Ramon Matheus, do Cejuve, diz que dados de pesquisa mostram efeito do “discurso midiático”
O ingresso de jovens no curso superior estagnou no Espírito Santo. Dados da plataforma Datajuve, que abarcam o período de 2016 a 2023, apontam que em 2021, 15,14% dos jovens entre 18 e 29 anos cursavam uma faculdade. O percentual se manteve praticamente o mesmo em 2022 (15,42%) e caiu em 2023 (14,22%). Os números foram levantados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD).
O presidente do Conselho Estadual da Juventude (Cejuve), Ramon Matheus, relata que tem percebido, nos contatos com jovens de diversas partes do Estado, que há “um processo de esvaziamento do que significa cursar um curso superior”. Ele atribui isso ao discurso feito pela mídia, principalmente por digitais influencers.

“O discurso que tem sido feito é de que cursar uma faculdade não é caminho para o desenvolvimento de alguém, não transforma vidas. Quando vamos dialogar com a juventude, ela reproduz o sentimento de que faculdade não serve para nada”, diz, destacando que grande parte dos jovens quer trabalhar sem carteira assinada, com o argumento de que não terão patrão e farão seu próprio horário.
“Sobre essa questão de que ‘faculdade não serve para nada’, a gente precisa se perguntar quem está dizendo isso e pra quem. As grandes redes privadas de educação fazem seu lobby dizendo que aprovaram seus alunos em primeiro lugar na universidade federal. A classe média não deixa de ver a universidade pública como perspectiva”, avalia.
Para Matheus, o discurso de desvalorização da faculdade é somente mais uma forma de precarizar a juventude periférica, distanciando-a de uma vida profissional qualificada e fazendo com que se torne mão de obra barata. De acordo com Matheus, principalmente o público masculino, acredita que é preferível adquirir uma moto e trabalhar com entrega, aderindo a um processo de uberização.
“O discurso do empreendedorismo tem ganhado adesão principalmente entre uma galera adolescente, no final do Ensino Médio, que, muitas vezes, precisa de entrada rápida no mundo do trabalho para ajudar a família”, afirma.
Em 2016, segundo o Datajuve, 12,9% dos jovens entre 18 e 29 anos cursavam faculdade. Os percentuais seguintes foram 12,66% (2017), 13,18% (2018), 13,8%(2019) e 14,07% (2020). No que diz respeito ao ingresso no Ensino Médio, a pesquisa mostra que houve um aumento na escolarização de jovens abarcando a faixa etária de 15 a 17 anos.
Um Estado menos jovem
Conforme consta no Datajuve, houve queda da população jovem no Brasil e no Espírito Santo, levando em consideração dados a partir de 2012. Em todo o país, nesse ano, as pessoas entre 15 e 29 anos correspondiam a 26,26%. Em 2023, esse dado foi reduzido para 22,54%. No Espírito Santo, em 2012 essa faixa etária abarcava 25,93% da população, caindo para 20,97% em 2023.
As variações negativas estão presentes nas três faixas etárias que compõem a população jovem, que são 15 a 17, 18 a 24 e 25 a 29. Contudo, a queda mais acentuada é na faixa etária de 15 a 17 anos, principalmente na cidade de Vitória. Em 2012 esse grupo representava 4,51% na Capital. Em 2023, era 2,7%.
No que diz respeito ao sexo, observa-se uma queda maior na população feminina em todas as faixas etárias entre 2012 e 2023, principalmente entre 15 e 17 anos. A população jovem feminina nessa faixa etária teve uma variação negativa de -21,33%, enquanto a masculina variou -6,10% no mesmo período. Em relação à raça, a maioria dos jovens do Espírito Santo, 66,5%, se declaram pretos ou pardos. Os brancos são 33,1%, amarelos 0,30% e indígenas 0,30%.