CPI do Cachoeira não esclarece ligações políticas da Delta no Estado

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira deve encerrar os trabalhos no Congresso Nacional sem esclarecer as ligações políticas da empresa carioca Delta Construções no Espírito Santo. A decisão pelo encerramento dos trabalhos, ao final deste ano, frustra a expectativa das investigações alcançarem os negócios da companhia em solo capixaba. No governo estadual, a empreiteira faturou mais de R$ 210 milhões em contratos, a maioria deles firmados durante a gestão Paulo Hartung (PMDB).

Desde o início dos trabalhos, em abril deste ano, a apuração da CPI mirou os contratos da empreiteira na região Centro-Oeste, onde foi investigada a relação do contraventor Carlinhos Cachoeira com políticos. Dessas relações surgiu o nome da empreiteira Delta Construções, logo sendo associada a um forte esquema de tráfico de influência com o mundo político. 



Paralelamente ao esquema ligado ao contraventor, as relações comerciais e políticas da Delta no Estado foram levantadas. Tanto que, logo após a abertura dos trabalhos, o deputado federal Paulo Foletto (PSB) – que fazia parte da comissão até renunciar à vaga em circunstâncias que não foram esclarecidas – chegou a anunciar a convocação do engenheiro José Maria Oliveira Filho, possível ligação da empresa com o ex-governador Paulo Hartung (PMDB). 



José Maria é irmão do ex-secretário de Fazenda e atual sócio do ex-governador no escritório de negócios Econos, José Teófilo de Oliveira. Ele respondia como diretor comercial da Delta Incorporações, um dos braços do grupo liderado por Fernando Cavendishi. No entanto, o pedido de convocação sequer foi apresentado pelo socialista. 



O outro membro da bancada capixaba na CPI é o senador Ricardo Ferraço (PMDB), que foi apontado pela Revista Istoé como um dos membros da bancada que estaria interessada no transcorrer – ou não – das investigações. O cartão de visitas da Delta Construções no Estado aconteceu com as obras do programa de asfaltamento de estradas vicinais “Caminhos do Campo”, executado pela Secretaria de Estado da Agricultura (Seag), comandada na época pelo hoje senador. 



Na oportunidade, o senador publicou nas redes sociais a lista de contratos da Delta Construções e se resumiu a rechaçar qualquer ligação entre ele e a empresa, deixando sem resposta as ligações da Delta com o seu padrinho político, Paulo Hartung. Ao todo, a empresa faturou mais de R$ 210 milhões em contratos com o governo estadual, vínculos que já foram aditivados no governo Renato Casagrande. 



Mesmo sob investigação na CPI, a empresa carioca faturou um novo contrato na Companhia de Saneamento do Espírito Santo (Cesan). O acordo, que vence em maio do próximo ano, prevê a prestação dos serviços de manutenção de redes de esgoto nos municípios de Vitória, Serra e Fundão – todos localizados na Região Metropolitana, pelo valor de R$ 8,4 milhões. 



A empresa ainda mantém outro contrato com a Cesan, que deve render um faturamento mensal em torno de R$ 1,43 milhão. Pesa nesta relação, o fato da direção da Cesan ter sido transformada em um "bunker" hartunguete na atual gestão. A direção da companhia é formada por dois ex-secretários no governo passado, o atual diretor-presidente, Neivaldo Bragato, e o diretor administrativo e de Meio Ambiente, Anselmo Tozi.