro, a Ufes é a única banca do Brasil em que não há participação de militantes negros por parte da sociedade civil", aponta ele, que é integrante da sociedade civil na comissão do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), que é permanente.

Na Ufes, a comissão é formada por sete membros indicados, incluindo pesquisadores da questão étnico-racial. "A verificação feita considera única e exclusivamente as características fenotípicas do candidato (de afrodescendentes ou de indígenas), jamais a ascendência", explica a Ufes. Quando algum pedido é indeferido, o candidato pode apresentar recurso em prazo de até 48 horas.

A entidade também pontua em sua nota que denúncias sobre fraudes e tentativas podem ser encaminhadas à Ouvidoria da Ufes por meio do e-mail para serem apuradas pela Universidade.

Além da questão do sistema de cotas, o movimento negro universitário também discutiu em sua reunião o ensino à distância (EAD) durante o período de pandemia. "Vamos publicar até a próxima segunda-feira um posicionamento sobre a metodologia EAD e a questão racial. Não somos a favor do ensino à distância na universidade pública e queremos qualificar o debate com a questão racial", disse João Victor diante da iminente votação sobre a questão que está marcada para acontecer no próximo dia 16 no Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão da Ufes (Cepe).

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