Domingo, 28 Abril 2024

Relatório da CPI do Cachoeira aponta ligações de esquema no Espírito Santo

Relatório da CPI do Cachoeira aponta ligações de esquema no Espírito Santo

O relatório final da CPI do Cachoeira, apresentado nessa quarta-feira (21) pelo relator das investigações, deputado Odair Cunha (PT-MG), confirmou a ligação do esquema de lavagem de dinheiro da Delta Construtora S/A com empresas sediadas no Espírito Santo. Nos últimos anos, duas empresas laranjas capixabas aparecem na contabilidade das empresas investigadas.  No mínimo, somente essas duas empresas lavaram mais de R$ 23,5 milhões entre 2011 e este ano.



A célula da organização criminosa no Espírito Santo só ficou atrás dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo em volume de operações. 



Segundo o texto do relatório, distribuído entre os membros da CPI e que poderá ser alterado até a leitura oficial adiada para a próxima semana, foram identificadas 77 empresas laranjas que teriam sido utilizadas para lavar o dinheiro da Delta Nacional no pagamento de propinas com políticos, financiamento de campanhas eleitorais e repasse de dinheiro para a organização criminosa encabeçada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. 



As suspeitas teriam partido da similaridade de dados cadastrais entre as empresas como, por exemplo, a proximidade nas datas de abertura e encerramento dos negócios, ou até mesmo a falta de registros de funcionários na RAIS (Relação Anual de Informações Sociais). No total, as empresas laranjas do esquema teriam movimentado R$ 429,68 milhões nos últimos dez anos. 



“As movimentações financeiras entre as empresas suspeitas e as investigadas ocorrem em maior volume no estado de São Paulo, seguido pelo estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Tais fatos são coerentes tendo em vista a existência de maior número de empresas situadas no estado de São Paulo”, narra um dos trechos do relatório. 



Foram identificadas como laranjas no Espírito Santo, as empresas Garra Transportadora e Locação e Logística de Veículos Ltda ME e Michelin Espírito Santo Comércio, Importação e Exportação Ltda, sediadas nos municípios de Viana e Vila Velha, respectivamente. Os nomes das empresas constaram na contabilidade das empresas investigadas por ligações com a Delta Construtora. 



Deste grupo, a Garra Transportadora foi a única empresa laranjas local que teve o registro das movimentações financeiras descrito no relatório final da CPI. De acordo com as investigações, a empresa de fachada movimentou um total de R$ 23.507.076,06 nos últimos dois anos, fato que a coloca entre as principais beneficiárias no esquema de lavagem de dinheiro da Delta no País. 



A relação entre a Garra e a empreiteira carioca teve início em 2011, pouco depois da constituição da empresa de fachada no dia 25 de outubro daquele ano. Naquele ano, a Garra recebeu R$ 13.110.272,92 vindo da conta da Delta. Em 2012, os membros da CPI identificaram o recebimento de R$ 10.396.803,14 nas contas da empresa registrada nos nomes de dois laranjas: Eliandro Paula da Conceição e Gláucio Barcelos, que sequer residem no Espírito Santo. 



O relatório final da CPI faz ainda referência à empresa Michelin Espírito Santo, que também seria utilizada no esquema de lavagem de dinheiro entre as empresas do esquema Delta/Cachoeira. No texto, o relator pede que o Ministério Público Federal (MPF) dê continuidade às investigações, com a quebra do sigilo fiscal da empresa, para apurar a origem do dinheiro recebido no esquema. 



Negócios no Estado 



O texto também cita as relações comerciais da Delta Construções com órgãos públicos no Espírito Santo. De acordo com a CPI, a empreiteira carioca recebeu um total de R$ 1,458 bilhão em contratos com órgãos públicos estaduais no País entre os anos de 2002 e 2012. No Estado, a empresa recebeu R$ 152,87 milhões em acordos no mesmo período. 



A principal fonte de receitas da empresa foi a Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan), com R$ 51.278.412,51; seguidos pela Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz), com R$ 44.428.066,33; Departamento de Estradas e Rodagens do Estado (DER-ES), com R$ 31.041.903,16; e Poder Judiciário do Estado, com repasses de R$ 26.121.859,16. 



O relatório também avançou sobre as transações financeiras entre a Delta e os órgãos públicos municipais. A empresa carioca recebeu pouco mais de R$ 6 milhões em acordos com prefeituras capixabas. Segundo a CPI, as receitas partiram dos cofres da prefeitura da Serra (R$ 6.058.889,13), Aracruz (R$ 41.368,01) e Barra de São Francisco (R$ 4.809,45). 



Delta e o governo Hartung

 
Desde o início das investigações, em abril deste ano, a relação entre a Delta Construções e o ex-governador Paulo Hartung (PMDB), cujo governo serviu de “porta de entrada” para a empresa no Estado, foi levantada nos bastidores da CPI. Tanto que, logo após a abertura dos trabalhos, o deputado federal Paulo Foletto (PSB) – que fazia parte da comissão até renunciar à vaga – chegou a pleitear a convocação do engenheiro José Maria Oliveira Filho, possível ligação da empresa com o ex-governador.
 
José Maria é irmão do ex-secretário de Fazenda e atual sócio do ex-governador no escritório de negócios Econos, José Teófilo de Oliveira. Ele respondia como diretor comercial da Delta Incorporações, um dos braços do grupo liderado por Fernando Cavendishi. No entanto, o pedido de convocação sequer foi apresentado pelo socialista.
 
Outro membro da bancada capixaba na CPI foi o senador Ricardo Ferraço (PMDB), que chegou a ser apontado pela Revista Istoé como um dos membros da bancada que estaria interessada no transcorrer – ou não– das investigações. A empresa iniciou a sua relação comercial com o poder público no Estado com as obras do programa de asfaltamento de estradas vicinais “Caminhos do Campo”, executado pela Secretaria de Estado da Agricultura (Seag), comandada na época pelo hoje senador.
 
Mesmo sob investigação na CPI, a empresa carioca faturou um novo contrato na Cesan. O acordo, que vence em maio do próximo ano, prevê a prestação dos serviços de manutenção de redes de esgoto nos municípios de Vitória, Serra e Fundão – todos localizados na Região Metropolitana, pelo valor de R$ 8,4 milhões. A direção da companhia é formada por dois ex-secretários do governo passado, o atual diretor-presidente, Neivaldo Bragato, e o diretor administrativo e de Meio Ambiente, Anselmo Tozi.

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