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Professores cobram pagamento do piso salarial em Linhares

Protesto na Câmara denunciou “manobra jurídica” da gestão de Lucas Scaramussa

Professores da rede municipal de Linhares, no norte do Espírito Santo, ocuparam a Câmara de Vereadores nessa segunda-feira (5), para denunciar o descumprimento do piso salarial nacional da educação básica. A mobilização cobrou que a gestão de Lucas Scaramussa (Podemos) se adeque à legislação federal que garante o valor mínimo a ser pago aos profissionais da educação, estabelecido em R$ 4.867,77 para a carga horária de 40 horas semanais. Aplicando a proporcionalidade para 25 horas, jornada praticada no município, o valor base para professores com formação em nível médio (antigo magistério) deveria ser de R$ 3.042,35.

Felipe Reis/Secom

No entanto, segundo os trabalhadores, o valor inicial do salário é de apenas R$ 2,2 mil. O restante é pago por meio de gratificações complementares, que não são incorporadas ao vencimento básico. “Nós não temos o piso. Eles pagam um complemento, que é uma manobra jurídica para parecer que estão cumprindo a lei e chegar nos R$ 3.042, que é o valor proporcional da nossa jornada de 25 horas semanais”, explicou Thábyta Grassi, uma das coordenadoras do Coletivo de Professores de Linhares.

Ela acrescenta que o prejuízo para os trabalhadores também pode trazer consequências no longo prazo, principalmente para a aposentadoria. “Quando o fundo calcular a aposentadoria, será sobre o salário básico. Então, acabamos sendo lesados duplamente”, alertou. A professora ressaltou que o grupo continuará em mobilização e diálogo com os vereadores, na tentativa de estabelecer um canal direto com o prefeito e com a secretária municipal de Educação, Rosineia Bergamaschi, para garantir os direitos e melhores condições para os trabalhadores da educação, que vêm enfrentando desvalorização financeira.

A dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), Noêmia Simonassi, também participou do ato. Ela reforça que o valor base definido pela lei federal é claro, e qualquer pagamento inferior, mesmo com complementações, caracteriza descumprimento. “Os professores estão com o salário inicial muito defasado. A nível de Brasil, é uma vergonha. Depois querem dizer que o povo não cumpre as leis, mas os próprios gestores desrespeitam uma regra clara”, criticou, destacando que o salário precisa estar incorporado no vencimento base, com todas as progressões, referências e adicionais calculados sobre ele.

Além de Linhares, Noêmia citou outros municípios onde os professores têm buscado garantir seus direitos. Em Ponto Belo, também no norte do Estado, a prefeitura, sob gestão de Marcos Coutinho (MDB), concedeu um reajuste de 22% para os profissionais da educação, contemplando os anos de 2023, 2024 e 2025, para alcançar o piso nacional de forma integral.

Copel

A representante do Sindiupes destacou a morosidade dos processos judiciais que envolvem o tema. Segundo ela, mesmo quando os sindicatos recorrem à Justiça, os governos – estadual ou municipais – entram com sucessivos recursos até levar o processo ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde algumas ações movidas pela entidade estão há mais de dez anos paradas.

Após a sessão dessa segunda-feira, os professores solicitaram ao presidente da Câmara, Ronald Passos (Podemos), espaço na próxima Tribuna Livre, prevista para junho. A ideia é apresentar a realidade da categoria e reforçar a urgência de uma solução por parte do Executivo Municipal.

‘Comum no Estado’

O descumprimento do piso salarial é uma prática comum no Espírito Santo. O advogado Amarildo Santos, que atua em causas sobre o tema, aponta que são mais de 20 prefeituras que descumprem a lei federal, incluindo Vila Velha, Vitória e Cariacica, na região metropolitana; Linhares, São Mateus, Mantenópolis, Marilândia e São Roque, no norte do Estado; e Cachoeiro de Itapemirim e Vargem Alta, no sul do Estado.

Apesar da possibilidade de receber repasses do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) para cumprir a obrigação do valor mínimo estipulado, ele critica que muitos gestores sequer realizam os trâmites necessários para comprovar a necessidade do repasse federal, ainda mais a crise salarial na educação. Diante da inércia dos gestores municipais, muitos professores recorrem à Justiça para garantir seus direitos.

Em São Mateus, os profissionais do magistério da rede municipal também iniciaram numa série de mobilizações pelo cumprimento do piso no último mês de abril. O descumprimento do piso nacional do magistério por diversas prefeituras capixabas, somado a condições de trabalho precárias, tem levado a um crescente adoecimento da categoria, alerta a vereadora Professora Valdirene (PT).

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