Sexta, 26 Abril 2024

Professores são contrários à militarização de escola em Cariacica

escola_cerqueira_lima_CreditosElaineDalGobbo Elaine Dal Gobbo

Professores da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Cerqueira Lima, em Jardim América, Cariacica, e mais 22 entidades, divulgaram nessa quarta-feira (28) uma nota em que posicionam contrários à transformação da unidade em Escola Cívico-Militar. "O município possui um Conselho de Educação, um Fórum de Educação, um sindicato de professores, um Conselho Escolar ativo, uma direção escolar (eleita pela comunidade escolar via voto direto), e um Grêmio Estudantil, que foram desrespeitados pela ação arbitrária do secretário de Educação [José Roberto Martins Aguiar] em não consultar esses grupos em nenhum momento", denunciam.

Segundo a gestão de Euclério Sampaio (DEM), o projeto da Escola Cívico-Militar busca atender inicialmente entre 600 e 1.000 alunos da rede municipal do 6º ao 9º ano, nos turnos matutino e vespertino. Além disso, está previsto o apoio do governo federal, disponibilizando profissionais das forças armadas com formação pedagógica para atuar com o corpo docente da unidade, ampliação dos espaços pedagógicos e possíveis reformas necessárias para adequação da unidade de ensino ao modelo proposto.

Para os professores, os princípios democráticos e a proposição de construção coletiva de "uma sociedade mais justa, fraterna e com menos desigualdades" foram feridos no processo de adesão à Escola Cívico-Militar, o que se repete na "transferência da ação de educar para o policial". Segundo o grupo, "se o professor não pode assumir funções na polícia (o que não nos opomos), ao policial não deve ser atribuído o poder de ensinar".

Os profissionais da educação destacam que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) estabelece que a atuação como docente na educação básica, como diretor de escola ou em outras funções na área do magistério, tem como pré-requisito formação específica em licenciatura no ensino superior. Apontam, ainda, que o Plano Nacional de Educação tem como algumas de suas diretrizes a superação das desigualdades educacionais; formação para o trabalho e a cidadania; promoção do princípio da gestão democrática da educação pública; valorização dos profissionais da educação; e promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental.

Esses princípios, declaram, não foram considerados pelo município, pois os docentes foram comunicados da decisão dois dias antes da consulta pública, realizada em 31 de março. "Durante a consulta, não houve espaço para o diálogo e discussão, ocorrendo somente a exposição do programa via plataforma YouTube, sem a possibilidade de participação mais ampla da sociedade", apontam.

Uma das justificativas da prefeitura para a transformação do Cerqueira Lima em Escola Cívico-Militar, informam os professores, é o baixo Índice de Desenvolvimento Educacional (Ideb) da escola, os números de evasão e a situação de vulnerabilidade social dos alunos. Porém, a categoria afirma que desde 2005 a escola tem ocupado os primeiros lugares nos resultados referentes ao município no Ideb, com exceção de 2015 e 2019.

Os professores acrescentam que a EMEF Cerqueira Limaa tem aprovado anualmente de três a seis estudantes nos Institutos Federais do Espírito Santo (Ifes), além de alcançar "excelentes resultados nas Olimpíadas de Matemática, com destaque para as menções honrosas e os primeiros lugares". Eles rebatem também o argumento da evasão. "Na verdade, o problema está na permanência. Isso significa que o Estado que culpabiliza a escola pelos índices da evasão, é o mesmo que não logra garantir a permanência do estudante que, normalmente por razões socioeconômicas, não permanece na unidade escolar".

Os docentes também questionam a declaração de que a escola cabe nos parâmetros de vulnerabilidade social. "Por conta dos bons resultados, do histórico de mais de 50 anos, e da certeza da EMEF ser uma das melhores escolas de Cariacica, a unidade atrai diversos estudantes que não vivem em Jardim América. Numa amostra de 192 alunos entrevistados, 72% usam transporte público, transporte escolar ou veículo próprio para chegar à escola. Essa porcentagem elevada prova que o estudante, não morador do bairro, consegue arcar com os custos de estudar longe de casa, caso contrário, frequentaria escolas mais próximas de onde residem", pontuam.

Assinam a nota a Afirmação-Rede de Cursinhos Populares; Associação dos Docentes da Ufes (Ufes); Associação Intermunicipal Ambiental em Defesa do Rio Formate e seus Afluentes (Asiarfa); Campanha Nacional pelo Direito à Educação; Centro de Estudos Bíblicos do Espírito Santo (Cebi/ES); Coletivo Câmara; Coletivo Educação pela Base; Conselho de Ensino Religioso no Espírito Santo (Coneres); Diretório Central dos Estudantes da Ufes (DCE); Federação das Associações de Moradores de Cariacica (Famoc); Fórum de Educação de Jovens e Adultos do Espírito Santo; Fórum de Mulheres do Espírito Santo (Fomes); Fórum Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum DCA/ES); Frente Popular em Defesa da Educação; Grupo de Estudos em Educação Comparada – Proex/Ufes - Geduc; Fórum de Mulheres Cariacica; Juventude da Resistência Socialista do Partido dos Trabalhadores; Movimento Enfrente; Diretório do Psol de Cariacica; Pastoral Operária Espírito Santo (PO); Sindicado de Trabalhadores da Ufes (Sintufes); e Sindicato dos Servidores de Cariacica (Sindismuc).

Falta de Transparência

Após a consulta pública do dia 31 e março, o integrante do Conselho Municipal de Educação de Cariacica e coordenador da Famoc, Dauri Correa, relatou que a iniciativa foi feita com foco na comunidade escolar, ou seja, profissionais da educação, estudantes e seus familiares, que poderiam votar. Porém, um link de formulário do Google Forms foi enviado para o chat, fazendo com que qualquer pessoa pudesse ter acesso e dar seu voto.

Além da organização da votação, Dauri questionou também a transparência no resultado, uma vez que não havia sido divulgado o número de favoráveis e contrários. Dias depois, a gestão municipal encaminhou ofício para o Cerqueira Lima comunicando que a votação contemplou as seguintes categorias: membros da comunidade, alunos, pais e servidores. No ofício, consta que houve um total de 720 votos, sendo 656 considerados válidos. Desse total, 493 foram favoráveis e 163 contrários.

Para Dauri, os números não refletem a realidade, sendo o quantitativo de pessoas que participaram da consulta superior ao que foi apresentado. Outra crítica é em relação ao quesito membros da comunidade. O coordenador da Famoc acredita que é preciso especificar quem são esses membros. "São lideranças comunitárias? Se são, quais e de que movimentos?", questiona.

Live invadida por hackers

Nessa terça-feira (27), professores do Cerqueira Lima e o Coletivo Educação Pela Base organizaram uma roda de conversa sobre Escola Cívico-Militar, mas a live foi invadida por hackers. Segundo a integrante do Educação Pela Base e pedagoga da rede municipal de ensino, Emiliana Amorim, hackers falaram palavras de baixo calão e exibiram imagens pornográficas. Para dar prosseguimento à atividade, as pessoas tiveram que sair da sala e entrar novamente.

A live, segundo Emiliana, foi uma das ações de um Grupo de Trabalho criado com os professores do Cerqueira Lima para debater com a sociedade sobre a implantação da Escola Cívico-Militar. Embora já tenha sido anunciada uma no bairro Itanguá, que está em fase de obra, a pedagoga afirma que, no Cerqueira Lima, a implantação será mais imediata, pois a escola já está pronta.

"A população de Cariacica quer discutir o assunto. Muita gente participou da live, não somente a comunidade escolar do Cerqueira Lima, mas também de outras escolas do município. Temos que fazer a discussão para entender o que é a militarização", ressalta.

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Comentários: 3

Dauri Correia da Silva em Quinta, 29 Abril 2021 13:16

#cerqueiranãoétubodeensaio

#nãoaECIMemCariacica

#cerqueiranãoétubodeensaio #nãoaECIMemCariacica
Esequias Mendonça em Sábado, 01 Mai 2021 08:35

Sem diálogo não há progresso no ensino e em qualquer entidade governamental ou não.
#nãoaECIMemCariacica

Sem diálogo não há progresso no ensino e em qualquer entidade governamental ou não. #nãoaECIMemCariacica
Henrique Dias Pier em Quarta, 07 Julho 2021 21:14

Mais um bando de imbecis.. que ficam criticando as escolas civico militar.. o engraçado que este bando de IMBECIS.. sabem que maioria ESMAGADORA DA SOCIEDADE APOIA ESTAS ESCOLAS.. FAZ O SEGUINTE... FAÇAM UM PLEBICITO POPULAR.... CLARO QUE NÃO IRÃO FAZER.... POIS SERÃO ESMAGADOS PELO RESULTADO QUE IRA APOIAR AS ESCOLAS CIVICO MILITAR

Mais um bando de imbecis.. que ficam criticando as escolas civico militar.. o engraçado que este bando de IMBECIS.. sabem que maioria ESMAGADORA DA SOCIEDADE APOIA ESTAS ESCOLAS.. FAZ O SEGUINTE... FAÇAM UM PLEBICITO POPULAR.... CLARO QUE NÃO IRÃO FAZER.... POIS SERÃO ESMAGADOS PELO RESULTADO QUE IRA APOIAR AS ESCOLAS CIVICO MILITAR
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