“Roletaço” marcou insatisfação com falta de garantias à permanência estudantil

Estudantes do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes), campus da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) em São Mateus, realizaram um ato no Restaurante Universitário (RU) na manhã dessa sexta-feira (9), para denunciar a falta de alimentação adequada, problemas sanitários, e o que classificam como “descaso institucional com a permanência estudantil”, especialmente dos alunos do turno noturno.
A mobilização teve como estopim o episódio da noite anterior, quando o RU serviu apenas 200 marmitas para o campus. Segundo relatos, não houve qualquer aviso prévio sobre a limitação no atendimento. De acordo com estudantes presentes, uma funcionária da empresa terceirizada – não informada pela Ufes – responsável pelo restaurante informou que a distribuição foi interrompida porque a comida havia acabado e parte dos funcionários não compareceu ao trabalho.
A situação, no entanto, não é pontual. Em nota divulgada pelo Diretório Acadêmico de São Mateus, os representantes estudantis afirmam que essa não foi a primeira vez que os estudantes têm seus direitos básicos e sua dignidade violados pelas condições precárias do campus, “especialmente no que diz respeito ao acesso e uso dos espaços por quem estuda no turno noturno”, destaca.
Além da falta de alimentação, os estudantes denunciam condições insalubres e inseguras no serviço prestado: alimentos vencidos, objetos estranhos encontrados nas refeições – plásticos e até pedaços de pano – e diversos casos de intoxicação alimentar. As denúncias têm sido registradas também nas redes sociais.
“Essa situação é inadmissível. Estão negando nossos direitos mais básicos”, diz a nota do diretório. “Não é apenas por marmitas! É por todo o descaso com o corpo estudantil e suas necessidades. É sobre não pensarem no nosso bem-estar, na nossa saúde, na acessibilidade e permanência”, protestam.
Uriel Santana, presidente do Diretório Acadêmico, participou de uma reunião realizada pela manhã entre representantes da administração do campus, da empresa terceirizada, da Diretoria de Gestão de Restaurantes da Ufes (DGR) e estudantes. Ele criticou a falta de respostas efetivas e relatou o sentimento de abandono. “Em alguns momentos sugeriram que os próprios estudantes vissem quem vai precisar de marmita no dia seguinte. Tem gente que sai de Minas Gerais para ter aula todo dia. Imagina chegar e descobrir que não tem comida”, afirmou.
Beneficiário do auxílio estudantil da faixa A – voltado a estudantes em maior vulnerabilidade –, ele revelou que evita comer no RU por já ter sofrido intoxicação alimentar. “Prefiro me virar e trazer comida de casa. Nós não nos sentimos cuidados. O RU foi uma conquista histórica do movimento estudantil. Agora, nem conseguimos ter acesso digno à alimentação”, criticou.
O presidente do DA também apontou problemas na gestão de pessoal pela terceirizada. “Eles mesmos relataram dificuldade para contratar funcionários. Para o turno noturno, de sete, só dois estavam trabalhando e foram transferidos para concentrar todos no diurno, e o noturno ficou sem atendimento. Agora estão servindo marmitas. É muito complexo”, afirmou. Segundo ele, a única resposta concreta recebida na reunião foi o aumento da quantidade de marmitas noturnas de 200 para 250 — número ainda considerado insuficiente pelos estudantes.
Na tarde desta sexta, o Diretório solicitou o cancelamento das aulas noturnas como forma de garantir o direito à alimentação e segurança dos estudantes, mas segundo ele, foi negado pela Diretoria de Gestão de Restaurantes da Ufes. “Saímos da reunião sem garantias. Prometeram resolver até segunda-feira, mas não estamos confiantes. O problema é antigo, já trocaram a empresa, e tudo continua igual. Mesmo sendo um dos RUs mais caros do Brasil”, enfatiza.
Um novo ato já é sinalizado para os próximos dias, caso não haja avanços concretos até segunda-feira. “Não vamos nos calar diante do abandono”, garantem os estudantes.
‘Sanções’
Em nota oficial, a Diretoria de Gestão de Restaurantes da Ufes afirmou que acompanha de perto a situação do RU de São Mateus. Informou também que vai notificar formalmente a empresa terceirizada responsável, exigindo a regularização imediata do serviço sob pena de sanções previstas em contrato.
Ainda segundo a nota, desde o início do ano foram adotadas, em caráter emergencial, medidas como o fornecimento de marmitas durante o jantar por causa da “insuficiência de pessoal terceirizado”. A DGR diz “reiterar o compromisso com a qualidade da alimentação, a transparência na gestão dos RUs e o bem-estar da comunidade acadêmica”.