Sexta, 17 Mai 2024

Apoio aos transgênicos em detrimento dos orgânicos é equívoco da Embrapa

Apoio aos transgênicos em detrimento dos orgânicos é equívoco da Embrapa
Um dos grandes problemas a respeito dos alimentos transgênicos é o marketing da expectativa criado em relação a esses supostos produtos "milagrosos". A constatação é de Leonardo Melgarejo, engenheiro agrônomo e ex-membro da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em entrevista à página do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).



Na iminência do lançamento de uma nova variedade de alface, que teria a capacidade de conter até 15 vezes mais ácido fólico do que a planta natural, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Empraba), o pesquisador afirma que a transgenia é dispensável para resolver deficiências alimentares. Como explica, uma alimentação variada e saudável é o suficiente para que o corpo receba todos os nutrientes responsáveis pelo seu bom funcionamento.
 
Uma alimentação saudável, orgânica e sem venenos (agrotóxicos) é apontada por Melgarejo como a solução para problemas que ocorrem aos fetos e às mulheres grávidas durante a gestação devido à falta de nutrientes essenciais. Além disso, como afirmou, a superdosagem de um alimento ou de um nutriente acaba por causar desperdício, uma vez que as vitaminas que não são absorvidas pelo corpo são eliminadas pela urina, e até mesmo dependência por conta da crença de que o consumo excessivo, e não variado, é o correto.



O pesquisador ainda apontou que a longevidade humana está em evidência em regiões onde não há amplo uso da biotecnologia, incluindo o uso de agrotóxicos, que onde é usado faz com que a qualidade de vida decresça e com que o número de doenças que afetam os cidadãos se ampliem. A cidade de Veranópolis, no Rio Grande do Sul, como exemplificou, apontada com a maior longevidade do estado gaúcho, é onde a população tem o costume de manter hortas domésticas para complemento da alimentação.
 
Recentemente, o Ministério da Saúde da província argentina de Córdoba, divulgou o relatório “Informe sobre o Câncer em Córdoba 2004-2009”, que evidencia que a área na Argentina com maior índice de utilização de agrotóxicos e de plantios de transgênicos, a chamada "pampa gringa", é também a região com maior taxa de mortes.



No Brasil, diversos estudos publicados por pesquisadores comprovam que a exposição prolongada aos agrotóxicos causa ataques ao sistema nervoso, ao sistema imunológico, má formações, atinge a fertilidade e possui efeitos cancerígenos. Em 2013, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apontou que o uso indiscriminado de agrotóxicos está diretamente associado ao aumento dos transgênicos no campo. Não à toa, o Brasil responde a 20% do consumo mundial total desses venenos.
 
Por isso, Melgarejo afirma que o Brasil não precisa investir tanto quanto vem investido em pesquisas a transgênicos se, na própria Embrapa, há linhas excelentes de pesquisas da produção orgânica, e considerou que programas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), nos quais se estimula a agricultura orgânica e o consumo dos alimentos puros, são muito mais úteis do que alimentos transgênicos, a exemplo da nova variedade de alface criada pela empresa brasileira.



Na corrida do lançamento de novas variedades genéticas, Melgarejo opinou que a notoriedade entre os pesquisadores também é um tema que precisa ser discutido. Como afirmou, o fato de a Embrapa poder ser a primeira a apresentar o feijão transgênico pode ter sido um dos motivos que fizeram com que a empresa não desse tanta importância para estudos nutricionais em longo prazo.
 
Em junho passado, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) encaminhou à presidente Dilma Rousseff  uma carta em que destaca os problemas causados nas lavouras de todo o mundo por conta dos transgênicos ou Organismos Geneticamente Modificados (OGM) e dos agrotóxicos.



Especificamente sobre a questão das sementes, o Consea traz um resultado alarmante: somente a transnacional Monsanto, detém 46% das variedades de sementes transgênicas no Brasil, e a empresa divulgou, em 2012, a previsão de que 70% da soja colhida no Brasil fosse derivada de suas sementes.



Os dados causam preocupação ao Consea, uma vez que o setor público tem sua presença cada vez mais achatada no mercado de sementes, se comparado às grandes empresas, e para o conselho há a necessidade da maior atuação desse setor no acesso às sementes, para que este se contraponha às multinacionais, o que seria, segundo a carta, uma forma de aumentar a disponibilidade de sementes convencionais frente ao aumento de variedade de transgênicos ofertada.
 
A nova variedade de alface da Embrapa está prevista para chegar à mesa dos brasileiros apenas no ano de 2021, e o pesquisador critica que, a partir de então, já se crie a demanda por conta da expectativa positiva gerada pelo produto, a chamada demanda induzida. O marketing de aceitação, afirma, já está sendo criado desde agora. Apesar de não descartar que a biotecnologia tenha grandes possibilidades de ajudar a humanidade, Melgarejo aponta que esse campo científico está tomado com a produção de alimentos transgênicos.

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