Sábado, 04 Mai 2024

CPI do Cachoeira esteve perto de elucidar ligações da Delta no ES

CPI do Cachoeira esteve perto de elucidar ligações da Delta no ES

Uma das poucas vozes a se levantar pela continuidade das investigações sobre as relações da empresa carioca Delta Construções com agentes políticos na Comissão Parlamentar de Inquérito (CP I) do Cachoeira, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) revelou que os trabalhos estiveram próximos de levantar as relações do esquema de corrupção no Espírito Santo. “Pode ter tido um escândalo igual a esse na história do País, mas não maior que esse”, afirmou.



Em entrevista exclusiva a Século Diário, durante passagem por Vitória neste final de semana, o senador apontou que a CPI levantou a existência de três empresas fantasmas que teriam “lavado” o dinheiro da empresa no Espírito Santo. As investigações indicaram um total de R$ 600 milhões da Delta que teriam alimentado um sistema de propina e caixa dois para agentes políticos em todo País. Desse total, o esquema teria destinado entre R$ 60 e 80 milhões apenas no Estado.



A Garra Transportadora e Locação Logística de Veículos Ltda é apontada como uma das três empresas fantasmas que teria “lavado” o dinheiro da Delta no Espírito Santo. A empresa, que foi registrada no município de Viana no final de 2010, teve a terceira maior movimentação financeira oriunda da Delta. De acordo com o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão ligado ao Ministério da Fazenda, a empresa carioca enviou R$ 23,5 milhões entre 2011 e o primeiro quadrimestre de 2012. Mas apesar disso, a CPI não teve tempo para descobrir quem teria ficado com esse dinheiro.



“Nós conseguimos indicar como funcionava o ciclo [do dinheiro] no Espírito Santo. Penso que a identificação dos beneficiados seria uma questão de tempo”, lamentou o parlamentar, que defendia inicialmente a continuidade das investigações até o início das manobras de parlamentares da chamada “bancada da Delta”, que garantiram um desfecho frustrante aos trabalhos com a aprovação do relatório final contendo apenas uma página e meia.



Randolfe disse que tentou até a última reunião, em dezembro passado, a aprovação de um relatório final – até mesmo a versão oficial do relator, o deputado Odair Cunha (PT-MG), que enfrentou resistência de membros da CPI e da mídia por sugerir o indiciamento de jornalistas que mantinham relação com o bicheiro Carlinhos Cachoeiro, principal agente do esquema na região Centro-Oeste. “Aquele relatório era uma luz de lamparina na escuridão da corrupção”, avaliou o senador do Amapá.  



Mesmo assim, Randolfe acredita que as investigações podem continuar nos órgãos competentes. “Acho que o Ministério Público Federal (MPF) terá elementos em detalhes para elucidar o destino desse financiamento”. Ele lamentou a perda da oportunidade para elucidar um dos maiores escândalos de história na política brasileira.



Sobre o esquema de corrupção, o senador é definitivo quanto à destinação do dinheiro a políticos, sobretudo, os governadores dos estados onde a Delta atuava: “Identificamos um esquema de corrupção que envolvia negócios bilionários em 23 dos 26 estados da Federação, entre eles, o Espírito Santo. A Delta financiava projetos políticos e eleitorais para depois ser beneficiada com grandes contratos públicos”.



Essa relação da Delta com políticos teria sido a grande motivação do encerramento súbito dos trabalhos. “Essa bancada da Delta agiu para proteger os governadores envolvidos até aquele momento, em especial, o governador de Goiás, Marconi Perilo (PSDB), e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). Aliás, a bancada do PMDB teve forte influência sob o comando do senador Renan Calheiros (PMDB-AL)”, revela Randolfe, que isentou o senador Ricardo Ferraço (PMDB) de qualquer ligação com a movimentação para encerrar a CPI.



Randolfe acrescentou que pretende escrever um livro sobre as últimas 24 horas da CPI do Cachoeira. Ele conta que viu toda a sorte de manobras por parte dos parlamentares que defendiam o encerramento das investigações contra os governadores e a Delta: “Foi uma madrugada de conchavos, traições de última hora. Era informado de tudo que acontecia, mas tínhamos esperanças de aprovar o relatório. Mas até parlamentares que não haviam pisado na CPI acabaram votando na última sessão”.

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Domingo, 05 Mai 2024

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