Quinta, 16 Mai 2024

Apesar de controvérsias, Ibama dá sinal verde para obras do Porto Central

Apesar de controvérsias, Ibama dá sinal verde para obras do Porto Central

Mesmo sendo alvo de uma série de controvérsias, o projeto do Porto Central, no município de Presidente Kennedy (litoral sul capixaba), recebeu autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). Nessa segunda-feira (8), o órgão ambiental publicou a licença prévia (LP) do empreendimento, cujo investimento foi orçado em R$ 5 bilhões. Apesar do sinal verde, o projeto portuário depende de alguns fatores, entre eles, a resolução do impasse em torno dos terrenos situados na área do porto, além da própria viabilidade econômica do negócio.



De acordo com o parecer do Ibama, o porto capixaba deve assumir uma vertente multiuso, como relatou a matéria publicada pelo jornal Valor Econômico. O terminal deve lidar com a rotina de exploração e produção de petróleo na camada pré-sal, tendo em vista a proximidade com as bacias petrolíferas de Campos e do Espírito Santo, além do atendimento de diferentes demandas da indústria, com as extensões do cais de atracação. Outra vantagem comparativa é a proximidade de acessos rodoviários, como a Rodovia do Sol (ES-060), que fica próxima ao entroncamento com a BR 101.



Segundo o projeto conduzido pela empresa TPK Logística, em parceria com os holandeses do Porto de Roterdã, o empreendimento será construído em uma área com 1,5 mil hectares, com possibilidade de expansão para até 2,2 mil hectares. A previsão é que o Porto Central cause impactos significativos na geografia local, já que a o projeto prevê a escavação de um grande canal artificial em terra com comprimento de 3.645 metros, além de canais secundários, bem como a dragagem de um canal de acesso em mar que terá 22 quilômetros de comprimento.



Chama atenção que esses impactos não passaram à margem do órgão ambiental, que chegou a apresentar mais de 40 pedidos de revisão e esclarecimentos aos responsáveis pelo Porto Central. No documento publicado pelo Ibama em julho passado, os técnicos alegaram que faltavam argumentos fundamentados para a avaliação adequada sobre a viabilidade ambiental do empreendimento. Além dos aspectos ambientais, o relatório também destacou pontos referentes às populações tradicionais e na área social. No entanto, a licença foi concedida pouco mais de cinco mesmo depois.



Mesmo assim, a primeira fase do licenciamento não autoriza o início da realização do empreendimento. Segundo os ritos do órgão ambiental, as obras só podem deflagradas na fase seguinte – licença de instalação (LI) – em que o órgão autoriza o início das intervenções desde que observadas as condicionantes descritas na licença ambiental.  A terceira e última fase é a licença de operação (LO), quando se avalia a implantação dos programas ambientais e se autoriza - ou não – o início da operação do complexo portuário. As obras devem ter uma duração de um ano e três meses. A previsão inicial dos responsáveis é de que o Porto Central entre em operação em 2017.



Controvérsia



No relatório anterior, baseado no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado pela empresa, o Ibama havia solicitado uma descrição mais detalhada dos cursos d'água e áreas alagáveis na Área de Influência Direta (AID) do empreendimento, visando uma quantificação mais precisa das Áreas de Proteção Permanente (APPs). O órgão ambiental também enumerou que "uma das deficiências do EIA foi justamente a avaliação de impactos sobre os corpos d'água, especialmente na porção oeste do empreendimento (área úmida), de modo que não foi possível por esta equipe técnica analisar a extensão e a importância desses impactos".



Sobre a atividade pesqueira no balneário, que será amplamente impactada pela construção do porto, o Ibama solicitou a visualização das áreas que abrigam tal atividade com sobreposição do mapa de instalação e operação do Porto Central e descrição dos locais de restrição de uso, definindo em quais dessas áreas a restrição será temporária e permanente. O órgão ambiental também requereu a inclusão das comunidades pesqueiras que, na audiência pública, questionaram sua ausência na documentação.



O relatório preliminar também apontou o impacto do empreendimento no núcleo urbano, tendo em vista que a projeção da empresa é de que as obras devem mobilizar um total de 4,7 mil trabalhadores. No documento, o Ibama avaliou que o local onde os funcionários deverão ficar alojados "não parece ser a mais indicada", uma vez que está projetado para as proximidades do empreendimento que os trabalhadores sofrerão os impactos diretos desse empreendimento, sobretudo com relação ao material particulado e à emissão de ruídos.



O documento do Ibama fez menção, inclusive, às divergências em relação à propriedade dos terrenos onde está prevista a instalação do complexo portuário. Segundo o órgão ambiental, os responsáveis pelo empreendimento deveriam esclarecer a titularidade das áreas. Pelo visto, não foi preciso nem mesmo a solução do impasse para a concessão da LP. Isso porque, o caso está longe de ter sido solucionado, mesmo com a intervenção na Justiça do Estado do Espírito Santo – que é sócio minoritário do porto, com aproximadamente 1% do capital social.



No mês passado, o Tribunal de Justiça do Estado (TJES) confirmou a realização de uma perícia para avaliar o valor real dos terrenos situados na área do empreendimento. A medida já havia sido solicitada pelo juiz da comarca de Presidente Kennedy, em função da divergência entre o valor oferecido pelo Estado, que promoveu a desapropriação das áreas sob justificativa de interesse público, e a quantia pleiteada pelos representantes da empresa Predial Itabirana, que é responsável pela comercialização do loteamento Cidade Balneária Solimar, que fica “dentro da área” do porto.



O governo estadual chegou a depositar em juízo cerca de R$ 27 milhões, porém, os donos do loteamento entendem que o valor de mercado da área chegue à casa dos R$ 100 milhões. Enquanto a Justiça não define o valor definitivo da desapropriação, o juízo de 1º grau não concede a imissão na posse – documento que reconhece a transferência do terreno aos responsáveis pelo empreendimento. Apesar de a perícia ter sido solicitada em setembro, os trabalhos ainda não foram iniciados.



Outro detalhe do empreendimento é a ligação do negócio com parceiros comerciais do governador eleito Paulo Hartung (PMDB), desde a contratação do seu escritório de consultoria Éconos – na época que o governador ainda não havia entrado formalmente na sociedade – com empresas responsáveis pela especulação imobiliário em Presidente Kennedy. Tanto que a ZMM Empreendimentos e Participações Ltda, criada para dar vazão à negociata para compra de terrenos para a Ferrous Resources em 2008, formalizou o pedido de licenças ambientais para a implantação do Porto Central.

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Sexta, 17 Mai 2024

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